Início » Um Colecionador de Histórias e o Grande Prémio de Macau

Um Colecionador de Histórias e o Grande Prémio de Macau

Philip Newsome, escritor inglês, publicou recentemente o “Macau Grand Prix: Photographs 1954-2023”, à venda no Museu do Grande Prémio de Macau. Este novo livro mantem a tradição que começou em 1992, celebrando cada década do evento. Ao nosso jornal, o autor explica como criou um arquivo que praticamente não existia e recorda o “amor à primeira vista”

Plataforma Studio
Philip Newsome

Philip Newsome, escritor inglês, publicou recentemente o “Macau Grand Prix: Photographs 1954-2023”

Não havia quase nada de arquivos referentes à história do Grande Prémio. Acho que ninguém se tinha lembrado de fazer.

Já vão uns quantos desde o seu primeiro livro sobre a prova, em 1992, com o título “Colour and Noise”. Como os que se seguiram, retrata a história do Grande Prémio de Macau desde o seu início. “Não havia quase nada de arquivos referentes à história do Grande Prémio. Acho que ninguém se tinha lembrado de fazer”, diz ao PLATAFORMA.

Esta sua fixação pelo Grande Prémio de Macau começou estava ainda a viver no Reino Unido. Em 1983, a vitória na F3 do piloto brasileiro Ayrton Senna no Circuito da Guia chegou às redações inglesas do desporto motorizado e despertou a curiosidade no escritor. “Por alguma razão, a ideia desta corrida, realizada no final da época num local exótico e distante, atraiu-me e pensei que um dia gostaria de a ver pessoalmente.” Dois anos mais tarde, em 1985, “tive a oportunidade de visitar um amigo que estava a trabalhar em Hong Kong e vim em novembro para poder assistir ao GPM. Foi tudo o que eu esperava que fosse. Foi amor à primeira vista e o início de uma relação que dura até aos dias de hoje”.

[As fotografias dos anos 50] mostram uma Macau muito diferente daquela que conhecemos. Os juncos de pesca chineses formam um pano de fundo que só pode ser Macau.

No ano seguinte, em 1986, foi trabalhar para Hong Kong e “quase de imediato” começou a debruçar-se sobre a história do Grande Prémio de Macau. “Coloquei um anúnico na imprensa local a pedir que quem tivesse participado nas primeiras corridas entrasse em contacto.

Recebi apenas uma chamada, mas foi de Roger Pennels”, piloto que ficara em ‘pole position’ precisamente no primeiro ano da prova, em 1954. “Contou-me uma série de histórias e trouxe-me uma caixa com fotografias das primeiras duas ou três edições do GPM. Foi como descobrir um tesouro escondido”, recorda.

Roger ainda mantinha o contacto com vários dos pilotos com quem partilhou a pista e, “devagar”, Newsome foi-se encontrando com alguns em Hong Kong, Reino Unido e Austrália. Um desses contactos foi a viúva de Paul Dutoit, amplamente considerado como o fundador do GPM. “Tal como o Roger, deu-me acesso a inúmeras fotografias e outros documentos dos primeiros dias do GPM.”

O mesmo entusiasmo

O ADN essencial mantém-se inalterado. O traçado e a natureza do circuito representam um desafio tão grande como representavam para os pilotos há quatro décadas.

A última obra de Newsome recorda 70 anos de história, ininterrupta e contínua. Para o autor, “a sensação é hoje diferente daquela que tinha” quando veio pela primeira vez. Mas o crescimento da prova não retirou aquilo que é a sua identidade. “O ADN essencial mantém-se inalterado. O traçado e a natureza do circuito representam um desafio tão grande como representavam para os pilotos há quatro décadas e, na verdade, desde o primeiro GPM. O que mudou foi Macau em si. Quando visitei pela primeira vez, era um local bastante adormecido, com apenas alguns hotéis. Entretanto, foi transformada numa metrópole brilhante, um centro de negócios e entretenimento.”

Significa que a prova é “talvez mais polida”, continuando, contudo, a representar “um dos circuitos mais desafiantes do mundo”. Com o passar do tempo, e mutação da cidade e da prova, Newsome afirma que “o entusiamo continua a ser o mesmo” quando chega a Macau para o fim de semana de corridas.

Aceitando o nosso pedido de destacar algumas das fotografias que figuram no novo livro, Newsome diz que, “apesar de todas as eras serem especiais à sua maneira”, a década de 50 é a sua favorita. “Mostram uma Macau muito diferente daquela que conhecemos. Os juncos de pesca chineses formam um pano de fundo que só pode ser Macau”, referindo também “os edifícios baixos e caminhos poeirentos”.

Um momento seminal na longa e ilustre história do Grande Prémio de Macau, quando o diretor da Theodore Racing, Teddy Yip (à direita), felicita Ayrton Senna (à esquerda) imediatamente após a vitória dominante do brasileiro (1983)

O ano de 1983 – vitória de Ayrton Senna – marca para Newsome a edição que mudou o estauto do Grande Prémio de Macau aos olhos da comunidade internacional. Agora, olha para a estreia da Taça do Mundo de FR da FIA como uma prova que pode ter o mesmo impacto.

“Penso que é muito promissora. Os carros de F3 dos últimos anos têm-se tornado cada vez maiores e mais potentes e não se adequam ao Circuito da Guia. Os carros de Fórmula Regional parecem mais adequados à pista e, de certa forma, são um regresso aos carros que Ayrton Senna e Michael Schumacher conduziram aqui. Vamos ver, mas tenho esperança que esta mudança seja vista da mesma forma que a introdução da F3 em 1983.”

O PLATAFORMA preparou uma reportagem especial sobre o 71º Grande Prémio de Macau. Clique aqui para explorar as histórias.

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!