Questionado pelos jornalistas na Casa Branca, Biden disse estar confiante de que o encontro será um sucesso, antecipando que os dois países podem voltar às “relações normais”, se os seus líderes puderem conversar telefonicamente quando houver uma crise.
“Não estamos a tentar dissociar-nos da China. O que estamos a tentar fazer é mudar a relação para uma fase melhor”, sublinhou Biden.
O líder norte-americano reconheceu que a China tem problemas económicos e que uma melhoria nos salários dos trabalhadores chineses seria “benéfica para todos”, mas avisou que isso não pode ser alcançado à custa da violação das regras comerciais.
Biden e Xi reúnem presencialmente na quarta-feira em São Francisco, no estado norte-americano da Califórnia, no âmbito da cimeira do fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC).
Os dois líderes reuniram-se pela última vez há apenas um ano, durante a cimeira do G20 em Bali (Indonésia), onde concordaram em manter contactos regulares após anos de deterioração na relação bilateral devido a divergências sobre temas como a autonomia de Taiwan, as atividades militares no Mar do Sul da China ou as relações comerciais.
A tensa relação entre os dois países escalou em fevereiro passado, quando Washington acusou Pequim de ter enviado um balão espião para o espaço aéreo dos EUA.
Desde junho, os Estados Unidos e a China têm tentado reconstruir os canais de comunicação com diversas reuniões, como a viagem a Pequim do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e a do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, a Washington.
A reunião dos líderes dos Estados Unidos e da China, quarta-feira à margem do fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), é no culminar de cinco meses de diálogo entre altos funcionários dos dois países.
O primeiro encontro entre Joe Biden e Xi Jinping no espaço de um ano decorre em São Francisco. Uma deslocação a Washington seria politicamente inviável, pelo que a cimeira da APEC oferece ao líder chinês a oportunidade de reunir com Biden em solo norte-americano.
A última visita de Xi aos EUA ocorreu em 2017. Biden não visitou a China desde que assumiu a presidência, em janeiro de 2021.
Uma série de reuniões entre representantes dos dois governos nos últimos meses indica, porém, o desejo de Washington e Pequim de estabilizar a relação e prevenir um desfecho que muitos especialistas consideram inevitável: a Armadilha de Tucídides, na qual a rápida ascensão de uma nova potência coloca em risco o equilíbrio de poder estabelecido, gerando medo e insegurança na potência dominante, frequentemente resultando em confronto.
O encontro entre Biden e Xi em Bali, no ano passado, à margem da cimeira do G20, visou já reduzir as tensões entre as duas potências. Mas, cerca de dois meses a seguir, a passagem de um balão chinês pelo espaço aéreo dos EUA levou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, a cancelar uma visita a Pequim. Washington disse tratar-se de um “balão de espionagem”, enquanto Pequim afirmou ser um “balão meteorológico” e acusou os EUA de “histeria”.
Em maio passado, o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse ao chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, numa reunião em Viena, que os EUA queriam ultrapassar aquele incidente. No mês seguinte, Blinken viajou para Pequim, onde reuniu com Xi e Wang, na primeira de quatro visitas à China de altos funcionários da administração norte-americana no espaço de dois meses.
A secretária do Tesouro, Janet Yellen, a secretária do Comércio, Gina Raimondo, e o enviado especial para o Clima, John Kerry, visitaram a seguir o país asiático. Em setembro passado, Sullivan e Wang voltaram a reunir em Malta para 12 horas de conversações.
No mês seguinte, Xi recebeu em Pequim uma delegação do Senado dos EUA chefiada pelo líder da maioria, Chuck Schumer. O Presidente chinês afirmou então que a relação China-EUA é “determinante para o futuro da humanidade”.
No final de outubro, Xi recebeu o governador da Califórnia, Gavin Newsom, que visitou o país asiático para aprofundar a cooperação no âmbito do Clima. Na mesma altura, Biden recebeu Wang Yi em Washington. O chefe da diplomacia chinesa reuniu também com Sullivan e Blinken.
Outras visitas e eventos de caráter oficioso indicaram também o ‘descongelamento’ das relações, incluindo o encontro do vice-presidente da China, Han Zheng, com dois veteranos norte-americanos que combateram ao lado da China durante a Segunda Guerra Mundial, ou a digressão pela China da Companhia de Balet Americana.
Porém, uma sequência de eventos e decisões políticas expôs também a debilidade e o caráter competitivo da relação.
No Mar do Sul da China, que Pequim reclama quase na totalidade e onde o Exército norte-americano conduz regularmente operações denominadas “liberdade de navegação”, despiques entre aeronaves militares e navios de guerra dos dois países tornaram-se mais frequentes.
A administração de Biden reforçou também as vendas de armamento a Taiwan, território que Pequim reclama como uma província sua e contra o qual ameaça usar a força, para alcançar a reunificação. Os EUA reforçaram também as sanções contra empresas chinesas, visando limitar o acesso a ‘chips’ (semicondutores) avançados, componentes essenciais para a produção de alta tecnologia.
“As expectativas para o encontro são baixas”, reconheceu Jude Blanchette, presidente do Departamento para Estudos da China no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um grupo de reflexão (‘think tank’) com sede em Washington. “O ambiente continua muito pesado”, notou.
Plataforma com Lusa