Mais de três anos e meio depois de o vírus SARS-CoV-2, detetado pela primeira vez na província de Wuhan, na China, ter invadido o resto do mundo, há uma questão que continua em aberto: qual a sua origem? É verdade que, em 2021, a China permitiu a entrada no país de uma equipa de cientistas indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que, juntamente com cientistas locais, investigassem a origem do novo coronavírus, mas até agora não há uma certeza.
Na altura, esta equipa da OMS tornou público não ter tido “acesso total” à informação, mas produziu conclusões, considerando não haver evidências que provassem que a origem estaria “na fuga de um laboratório” na cidade onde este tipo de vírus estava a ser estudado, privilegiando antes a hipótese de este coronavírus ter sido transmitido aos seres humanos por um animal que atuou como intermediário entre o morcego e os seres humanos, possivelmente num mercado da cidade chinesa.
Tempos depois da divulgação destas conclusões, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, veio declarar que “todas as hipóteses continuavam em cima da mesa”.
O assunto parecia estar esquecido, até porque a evolução da doença está mais controlada com a existência das vacinas e porque a própria OMS considerou estarem reunidas as condições para que se decretasse com segurança o fim da pandemia, mas novas declarações do diretor-geral da organização, neste fim-de-semana, numa entrevista ao Financial Times, voltaram a surpreender.
“Estamos a pressionar a China para que forneça acesso total [à informação] e estamos a pedir aos países que abordem o assunto nas suas reuniões bilaterais [para encorajar Pequim a cooperar]”, afirmou. O que terá levado a OMS a voltar ao assunto, ao fim de tanto tempo? Tedros Adhanom explicou que tal aconteceu porque, até à data, “a comunidade internacional não conseguiu determinar com certeza a origem da covid-19” e, além disso, a OMS não irá desistir dessa investigação em Wuhan.
Na entrevista explicava que “a OMS já pediu à China, por escrito, que forneça informações e estamos prontos a enviar uma equipa, se nos autorizarem a fazê-lo”. Insistindo: “Pedimos à China que seja transparente na partilha de dados, que efetue as investigações necessárias e que partilhe os resultados”.
É difícil encontrar explicação para o regresso ao tema

Wuhan foi a cidade chinesa onde surgiram os casos de Covid-19
Para o infecciologista português António Silva Graça, que tem acompanhado e estudado a evolução do SARS-CoV-2 e da covid-19, “é difícil encontrar uma explicação para se estar agora, depois de tanto tempo, a insistir num tema que já foi tratado previamente”. A não ser que haja “outras razões que não sanitárias por detrás neste momento”, porque, explica, tendo em conta a situação atual, “parece-me mais importante criar condições para que se possa fazer vigilância e um controlo rigoroso sobre o trabalho que é feito em laboratório com agentes biológicos críticos. Este controlo não se faz e deveria ser feito por entidades competentes, como a OMS”.
Silva Graça sublinha que, “independentemente da causa que esteve na origem da pandemia, é importante agora que se tomem medidas para haver uma maior vigilância e controlo em relação a alguma situações”. “Por exemplo, sabemos que alguns países têm hábitos culturais de consumo de animais que podem ser transmissores de vírus. O que estão estes países a fazer do ponto de vista da vigilância na cadeia alimentar para evitar que este tipo de situação volte a acontecer no futuro? A minha preocupação é esta, não tanto saber a origem do vírus”, diz.
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