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Câmara Luso-Chinesa prepara ligação direta a Xangai

Vitor Quintã

Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa quer inaugurar, já em 2022, a primeira delegação na China continental. E uma das missões será sensibilizar as autoridades chinesas para as dificuldades vividas pelos empresários portugueses que querem viajar para a China. 

“A luz ao fundo do túnel ainda parece estar um pouco distante”, lamenta Diogo Garcês Reis. Desde dezembro de 2019 que o único advogado português radicado em Xangai não sai da China. Com a pandemia da Covid-19 a fazer já mais de 4,7 milhões de mortos em todo o mundo, a China não relaxa as restrições impostas nas fronteiras. Com os Jogos Olímpicos de Inverno marcados para fevereiro, em Pequim, “não parece que haja grandes alterações até meados do próximo ano”, disse Diogo ao PLATAFORMA. 

A 6.700 quilómetros de distância, em Portugal, o secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC) “gostava muito de ir à China”. À hesitação e sorriso do jornalista do PLATAFORMA, Bernardo Mendia responde: “Pois, eu sei que é muito difícil”. Mas uma nova esperança une os dois portugueses. Diogo Garcês Reis é o “chief representative”, o representante legal de uma delegação que a CCILC quer abrir em Xangai, o principal centro económico da China. 

Diogo Garcês Reis: “Na prática está muito, muito difícil para qualquer empresa trazer alguém que já não tivesse um visto na China” 

Um dos papéis da futura delegação será, “na medida das suas possibilidades, exercer influência naquilo que são os interesses dos seus associados”, lembra o advogado. Bernardo Mendia acredita que a iniciativa pode ajudar “a sensibilizar as autoridades chinesas para as dificuldades que as empresas portuguesas que precisam de ir à China sentem”. O Governo de Lisboa tem feito trabalho neste sentido, “mas quanto mais entidades num plano institucional se puderem associar a este tipo de influência, melhor será,” diz Diogo Garcês Reis. Obter um visto de negócios ou de trabalho, “em tese é possível, mas depois na prática está muito, muito difícil para qualquer empresa trazer alguém que já não tivesse um visto na China”, diz o advogado. 

Diogo Garcês Reis, representante legal de uma delegação que a CCILC quer abrir em Xangai.

Leia mais sobre ações da CCILC em: Roadshow virtual estreita relações

O risco de não voltar 

O próximo obstáculo são os voos, uma vez que atualmente apenas é possível viajar entre Portugal e a China na ligação direta da Beijing Capital Airlines entre Lisboa e Xi’an. “Os preços são altíssimos” e os lugares nem sempre garantidos, lamenta Diogo. Houve ainda casos de portugueses cujos voos de regresso “estavam cheios ou a prioridade foi dada a cidadãos chineses”, acrescenta. “Era bom, sem dúvida, que nos fosse permitido viajar com mais companhias”, diz Bernardo Mendia. 

Após uma quarentena obrigatória de duas semanas num hotel em Xi’an, segue-se um período extra de quarentena que depende consoante o destino final do viajante. A grande dificuldade, acrescenta o secretário-geral da CCILC, prende-se com a “constante alteração das regras”. As autoridades chinesas “vão-se ajustando às informações do dia, isso é compreensível, mas claro que torna muito difícil, para quem tem de viajar para a China, fazer também o mesmo ajuste”, diz. 

Bernardo Mendia: “Estamos a falar de 12 entidades que têm de aprovar do lado chinês” 

Na direção oposta, refere Bernardo Mendia, também há muitos empresários portugueses radicados na China desde o início da pandemia que “não visitam a família”. “Mesmo que tenham um visto válido, o receio deles é que, vindo a Portugal, é completamente imprevisível quais as condições no momento do regresso à China”, sublinha. Um medo partilhado por Diogo Garcês Reis: “Tem sido muito difícil não poder estar com a família, mas pouca gente está disposta a correr o risco bastante grande de não conseguir voltar”. 

À espera de aprovação 

A criação de uma delegação em Xangai é “um projeto muitíssimo antigo”, que já passou pelas mãos de várias direções da CCILC, diz Bernardo Mendia, nomeado em julho para liderar a associação. A diferença foi “uma grande ajuda” vinda do distrito de Qingpu, em Xangai, que oferece “uma plataforma própria” para as câmaras de comércio estrangeiras”, explica o empresário. “É uma facilidade que não podemos deixar de aproveitar neste momento”, acrescenta. O que não quer dizer que o processo seja fácil. A CCILC submeteu toda a documentação exigida “há um mês e meio”, mas “estamos a falar de 12 entidades que têm de aprovar do lado chinês”, sublinha Bernardo Mendia. 

“O ‘feedback’ que vamos tendo é que tudo parece estar em conformidade”, diz Diogo Garcês Reis, que espera ter a delegação constituída “daqui a alguns meses”. Bernardo Mendia está a apontar para uma inauguração antes da edição de 2022 da Exposição Internacional de Importação da China, que decorre anualmente, normalmente em novembro, também no distrito de Qingpu. A delegação vai estar no terreno para facilitar a vida e oferecer “um apoio mais local” às empresas portuguesas que queiram apostar no mercado chinês, explica Diogo Garcês Reis. Um apoio ainda mais vital num contexto de pandemia. 

Atrair investidores chineses 

A CCILC tem desde 1992 uma delegação em Macau. Mas, lembra o advogado, “na prática estamos a falar de jurisdições diferentes, não consegue servir o acesso à China continental da mesma forma”. Para algumas empresas portuguesas, Macau continua a ser “super importante”, sublinha Bernardo Mendia. Mas para outras, “já não faz sentido e interessa ir diretamente para a China”, acrescenta o secretário-geral da CCILC. Aliás, a associação admite que a futura delegação de Xangai será também o primeiro passo para o estabelecimento oficial de uma Câmara de Comércio e Indústria de Portugal na China (ver caixa). 

Por outro lado, pode ser muito importante para os investidores chineses que estejam interessados em Portugal terem “um primeiro ponto de contacto” na China, diz Bernardo Mendia, que já viveu em Hong Kong. “É um sinal de que estamos a dar importância, que queremos estar perto. Isto tem a ver com respeito, algo que eles apreciam bastante”, explica o empresário. 

Diogo Garcês Reis admite que tem havido “algum abrandamento” nos grandes investimentos chineses em Portugal, nomeadamente por parte de grupos estatais. Mas o advogado acredita que há ainda muitas empresas chinesas “com alguma dimensão” que veem em Portugal oportunidades para um investimento mais diversificado. Uma das missões da futura delegação será proporcionar ocasiões onde empresários portugueses e chineses se possam encontrar, e onde se possa promover o mercado luso. “Quantas mais se criarem, melhor para Portugal”, diz Bernardo Mendia 

Um sonho “difícil, mas não impossível” 

A criação de uma Câmara de Comércio e Indústria de Portugal na China é “um processo que também já se encontra bastante avançado, com projeto e parceiros identificados, a anunciar num futuro próximo”, refere a CCILC num comunicado divulgado no mês passado. Um sonho que “também existe há muitos anos”, diz Bernardo Mendia, e que começa finalmente a sair do papel. “Já há muita coisa feita, incluindo uma proposta de estatutos”, acrescenta. 

O secretário-geral da CCILC prometeu “dar todo o apoio” ao novo projeto, mas admite que ainda não é certo que consiga reunir todos os requisitos “muito exigentes” para a criação de câmaras de comércio estrangeiras. Um dos critérios é a participação de 50 empresas com capitais estrangeiros. O problema é que muitas companhias portuguesas se constituíram na China como empresas de direito chinês, “o que afasta uma série delas”, lamenta Bernardo Mendia. “O grau de dificuldade é grande, mas não impossível. Está-se a trabalhar afincadamente”, promete o empresário. 

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