Cerca de metade dos 14 biliões (milhão de milhões) de dólares (12 biliões de euros) gastos pelo Pentágono desde 11 de setembro de 2001 foi para empresas da área da Defesa, apurou um estudo divulgado na segunda-feira.
Enquanto muito dos gastos do Pentágono foi para os fabricantes de armas, esta investigação foi a mais recente a apontar que a dependência dos vendedores de armas no cumprimento dos deveres em zona de guerra contribuiu para os fracassos nas missões, em particular no Afeganistão.
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Nas guerras subsequentes aos ataques terroristas de 11 de setembro, as empresas norte-americanas contratadas pelo Departamento da Defesa geriam a logística em zonas de guerra, como colunas motorizadas de abastecimento de combustível ou filas de abastecimento alimentar, bem como trabalho crucial para a missão como formar e equipar as forças de segurança afegãs – forças estas que colapsaram no último mês enquanto os talibã dominavam o país.
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Em poucas semanas, e inclusive antes de os militares dos EUA terem completado a sua retirada do Afeganistão, os talibã derrotaram facilmente o governo e os militares afegãos, aos quais os EUA dedicaram 20 anos e biliões de dólares.
O presidente dos EUA, Joe Biden, acusou diretamente os próprios afegãos. “Demos-lhes todas as hipóteses”, disse no último mês. “O que não lhes pudemos fornecer foi a vontade de combater”.
Mas William Hartung, o autor do estudo que aponta os gastos do Pentágono, desenvolvido no âmbito do projeto Custos da Guerra, da Universidade de Brown e do Centro de Política Internacional (CPI), e outros salientaram que é essencial que os EUA examinem o papel que a dependência dos parceiros privados teve nas guerras posteriores ao 11 de setembro.
No Afeganistão, isto inclui os privados que compraram proteção aos senhores da guerra, inclusive aos talibã, e a insistência do Departamento da Defesa em equipar a força aérea afegã com complexos helicópteros Blackhawk e outras aeronaves que poucos, além dos privados norte-americanos, sabem manter.
“Mesmo que fosse só pelo dinheiro, isto já seria ultrajante o suficiente”, considerou Hartung, que dirige o programa de armas e segurança no CPI, a propósito das situações em que a dependência manifestada pelo Pentágono em relação aos privados deu mau resultado. “Mas o facto de (esta dependência) ter minado a missão e colocado os militares em risco é ainda mais ultrajante”, acentuou.
No início deste ano, antes de Biden ter começado a retirada dos EUA do Afeganistão, havia mais privados norte-americanos contratados no Afeganistão e Iraque do que militares dos EUA.
Outro estudo do Custos da Guerra apurou que em todos os conflitos posteriores ao 11 de setembro morreram cerca de sete mil militares e oito mil contratados privados, também designados por mercenários.
Uma porta-voz do Conselho de Serviços Profissionais (Professional Services Council), que representa as empresas que contratam com o governo na área da Defesa, mencionou um número inferior de contratados mortos desde 2001, abaixo de quatro mil.
Mencionou também uma declaração do presidente da organização, David J. Berteau, feita em agosto, segundo o qual, “durante quase duas décadas, os contratados pelo governo forneceram um apoio alargado e essencial às forças dos EUA e aliadas, aos militares afegãos e outros elementos do governo afegão e à assistência humanitária e para o desenvolvimento económico”.
Os dirigentes dos EUA, depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, recorreram aos contratados para preencher uma parte essencial da sua resposta militar.
O recurso começou com o então vice-presidente Dick Cheney, o antigo presidente executivo da Halliburton. Esta empresa recebeu mais de 30 mil milhões de dólares para construir e gerir bases, alimentar tropas e fazer outras tarefas no Iraque e Afeganistão em 2008, apontou-se no estudo sobre os gastos do Pentágono.
Cheney e os fornecedores dos serviços de guerra e defesa argumentaram que o recurso aos privados, para estes fazerem as tarefas que os militares faziam nas guerras anteriores, permitiria um efetivo militar norte-americano mais pequeno, mais eficiente e mais barato.
Em 2010, as despesas do Pentágono aumentaram em mais de um terço, devido ao envolvimento dos EUA em duas guerras simultâneas, no Afeganistão e no Iraque.
Nos EUA depois do 11 de setembro, os políticos acompanharam o apoio crescente aos militares com o país mais sensível às questões de segurança.
“Qualquer congressista que não vote a favor dos fundos que precisamos para defender este país, vai ter de procurar um novo emprego depois de novembro”, dizia o então vice-presidente da Boeing, Harry Stonecipher, em declarações ao The Wall Street Journal no mês seguinte ao dos ataques, recordaram os autores do estudo.
E cerca de um terço dos contratos do Pentágono foram feitos com cinco fabricantes de armas. No último ano orçamental, só o dinheiro recebido pela Lockheed Martin dos contratos com o Pentágono superou os orçamentos do Departamento de Estado e da Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em Inglês), sempre segundo o estudo.
O Pentágono fez mais contratos do que podia controlar, têm defendido congressistas e investigadores especiais do governo.