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Ensaio cubano de vacina infantil anticovid chega à terceira dose

Carlos Batista

Com a visita de palhaços, a espera é uma festa para Agatha, uma menina de sete anos que recebeu nesta terça-feira (24) a terceira dose da vacina anticovid Soberana, como parte de um ensaio clínico pediátrico, com o qual Cuba soma recursos para enfrentar a situação crítica provocada pela pandemia

Ao lado dela, sua irmã Amanda Medina, adolescente de 16 anos que participa dos ensaios e almeja estudar arquitetura, observa-a feliz e se lembra de outras crianças “que sofreram” de covid-19 e ainda têm algumas sequelas.

Por isso “queríamos estar neste ensaio clínico, para que não aconteça mais”, disse à AFP no hospital pediátrico Juan Manuel Márquez, em Havana, onde o teste é realizado com 350 crianças e jovens de três a 18 anos.

O governo cubano disse que as crianças, que deixaram de frequentar as aulas presenciais em janeiro, voltarão à escola quando houver condições.

Este hospital recebeu nesta terça-feira uma doação de suprimentos médicos da Associação de Cubanos do Reino Unido.

Agatha toca o ombro esquerdo para mostrar onde recebeu a injeção de Soberana Plus, completando assim o processo de três doses das vacinas cubanas. A menina foi imunizada primeiro com duas doses de Soberana 02.

Cuba, único país latino-americano com vacinas próprias, tem a Abdala, além da Soberana 02 e da Soberana Plus, que até agora não receberam o aval da OMS.

Até o último domingo, 3,12 milhões de pessoas receberam as três doses de Soberana ou Abdala. As autoridades da ilha, de 11,2 milhões de habitantes, esperam concluir a imunização de toda a população apta a ser vacinada até o final do ano.

Em maio passado, quando a campanha começou, o governo havia proposto atingir 70% dos vacinados neste mês de agosto.

“Acompanhamento rígido”

“Há um acompanhamento rígido dessas crianças durante o processo de recrutamento, acompanhamento, estudo posterior (…) Temos a convicção de que é um sucesso, é um sonho realizado para nossos filhos”, declarou Reynaldo Cuba, pesquisadora-chefe do ensaio clínico.

Para as autoridades sanitárias cubanas “é muito importante tentar proteger as crianças contra essa doença”, disse o colega Yariset Delgado.

“No nosso país há crianças que atingiram estados críticos, há crianças que morreram infelizmente” ou ficaram com sequelas. “Dar essa proteção às crianças é muito importante para nós como cientistas”, acrescentou.

Até o início de agosto, 95,1 mil menores foram infectados em Cuba e sete morreram, segundo o Ministério da Saúde Pública do país.

Esses números estimularam os ensaios pediátricos, num momento em  que a ilha sofre com outro surto da doença. Desde que os primeiros casos foram registrados, em março do ano passado, o país soma 602.526 infecções e 4.710 mortes.

Os ensaios pediátricos também estão em andamento em outros países. O laboratório chinês Sinovac anunciou em junho que o uso da vacina foi aprovado em crianças de três a 17 anos, embora não tenha definido quando o imunizante começará a ser aplicado nessa faixa etária.

Nos Estados Unidos, a vacina está disponível sob autorização de uso de emergência para crianças de 12 a 15 anos, mas os médicos podem prescrevê-la para menores de 12 anos se acharem que será benéfica.

A comissão reguladora de medicamentos dos Estados Unidos recomendou não usar o imunizante em crianças até que os ensaios clínicos apresentem seus dados, que são esperados ainda este ano.

No final de julho, Israel autorizou a vacina para crianças entre cinco e 11 anos de idade que são suscetíveis a complicações graves ligadas à covid-19.

“Fé nos cientistas”

Ana María Cordero, uma avó aposentada de 69 anos que acompanha Agatha e Amanda, confia na vacinação pediátrica porque seu genro trabalha no Instituto Finlay de Vacinas, criador da Soberana.

“Temos muita fé nos cientistas cubanos que tiveram muito progresso, porque também fomos muito bem educados com o pai da menina”, explicou à AFP.

Em um leito vizinho, os irmãos Andrés (5) e Adrián (4) brincam enquanto aguardam a vistoria médica pós-vacinação.

“Nossos médicos fizeram todo o possível e estamos aqui hoje por causa deles, desse teste, dessa pesquisa que fizeram”, afirma a mãe das crianças, Liset Leyva, uma autônoma de 28 anos.

O doutor acompanha com os olhos o movimento da sala, confiante no sucesso do teste clínico. Questionado sobre quando será publicado o resultado e a aprovação, diz: “isso não depende mais da gente”, e sim das agências reguladoras.

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