Uma das líderes do movimento pró-democracia de Hong Kong foi hoje detida, no mesmo dia em que se assinala o 32.º aniversário dos protestos de Tiananmen, cuja comemoração no território foi proibida pelas autoridades.
Quatro pessoas, alegadamente polícias à paisana, que se encontravam em frente ao edifício de escritórios de Chow Hang-tun, situado no centro da cidade, detiveram a advogada, que foi levada num automóvel preto, de acordo com um repórter da agência de notícias France-Presse (AFP).
Chow foi detida por razões de ordem pública, disse uma fonte policial à AFP.
A advogada, de 37 anos, é um dos vice-presidentes da Aliança de Hong Kong, que organizava todos os anos uma vigília no parque Vitória em memória das vítimas do chamado “massacre de Tiananmen”, ocorrido 04 de junho de 1989 e que Pequim não reconhece.
Esta vigília foi proibida pelo segundo ano consecutivo pela polícia de Hong Kong, com as autoridades a citarem medidas de prevenção devido à pandemia da covid-19, embora Hong Kong não registe casos locais da doença há mais de um mês.
Desde o início da pandemia da covid-19, a região administrativa especial chinesa registou 210 mortos e 11.848 casos da doença.
Na sequência da proibição, a Aliança de Hong Kong anunciou que não ia realizar a vigília e Chow disse aos jornalistas que planeava deslocar-se, a título pessoal, ao parque Vitória hoje à noite.
No ano passado, a vigília também foi proibida pelas autoridades de Hong Kong devido à pandemia. No entanto, dezenas de milhares de pessoas desafiaram a proibição e foram tomadas medidas legais contra 24 elementos do movimento pró-democracia no território.
Em 06 de maio, o ativista de Hong Kong Joshua Wong foi condenado a dez meses de prisão por participar em 04 de junho de 2020 na vigília anual em memória das vítimas de Tiananmen.
Para o tribunal, “a Lei Básica [que funciona como uma mini-Constituição de Hong Kong] garante a liberdade de reunião, mas também prevê que esta liberdade e estes direitos não são absolutos e estão sujeitos a restrições, independentemente do estatuto dos participantes”.
Na decisão, o juiz afirmou não poder ignorar que, na altura da vigília, Hong Kong ainda estava a sofrer o impacto das manifestações antigovernamentais que tomaram as ruas da cidade semiautónoma chinesa em 2019.
A vigília em Hong Kong, cidade que em 1989 acolheu um grande número de manifestantes que fugiram à repressão na China continental, é a maior comemoração mundial dos protestos de Tiananmen. A vigília realizava-se em Hong Kong todos os 04 de junho desde 1990.
Pela primeira vez em 30 anos, as autoridades alegaram o risco pandémico para proibir a vigília em Hong Kong, tal como em Macau, os únicos locais da China onde as autoridades têm permitido a realização de concentrações para recordar a morte de estudantes que se juntaram em Pequim para exigir reformas democráticas.