O ministro da Cultura cabo-verdiano, Abraão Vicente, disse hoje que a entrega da candidatura do antigo Campo de Concentração do Tarrafal a Património da Humanidade, que foi adiada para 2022, foi agora suspensa por falta de verbas.
O governante fez o anúncio à imprensa, na cidade da Praia, depois de ser ouvido numa comissão especializada da Cultura no parlamento cabo-verdiano, explicando que a decisão tem a ver com o facto de o orçamento do Ministério para 2021 ter registado um corte de 120 milhões de escudos (1,08 milhões de euros).
Abraão Vicente disse que a esperança em conseguir mais verbas era com o aumento do limite da dívida pública, fixado em 3% do PIB, cuja proposta apresentada pelo Governo no parlamento de 4,5% foi chumbada na última sessão plenária.
Citado pela Inforpress, o ministro salientou que “sem o turismo, sem a economia nacional a funcionar a um ritmo suficiente”, 2021 será um ano de “imensa limitação” porque não há possibilidade de uma injeção extra de capital no Orçamento do Estado.
Neste sentido, afirmou que alguns projetos vão ter de parar, como é o caso do processo de candidatura do ex-Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago, a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Em outubro, o titular da pasta da Cultura de Cabo Verde disse que a entrega dessa candidatura, que estava prevista para o próximo ano, foi adiada para 2022, devido à pandemia do novo coronavírus.
“Neste momento é impossível, porque as obras atrasaram-se, os especialistas internacionais que fariam a equipa conjunta também não puderam vir, nós não assinámos em maio o acordo de cooperação com Portugal para assistência técnica, portanto, é algo que vai ter de ficar para 2021 começarmos o processo”, afirmou.
Neste momento, o antigo Campo de Concentração do Tarrafal está a receber obras de reabilitação, como o ministro a prever que tudo esteja pronto em “meados” deste mês.
A candidatura do antigo Campo de Concentração do Tarrafal a Património da Humanidade contará com o apoio de Portugal.
Situado na localidade de Chão Bom, o antigo Campo de Concentração do Tarrafal foi construído no ano de 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956.
Reabriu em 1962, com o nome de “Campo de Trabalho de Chão Bom”, destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Após a sua desativação, o complexo funcionou como centro de instrução militar e desde 2000 alberga o Museu da Resistência.
O espaço foi classificado Património Cultural Nacional em 2004 e integra a lista indicativa de Cabo Verde a património da UNESCO.
Ao todo, foram presas neste “campo da morte lenta” mais de 500 pessoas: 340 antifascistas e 230 anticolonialistas.