A diretora para África do projeto ACLED, Jasmine Opperman, alertou na quarta-feira para “o erro” do Governo de Moçambique em permitir a ocupação de Mocímboa da Praia por rebeldes, assinalando que há recrutamentos de “livre vontade”.
“Um dos maiores erros que o Governo fez foi permitir que os insurgentes ocupassem Mocímboa da Praia por um longo período de tempo, porque temos vistos novos recrutas a juntarem-se, e a juntarem-se de livre vontade”, disse Jasmine Opperman, do Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês), durante o seminário virtual “A segurança marítima pode virar a maré contra os insurgentes de Cabo Delgado”, organizado pelo Instituto de Estudos de Segurança (ISS África).
A especialista assinalou que “há uma perceção” de que o recrutamento é feito através de raptos, mas que no caso de Mocímboa da Praia, vila na província de Cabo Delgado, que tem sido alvo de ações de rebeldes fundamentalistas islâmicos, “isso não é o caso”.
Jasmine Opperman mostrou-se preocupada com a realização de operações de treino em território moçambicano, dadas por estrangeiros.
“Uma das informações que é muito perturbadora é que o [grupo extremista] Estado Islâmico enviou uma pessoa para Moçambique, até Cabo Delgado, para realizar treinos. É um dos aspetos mais perturbadores até agora”, disse a investigadora, especialista em contraterrorismo.
Para Opperman, é necessário “entender o que se passa” e que não se ignore “o aumento súbito da sofisticação da insurgência”.
A especialista sublinhou que há uma causa que “não é sobre ganância”, mas sim “uma identidade sobre um sistema de crença específico para alcançar certos objetivos”.
“Há combatentes que estão dispostos a morrer pela causa por que lutam, e é importante perceber isso”, destacou.
Opperman disse também que está a ser criada uma “coesão interna” através da violência.
“Isto [os ataques] não servem apenas para afastar os civis de Cabo Delgado, mas também para mandar uma mensagem aos novos recrutas que ‘se ousares sair, isto é o que te vai acontecer’”, afirmou a especialista.
É preciso lembrar que muitos dos que são raptados são pequenos rapazes, “facilmente doutrináveis”, acrescentou.
A diretora do projeto ACLED para África considerou também que a motivação dos atacantes “não é estática” e que Cabo Delgado já passou “a fase inicial de uma brutalidade indiscriminada”.
Opperman apontou que “há uma completa desintegração social em Cabo Delgado”, o que leva a que jovens se identifiquem com os rebeldes, e salientou não ver qualquer reconhecimento desta realidade “a nível nacional, regional, continental ou internacional”.
“O Governo precisa de olhar para as suas infraestruturas de segurança, de comunicação” e “de se abrir a uma total cooperação”, defendeu.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças classificadas como terroristas.
Há diferentes estimativas para o número de mortos, que vão de mil a duas mil vítimas.
Na semana passada, o primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, disse no parlamento que “as ações terroristas” já provocaram 435 mil deslocados internos.
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