Início Eleitos O que queremos, enquanto país e sociedade, aprender com a COVID-19?

O que queremos, enquanto país e sociedade, aprender com a COVID-19?

Bebiana CunhaBebiana Cunha

Partindo da crise – sanitária, económica, social e ambiental – que vivemos, fala-se numa fase pós-Covid-19 quando se deveria falar de um cenário “com” a Covid-19. E agora…?

44.000 cientistas indicam que Portugal se encontra no leque de 70 países a vermelho, isto é, países que têm que tomar novas medidas de combate ao surto rapidamente. Ao mesmo tempo, a grande maioria de nós necessita de retomar actividades profissionais por dependência dos rendimentos. Sem prejuízo de se debater o papel do trabalho na sociedade, importa planear politicamente como se irá garantir que não se atinge um ponto de não retorno na crise actual.

Na sociedade da informação e do hiperconsumismo mas também da empatia, da cooperação e do consumo consciente, como construímos um ponto de equilíbrio? Talvez partindo do início: a Covid-19 é um exemplo de surtos com que possivelmente teremos que lidar no futuro, resultantes da forma como depredamos o ambiente, como nos relacionamos com a biodiversidade e como não investimos na prevenção da doença, nem promovemos a saúde. Ao mesmo tempo permitimos que a nossa economia se mantenha com fragilidades e dependências que não nos salvaguardam. A actual realidade traz em si uma quebra com a normalidade instalada e tem levado cada vez mais pessoas a concluírem que não é a essa normalidade que querem voltar. Lembramos, a este propósito, as várias cartas de cientistas e diversas personalidades que têm apelado aos decisores políticos nesse sentido. Muitos de nós anseiam por políticas de “regresso a um futuro sustentável”. 

Antes desta crise, o índice de desenvolvimento humano em Portugal já evidenciava problemas acentuados de desigualdade, comparando-nos a países como EUA, Singapura e Coreia do Sul

Antes desta crise, o índice de desenvolvimento humano em Portugal já evidenciava problemas acentuados de desigualdade

Mas mais do que este despertar a que fomos sujeitos, importa perceber o caminho que queremos seguir enquanto sociedade e que aprendizagens tiramos da nossa convivência com a Covid-19. “Como é possível desenvolver uma economia num mundo em que produtos, serviços e conhecimento se tornaram globais?”, “Como fazê-lo com a perspetiva de que, caso não exista equilíbrio e sustentabilidade entre a economia e todos os que a compõem (pessoas, animais e natureza), os choques (pandemias, incêndios, desertificação) serão cada vez mais drásticos e prejudiciais?”, “Como fazê-lo num contexto em que existem organizações cujo objeto é naturalmente egoísta (a busca do lucro) com um crescente e já significativo poder sobre decisões políticas (lobbying, corrupção) e sobre os consumidores?”

Ora, acima de tudo numa altura em que sabemos que é preciso garantir respostas para todos os que perderam, importa garantir que aqueles que já pouco tinham, não passam a ser os que nada têm. Importa também garantir que se impulsiona a economia, apostando na produção local, na produção nacional em sectores estratégicos. Importa ainda assegurar que não ficamos tão dependentes do exterior, nomeadamente em sectores instáveis como o turismo, e que reinvestimos nele com uma visão sustentável, conscientes do seu potencial, nomeadamente ao nível do património natural e cultural. Não é muito difícil atentarmos nas políticas da Costa Rica ou na Nova Zelândia.

Nos desafios políticos que se avizinham, como o PEES e o Orçamento Suplementar, estaremos empenhados num plano estratégico de incentivo e de valorização do Ensino Superior, garantir profissionais especializados em saúde pública e que os profissionais de saúde mental e de nutrição também integram o SNS, apostando numa saúde de proximidade e preventiva. Lembrarmo-nos de Santa Bárbara apenas quando troveja não é uma boa solução! 

Ainda ao nível da educação, as desigualdades acentuaram-se e a transição digital tem que ser muito mais do que a aquisição de equipamentos. Também reinvindicamos o reforço de apoios às ONG e associações pelos direitos humanos, ambientais e de proteção animal, que continuamente se substituem àquelas que são as funções do Estado. 

Por fim, não posso deixar de referir que quaisquer investimentos estruturais do Estado, como é o caso da TAP, só serão aceitáveis quando o Governo cumprir as suas bandeiras do combate às alterações climáticas, exigindo contrapartidas ambientais.

*Deputada do Grupo Parlamentar do PAN (Portugal)

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