Lei Si Leng, responsável no Instituto do Desporto pela organização dos grandes eventos internacionais, lembra a tripla missão do IDM: primeiro, “promover a prática do desporto”; depois, “atrair mais turistas”, finalmente, “projetar a imagem de Macau no mundo”
– O Grande Prémio Mundial de Voleibol passa por Macau há muitos anos, embora com a interrupção do ano passado. Tem sido difícil manter esta prova? Todos os anos é preciso lutar para que ela volte, ou isso é natural para a Federação Internacional de Voleibol (FIVB)?
Lei Si Leng – A primeira vez que organizamos cá este torneio foi em 1994. Nessa altura não tínhamos muitos eventos do género e percebemos também que as pessoas gostavam muito do voleibol. Macau é pequeno e não temos por cá muitos praticantes, muito menos a este nível; por isso, estes torneios são também a oportunidade que a população tem de ver desporto ao mais alto nível. Por nós, desde que começamos quisemos sempre continuar e só não organizamos essa vez, no ano passado. Mas não fomos nós a decidir que não queríamos, foi a Federação.
– Porque razão?
Lei Si Leng – Houve mudanças na FIVB, que mudou mesmo de presidente. Quase todos os anos temos dois torneios, na mesma época e muito perto um do outro: Macau e Hong Kong. O ano passado a Federação entendeu que isso não fazia sentido e que era melhor fazê-lo de forma intercalar: um ano cá, outro lá. Decidiu-se então que começava por Hong Kong e estivemos um ano à espera para voltarmos a organizar o torneio. Afinal, quando chegou a nossa vez voltamos à solução antiga; ou seja, organizamos o evento no mesmo ano e Hong Kong não interrompeu a sua vez.
– Quanto tempo leva e quantas pessoas se envolvem numa organização deste caliber?
Lei Si Leng – Depende. Nós nunca paramos; estamos sempre em contacto com a associação cá de Macau e, através dela, com a Federação Internacional. A confirmação de que voltavamos a orgnizar o torneio chegou no outono do ano passado e começamos logo a trabalhar: escolhemos uma colega experiente para secretária-geral do evento, que começou a organizar planos, horários e logística. Entretanto nomeou-se uma comisssão organizadora. Aqui no IDM temos muitos funcionários, mas a maior parte está a tomar conta de instalações desportivas. As pessoas que podem estar diretamente ligadas aos eventos internacionais são muito poucas, mas conseguimos ajudarmo-nos uns aos outros e dividir tarefas. Sob a coordenação da comissão organizadora, cada um conhece o plano e sabe o seu papel.
– O formato do torneio é sempre o mesmo? Ou vai variando?
Lei Si Leng – Temos sempre quatro equipas e são todas tratadas da mesma maneira. É claro que quando vem a China há mais público e apostamos mais na promoção. Se houver condições, queremos mais atividades que aproximem os atletas do público. Nós sugerimos, mas a decisão é sempre das equipas.
– A China costuma estar disponível para essas atividades?
Lei Si Leng – Nós pedimos sempre, a todas as equipas. Mas normalmente a China participa mais. Sabem que Macau faz parte da China, têm cá muitos fãs, sentem-se parte da família e tentam aceitar o que pedimos.
– O que é que pediram este ano?
Lei Si Leng – Vamos ter um stand promocional, a partir do próximo dia 15, na Praça do Leal Senado. Estamos a convidar os atletas a passarem por lá e a interagirem com a população, que assim pode ver de perto as atletas.
– Em média, quantas pessoas assistem aos jogos?
Lei Si Leng – Depende das equipas, mas normalmente o pavilhão do Fórum está sempre cheio. Ainda por cima este ano as pessoas estão mais sedentas deste torneio, porque no ano passado não houve.
– Qual é a capacidade do Fórum?
Lei Si Leng – Cerca de 3.500 pessoas. Mas temos sempre de reservar uns 100 lugares, de acordo com as normas da Federação.
– A Federação decide as equipas que cá se deslocam? Ou nós pedimos sempre a China e o Brasil?
Lei Si Leng – A Federação tem a decisão final. Nós queremos sempre a China e o Brasil, mas isso depende dos calendários e das possibilidades de cada equipa estar presente. Também é verdade que temos o direito de não organizar o torneio se as equipas em competição não nos interessarem. Por outro lado, as próprias equipas sentem-se aqui em casa e pedem para cá vir.
– Como está a correr a venda de bilhetes?
Lei Si Leng – Muito bem. O último dia já esgotou. A venda online serve sobretudo as pessoas de fora de Macau. Para os cidadãos locais temos um acordo com a OK store e fazemos um desconto especial: bilhetes para os três dias – 150 patacas cada um – com desconto de 30 por cento.
– Para além dos bilhetes, conseguem bons patrocínios?
Lei Si Leng – Temos patrocínios, mas não muitos. A Federação impõe muitas restrições e não podemos comparar este evento, por exemplo, ao do Grande Prémio. Aí há muito espaço para vender publicidade; aqui temos apenas o Fórum e tudo tem de ser feito de acordo com o manual de exigência da Federação. O grande patrocinador é a Galaxy e não temos muito mais patrocínios.
– Quais são os efeitos do torneio para a projeção externa de Macau?
Lei Si Leng – Quem gosta de voleibol e acompanha estes torneios, facilmente os acompanha através do website da Federação, sabe que este torneio tem aqui lugar e segue as suas seleções favoritas. Em termos de promoção internacional, se compararmos outra vez com o Grande Prémio, as coisas voltam a ser diferentes. Fazemos a promoção com a ajuda da Direção do Serviços de Turismo e promovemos o evento também através da internet. Mas podemos fazer melhor e apostar mais na promoção internacional.
– Os direitos televisivos representam receitas importantes?
Lei Si Leng – Isso já não é conosco; é com a Federação. Isso envolve dinheiro e esse contratos já não têm nada a ver com Macau. É importante que se diga que nós não organizamos estes eventos a pensar no lucro. O primeiro objetivo é o de promover a prática do desporto; depois queremos atrair mais turistas e também projetar a imagem de Macau no mundo. Não queremos que lá fora se pense que Macau só tem casinos; é bom que saibam que temos muitos eventos desportivos, culturais e outros. Se este projeto fosse apenas para ganhar dinheiro, o IDM não estaria envolvido; para isso há empresas privadas com essa capacidade. A nossa ideia é outra; por isso estamos também agora a realizar a corrida dos Barcos Dragão, cuja organização é todos os anos considerada das melhores do mundo.
– Está satisfeita com os resultados do voleibol?
Lei Si Leng – Para além do sucesso junto da população, a nossa organização tem sido elogiada pela Federação, do ponto de vista técnico; mas também pelas equipas, que reconhecem a nossa capacidade de acolhimento. Sentem-se aqui em casa e querem sempre cá voltar. Estamos satisfeitos, mas há sempre espaço para melhorar. Para o ano, para além da competição em si, queremos organizar uma série de atividades lúdicas e culturais à volta do torneio.
– Projetam candidatar-se a mais torneios, em modalidades diferentes?
Lei Si Leng – Já estamos a crescer em número de eventos. Em agosto teremos pela primeira vez em Macau o encontro de mestres do Wushu. É uma atividade fantástica, que para além da competição tem um forte lado artístico e cultural. O calendário anual está bem preenchido: voleibol feminino, barcos dragão, Maratona em dezembro, Grande Prémio em novembro, Open de Golf em outubro, e agora o Wushu, que este ano é em agosto por causa dos Jogos Olímpicos, mas para o ano será antecipado para Julho. Queremos manter o Wushu durante as férias grandes, para permitir às famílias que possam trazer as crianças. É uma modalidade muito especial na cultura chinesa e é mais um evento que estamos a criar.
Paulo Rego