O campo da desobediência civil assumiu as divergências: líderes do Occupy Central entregam-se à polícia, dirigentes estudantis entram em greve de fome – e as sombrinhas continuam em alguma ruas, mas agora ao frio e à chuva.
O líder do Partido Cívico, Alan Leong, reiterou que o campo pró-democrata não se vai entregar à polícia ou retirar do movimento em Hong Kong, depois de os líderes do ‘Occupy Central’ anunciarem que se vão entregar às autoridades.
Alan Leong reagia ao anúncio feito pelos três fundadores do “Occupy Central”, movimento de desobediência civil formado no início de 2013 para pressionar reformas políticas, mas que nas últimas semanas assumiu uma posição mais discreta à medida que os estudantes foram radicalizando as suas ações, no âmbito dos protestos pelo sufrágio universal pleno na antiga colónia britânica.
Na terça-feira, os três fundadores do movimento Occupy Central pediram aos manifestantes pró-democracia para se retirarem das áreas ocupadas e anunciaram que se vão entregar à polícia.
“Para o bem e segurança dos manifestantes que ocupam as ruas, enquanto nos preparamos para nos entregar [à polícia], exortamos os estudantes a retirarem-se, a recuperarem e a ganharem forças”, disse Benny Tai, cofundador do movimento de desobediência civil Occupy Central.
Benny Tai, Chan Kin-man e Chu Yiu-ming fundaram o movimento de desobediência civil “Occupy Central” no início de 2013 para pressionar reformas políticas, mas nas últimas semanas assumiram uma posição mais discreta à medida que os estudantes têm radicalizado as suas ações.
Alan Leong disse respeitar a decisão dos organizadores do Occupy Central, mas afirmou que “o Partido Cívico não vai seguir os seus passos”.
“Nós não nos vamos retirar do movimento dos guarda-chuvas até que fique clara a direção que este vai tomar”, disse Leong, citado pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).
“Tanto quanto sei, a maioria do campo pró-democrata está a assumir uma posição idêntica”, acrescentou.
O anúncio dos três dirigentes do Occupy Central surgiu depois de, na noite de domingo e manhã de segunda-feira, centenas de manifestantes pró-democracia terem entrado em confronto com a polícia em Admiralty, junto à sede do governo, ao tentarem forçar os cordões de segurança e invadir edifícios governamentais.
Os mais recentes confrontos em Admiralty são apontados como os mais graves registados desde o início dos protestos, a 28 de setembro. Também na segunda-feira, três estudantes, incluindo o líder do movimento “Scholarism”, Joshua Wong iniciaram uma greve de fome.
“A rendição não é um ato de cobardia, é a coragem de agir. Render não é falhar, é a denúncia silenciosa de um governo sem coração”, disse Tai.
O académico enalteceu a coragem dos manifestantes que ocupam as ruas há mais de dois meses. Mas a polícia “está fora de controlo” e é chegada a hora de os manifestantes abandonarem “estes locais perigosos”, sublinhou.
PEQUIM “ASSUMIRÁ
RESPONSABILIDADES”
Um jornal do Partido Comunista Chinês advertiu esta semana que Pequim poderá “assumir as suas responsabilidades” acerca de Hong Kong, mas rejeitou a “tentação” de recorrer às forças armadas para “debelar a agitação” no território.
“Se os violentos protestos de rua se tornarem factos normais e a polícia local não for autorizada a tomar uma dura atitude, Hong Kong provavelmente ficará reduzida à desordem”, afirma o Global Times, num editorial sobre as manifestações pró-democracia que há mais de dois meses agitam aquela Região Administrativa da China.
Ocupada pela Grã-Bretanha em meados do século XIX, Hong Kong foi integrada na República Popular da China há 17 anos, segundo a fórmula “um país, dois sistemas”, que garante à população liberdades de expressão e organização política impensáveis no resto do país.
“Hong Kong goza de uma autonomia especial sob a jurisdição do Governo central e o continente apoia a sua prosperidade e estabilidade”, assinala o Global Times, uma publicação em inglês do grupo Diário do Povo, o órgão central do PCC.
“Mas se os problemas internos de Hong Kong não podem ser resolvidos, o Governo central deve assumir as suas próprias responsabilidades”, acrescenta.
O jornal sustenta, contudo, que “o continente não deve ser tentado com demasiada facilidade a mobilizar tropas para debelar a agitação”.
Há 25 anos, o PCC recorreu ao Exército para esmagar o movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, iniciado por estudantes da universidade de Pequim. Centenas de pessoas morreram e milhares de outras foram presas ou exilaram-se.
O conflito em Hong Kong diz respeito à próxima eleição do chefe do executivo do território, marcada para 2017.
Pequim aceitou que a eleição seja feita por sufrágio direto, e não por um colégio eleitoral, como até agora, mas impôs que os candidatos, “dois ou três”, sejam previamente aprovados por um comité de seleção, o que a oposição considera “uma limitação à democracia”.
O número de pessoas nas ruas diminuiu significativamente desde o final de setembro, mas os ativistas mantiveram dois locais de protesto: Admiralty, junto ao complexo governamental, e outro de menor dimensão no distrito comercial de Causeway Bay.