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EXTRAIR MAIS PETRÓLEO E APOSTAR NA DIVERSIFICAÇÃO ECONÓMICA

 

O petróleo representa atualmente 40 a 41% do Produto Interno Bruto em Angola. Mas esse peso relativo já andou entre os 56 e os 58%. Segundo o ministro angolano dos Petróleos, essa evolução revela que o peso específico do ouro negro começa a ser reduzido na economia angolana. Em entrevista concedida ao Jornal de Angola, Botelho de Vasconcelos reconhece que é um sonho partilhado por todos os angolanos ver outros setores ganharem peso específico no desenvolvimento económico e social do país.O ministro fala do processo de integração de técnicos nacionais no setor e dos atuais níveis de produção de petróleo que, sustenta, em breve deverá crescer até atingir os dois milhões de barris por dia. Sobre o projeto do gás natural – Angola LNG – o governante admite terem surgido alguns contratempos, durante o mês de abril, manifestando a esperança de que esses problemas possam em breve ser ultrapassados.

 

O país está com uma produção média de 1.656.000 barris por dia. Considera estar atingido o limite?

BOTELHO DE VASCONCELOS  – O nosso objetivo continua a ser o de atingir, no próximo ano, os dois milhões de barris diários. Os 1.656.000 barris por dia são hoje em dia resultado do declínio de alguns blocos em produção. Estão a ser desenvolvidos alguns campos na perspetiva de se aumentar a produção e cobrirmos o défice. Creio que em finais de Junho, entra em produção o Clov, no bloco 17, que vai produzir 130 mil barris por dia. Pretendemos inverter a atual situação e continuar a crescer.

 

Como encara a participação de empresas angolanas na licitação de novos blocos?

B.V. – É um processo que está a decorrer. Foi realizada a primeira fase, que consistiu na pré-seleção das empresas concorrentes. Existem cerca de 80 ou 90 empresas angolanas que se candidataram na fase da pré-qualificação, que termina este mês. As empresas mostraram a sua realidade em função dos critérios definidos. Passada essa fase, está aberto o concurso para licitação de cerca de dez ou 11 blocos.

 

A participação de empresas angolanas na exploração do petróleo representa um bom sinal para o desenvolvimento económico?

B.V. – É sempre um bom sinal. O petróleo é uma riqueza que Angola tem e a participação de empresas nacionais vai permitir obter conhecimento na área, abrindo a possibilidade das empresas angolanas intervirem mais no setor, criarem empregos e reterem, no país, os rendimentos que a atividade gera.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Como tem decorrido a integração de técnicos angolanos na indústria de hidrocarbonetos?

B.V. – É um processo e como tal é sempre uma caminhada que tem a sua própria complexidade. Temos feito alguns progressos nos diversos domínios da atividade petrolífera, na área da formação, integração dos angolanos na indústria, desenvolvimento da carreira e, com uma maior amplitude, na intervenção do empresariado local na atividade “upstream” e na comercialização. Muitas empresas desenvolvem a sua atividade na comercialização, distribuição de combustíveis e na prestação de serviços em todas essas áreas. É um processo que temos controlado e promovido.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Considera que esse processo está a ter um ritmo satisfatório?

B.V. – Continuamos a ser ambiciosos nesse sentido. É um processo que tem fases. A atual etapa vai satisfazer até determinado nível. A nossa ambição é atingir patamares elevados.

 

Fala-se de liberalização do mercado dos combustíveis, mas continuamos a ver o mercado a ser praticamente dividido por dois grandes monopólios. O que se passa?

B.V. – O mercado está liberalizado. Fala da Sonangol e da Pumangol, mas existem outras operadoras nacionais de pequeno porte. Estamos a consolidar esse processo, porque entendemos ser necessário que no mercado liberalizado exista uma entidade capaz de proporcionar equilíbrios, para que não se atinjam extremos. O órgão já está criado e estamos na fase de aplicação da entidade. Estamos a terminar as infraestruturas. Creio que no segundo semestre deste ano vamos implementar o órgão. A liberalização existe, só que uma parte dela está nos combustíveis, no gás e nos lubrificantes. As empresas que têm mais capacidade e mais recursos têm algum domínio no mercado. Todos aqueles que pretenderem candidatar-s, devem criar as condições e obterem as licenças para operarem no mercado.

 

Como está a construção de infraestruturas do setor, com destaque para as refinarias?

B.V. – Estão em curso dois projetos, mas a velocidades diferentes. O desenvolvimento deles continua. Gostávamos que a velocidade com que são construídos fosse maior, mas o bom é que decorrem de modo regular. Na refinaria do Lobito, as infraestruturas estão a ser construídas, principalmente a chamada estrada pesada e o terminal. Decorre o processo de dragagem e a preparação das infraestruturas base para instalar tanques e o projecto de água. Na refinaria do Soyo, estão neste momento negociadas as condições para se dar início à sua construção, ainda este ano.

 

O Projeto Angola LNG parou inesperadamente. O que se passa?

B.V. – O projecto LNG está concebido para que uma parte do gás seja exportado e o país precisa de gás para a satisfação das suas necessidades de consumo doméstico. O gás não chega a toda a população. Precisamos de ampliar as ofertas e enveredarmos, no futuro, para a distribuição do gás canalizado nas residências, embora existam alguns condomínios que já dispõem desta condição. O gás do Angola LNG tem uma parte destinada à exportação e outra para o consumo interno. Como somos deficitários na produção de energia, uma parte desse gás vai ser utilizado para alimentação de centrais de ciclo combinado em Angola.

 

Faltou uma manutenção mais rigorosa?

B.V. – Os esquemas da planta em si, bem como dos equipamentos, precisam de acompanhamento e de revisões de tempos em tempos. A revisão é feita dentro de um determinado programa, mas infelizmente têm acontecido situações imponderáveis que contribuem para o atraso do seu arranque, em condições normais e estáveis. A planta em si usa o gás natural associado ao petróleo. Esse gás é recolhido nos vários campos existentes no offshore angolano e é tratado nessa planta.

 

Como está agora?

B.V. – Quanto à situação atual, os parceiros envolvidos e o empreiteiro continuam a trabalhar no sentido de se ter uma planta preparada para produzir a quantidade de gás prevista, que são cerca de 5.200.000 toneladas por ano. Já foram feitos vários carregamentos no ano passado e no início deste ano em curso. Tem havido, nesta fase de arranque, alguns problemas em termos de performance da própria planta. Os técnicos continuam a trabalhar para estabilizar a situação e prosseguir com a produção de gás, que tem especificações diferentes na mistura.

 

O que chama de situações imponderáveis?

B.V. – São aquelas em que o equipamento é posto em funcionamento, mas por uma ou outra razão decorrente de uma válvula solta, parafuso mal posto ou sobreaquecimento, se dá a paralisação do sistema. Estas situações têm vindo a ser corrigidas. Esperamos que fiquem definitivamente resolvidas.

 

O preço do petróleo no mercado internacional continua estável. A mesma estabilidade vai continuar a verificar-se com o preço dos combustíveis em Angola?

B.V. – Há todo um processo em torno desse aspeto. Existe um trabalho a ser desenvolvido entre os Ministérios das Finanças e dos Petróleos no sentido de sere ajustado o preço dos combustíveis. Mas é uma situação que vem sendo analisada. Desde 2008 foram operados alguns ajustamentos para se equilibrar o mercado, que passaram por isentar o imposto de consumo nos produtos à saída da refinaria, provocando uma certa estabilidade na manutenção dos preços de venda ao público.

 

Outro projeto que temos está voltado para a necessidade de vermos os combustíveis serem subsidiados para desenvolvimento e promoção de determinadas atividades económicas, tais como as dos transportes públicos, agricultura e pescas, setores que já beneficiaram também de uma atenção especial. Para o mercado, no geral, esperamos que essa atualização possa ocorrer nos próximos tempos.

O que significa essa atualização. Aumento ou redução dos preços?

B.V. – Eventualmente, um aumento.

 

Em relação à Organização de Produtores e Exportadores de Petróleo (OPEP), existem restrições ou quotas estabelecidas para produção de cada país membro?

B.V. – Neste momento não existem restrições ou quotas estabelecidas. O que se passa é que a organização estabeleceu, em função da oferta e da procura, uma produção de 30 milhões de barris por dia, repartidos por todos os seus membros. Não existem quotas estabelecidas e é por isso que o preço do mercado se mantém estável, em torno dos 105 e 112 dólares por barril. Desde que o preço se situe acima dos 100 dólares e haja equilíbrio e estabilidade para os países produtores e consumidores, a organização vai continuar com os actuais níveis de produção.

 

O país tem ainda uma economia típica de enclave. O que mais o preocupa nesse contexto?

B.V. – O plano que foi estabelecido no Programa de Governo para o período 2013/2017 prevê a diversificação da economia. Cada um dos setores tem vindo a desenvolver determinados programas voltados para esse objetivo, aproveitando os recursos gerados pela indústria petrolífera. Com isso, pretende-se alavancar outros segmentos da economia nacional. Penso que os recursos do petróleo têm sido bem aproveitados. Vemos uma recuperação das nossas infraestruturas e a materialização de vários projetos concebidos para contribuir na diversificação da economia, como são os casos de eletricidade, redes viárias, caminhos-de-ferro, pontes e construção de residências, as chamadas centralidades.

 

Contudo, o petróleo sempre a desempenhar um peso enorme na economia…

B.V. – Sim, mas o que se pretende é que daqui a alguns anos se reduza o seu peso na economia nacional. Actualmente, o PIB tem representado entre 40 e 41 por cento do peso do petróleo. Há alguns anos, estava à volta dos 56 ou 58 por cento. Aqui está um indicador económico que revela, de facto, que o peso específico do petróleo começa a ficar reduzido. Este é o sonho que todos temos em que efetivamente os outros setores económicos possam ter um peso específico no desenvolvimento económico e social do país superior ao que temos actualmente. É o sonho de todo o angolano.

Jornal de Angola

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