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Descoberta nova variante mais virulenta e transmissível do VIH

Lucie Aubourg

Cientistas identificaram uma variante do vírus da imunodeficiência humana adquirida (HIV) altamente contagiosa, que começou a circular na Holanda na década de 1990. Trata-se de uma descoberta científica rara que, no entanto, não deve causar pânico, esclarecem

Descoberta uma nova variante virulenta e transmissível do HIV. A variante responde aos tratamentos existentes e vem declinando desde 2010. “Não há razão para alarme”, assegurou à AFP Chris Wymant, pesquisador de epidemiologia da Universidade de Oxford e principal autor do estudo, publicado nesta quinta-feira (3) na revista Science. 

No entanto, a descoberta pode ajudar a entender melhor como o VIH, causador da SIDA, ataca as células. 

A pesquisa também prova que um vírus pode evoluir até se tornar mais virulento, uma hipótese científica amplamente estudada na teoria, mas com poucos exemplos até agora.

No total, os cientistas encontraram 109 pessoas infectadas com esta variante, apenas quatro delas fora da Holanda – na Bélgica e na Suíça. A maioria era de homens que fazem sexo com outros homens e com idades similares às das pessoas infectadas com o vírus em geral.

A variante desenvolveu-se no final da década de 1980 e 1990, e transmitiu-se mais rapidamente na de 2000. Provavelmente graças aos esforços da Holanda na luta contra a doença, está em declínio desde 2021.

Foi batizada de “variante VB” para “variante virulenta do subtipo B”, o mais comum na Europa. 

500 mutações

O vírus VIH muda constantemente e a variante descoberta tem mais de 500 mutações. “Encontrar uma nova variante é normal, mas encontrar uma nova variante com propriedades incomuns, não. Especialmente com uma virulência maior”, explica Wymant.

A primeira pessoa identificada no estudo com esta variante foi diagnosticada em 1992 (com uma versão incompleta) e a última em 2014. Uma vez tratados, os pacientes não têm mais riscos de complicações do que os demais.

Então, o que significa o aumento da virulência? 

A progressão desta doença geralmente é medida pela quantidade de células T CD4 no sangue, que fazem parte do sistema imunológico e são o alvo do vírus. As pessoas infectadas com a variante tinham uma contagem de CD4 menor do que as demais no momento do diagnóstico, com uma diminuição duas vezes mais rápida, segundo estimativas.

Os pesquisadores calcularam que, sem tratamento, o limite perigoso de 350 células T-CD4 por microlitro de sangue seria alcançado em 9 meses nos pacientes com esta variante em comparação com os três anos noutros pacientes. 

Além disso, a carga viral (quantidade de vírus no sangue) dos infectados com esta variante também foi significativamente maior e, além da sua virulência, os cientistas também demonstraram que é altamente transmissível.

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Importância das projeções

“Os nossos resultados ressaltam a importância (…) do acesso regular a exames para pessoas em risco de contrair o VIH, para permitir um diagnóstico precoce e iniciar o tratamento imediatamente depois”, destacou num comunicado o epidemiologista Christophe Fraser, coautor do estudo. 

Fraser está por trás do projeto Beehive, que reúne dados de pacientes em oito países e foi criado em 2014 para analisar em que medida as mutações do vírus poderiam ter um impacto na doença quando esta se desenvolve.

Os pesquisadores não puderam explicar quais as mutações específicas da variante VB causaram a sua alta virulência ou através de que mecanismo.

“Isto é uma advertência, nunca devemos ser presunçosos demais e assumir que um vírus vai evoluir até se tornar mais benigno”, destacou Wymant. 

A conclusão ganha interesse no contexto de se aprender mais sobre os vírus em plena pandemia de covid-19.

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