A crise político-militar em Myanmar (antiga Birmânia), desencadeada na sequência do golpe de Estado de 01 de fevereiro, com a forte repressão do novo poder sobre as manifestações centram hoje a reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU.
Os 15 membros do Conselho de Segurança iniciarão a sessão, que acontecerá à porta fechada, com um ‘briefing’ sobre a situação em Myanmar, que será feito pela enviada especial da ONU, Christine Burgener.
Para já, ainda não há nenhuma certeza de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas possa chegar a um acordo sobre uma nova declaração, no final da reunião, sendo para tal necessária unanimidade dos membros, incluindo a China e a Rússia, apesar de o Kremlin ter desaprovado, segunda-feira, a repressão sangrenta contra as manifestações pró-democracia em Myanmar, revelando-se preocupado com o crescente número de mortes de civis.
A 10 deste mês, o Conselho de Segurança condenou “fortemente a violência contra manifestantes pacíficos, incluindo mulheres, jovens e crianças”, numa declaração suscitada pelo Reino Unido, que condenou a junta militar de Myanmar, que derrubou o regime democraticamente eleito da líder birmanesa Aung San Suu Kyi.
A junta militar tem reprimido de forma violenta as manifestações diárias que pedem o regresso da democracia e a libertação de antigos líderes, com a ONU a estimar que, só no passado sábado, a repressão provocou 107 mortes, incluindo sete crianças, enquanto a imprensa local fala de 114 vítimas mortais, naquele que terá sido o mais sangrento fim de semana desde o início da crise.
Pelo menos 459 pessoas já morreram desde o golpe, que os militares justificam alegando fraude eleitoral cometida nas eleições legislativas de novembro passado, nas quais a Liga Nacional para a Democracia, partido de Suu Kyi, venceu com maioria.
Terça-feira, três dos principais grupos étnicos armados em Myanmar (ex-Birmânia) fizeram um ultimato à junta militar, ameaçando anular o acordo de cessar-fogo se as mortes de manifestantes continuarem no país.
“É provável que a situação evolua para uma guerra civil total”, advertiu, por seu lado, Debbie Stothard, da Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH), à agência de notícias AFP.
Desde a independência de Myanmar em 1948, vários grupos étnicos têm estado em conflito com o Governo central por mais autonomia, acesso aos muitos recursos naturais do país ou parte do lucrativo comércio de drogas.