O Papa Francisco inicia hoje uma visita de quatro dias ao Iraque, a primeira de um papa a um país muçulmano de maioria xiita, numa missão em que se apresenta como “peregrino da paz”.
“Venho como peregrino (…) para implorar ao Senhor perdão e reconciliação, depois de anos de guerra e terrorismo (…) e eu venho entre vós como peregrino de paz”, sublinhou o Papa, na quinta-feira, numa mensagem de vídeo publicado na véspera da sua partida.
Francisco, que tem no programa a visita à planície de Ur, o lugar de Abraão – onde é recordado que as três principais religiões monoteístas (Cristianismo, Judaísmo e Islamismo) têm a mesma origem, manifestou o “desejo de orar com irmãos e irmãs de outras tradições religiosas”.
No vídeo divulgado, o Papa considerou o povo iraquiano “uma única família, de muçulmanos, judeus e cristãos”.
A agenda papal inclui encontros com a comunidade católica, composta por 590 mil pessoas, cerca de 1,5% da população iraquiana, além de cristãos de outras Igrejas e confissões religiosas, líderes políticos e o grande aiatola Ali Sistani, a maior autoridade xiita do país.
O Papa vai passar por Bagdade, Najaf, Ur, Erbil, capital do Curdistão iraquiano, Mossul e Qaraqosh.
Segundo a agência Ecclesia, em 2003 havia cerca de 1,4 milhões de cristãos no Iraque.
Antes do exílio, a maioria dos cristãos encontrava-se na província de Nínive, cuja capital é Mossul.
De acordo com dados da Ajuda para as Igrejas Necessitadas (ACN), nos três anos de guerra contra o Estado Islâmico (EI), 34 igrejas foram totalmente destruídas, 132 foram incendiadas, 197 parcialmente danificadas, assim como mais de mil casas de cristãos foram totalmente destruídas e mais de três mil incendiadas, mostrando o grau de perseguição a esta minoria religiosa que se concentra sobretudo no norte do Iraque.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Nizar Kheirallah, acentuou o simbolismo da visita de Francisco.
“Que responsável estrangeiro poderá agora recusar-se a vir ao Iraque se o papa o fizer?”, enfatizou o responsável da Presidência iraquiana.
Em três dias, o papa deverá percorrer mais de 1.445 quilómetros de helicóptero ou avião e sobrevoará por vezes zonas onde se escondem ainda elementos ativos do grupo ‘jihadista’ EI.
Símbolo das atrocidades dos fundamentalistas do EI é Mossul, a terceira maior cidade do Iraque, onde o papa fará uma oração pelas vítimas no domingo.
Não sendo o distanciamento físico e o uso da máscara práticas muito seguidas pelos iraquianos, os organizadores da visita papal limitaram os lugares para as missas.
O estádio de Erbil, com 20.000 lugares, apenas deverá receber cerca de 4.000 fiéis para a missa de domingo e Francisco será privado dos habituais banhos de multidão.
Será ainda decretado um confinamento nacional durante todo o período da visita do papa e “as forças de segurança serão destacadas para proteger as estradas”, explicou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Nizar Kheirallah.
Além das preocupações com a covid-19, a segurança estará alerta, tendo em conta que Erbil e Bagdade, a segunda capital mais populosa do mundo árabe, com cerca de 10 milhões de habitantes, foram palco recentemente de ataques de ‘rockets’ contra interesses norte-americanos.
O Papa Francisco visita o Iraque entre 05 e 08 de março.