O acentuado défice tecnológico de Moçambique é um travão ao salto necessário para uma “nova pedagogia” que será dependente de meios digitais e terá uma “matriz híbrida”, defenderam hoje académicos moçambicanos.
As dificuldades na transição do tradicional ensino presencial para o digital em Moçambique foram tema do debate “Celebrar a Universidade, perspetivar o Ensino Superior no séc. XXI”, promovido hoje através da internet pela Universidade Politécnica de Maputo.
Danilo Barbato, académico e especialista em gestão de recursos financeiros no ensino superior, assinalou que o baixo acesso dos alunos moçambicanos à internet constitui um entrave ao impulso reformador imposto pela nova conjuntura no contexto da pandemia de covid-19.
“Dos cerca de 30 milhões de habitantes de Moçambique, apenas 20% têm internet, o que torna o ensino digital um desafio colossal”, afirmou.
Considerando inevitável o modelo híbrido de ensino, que vai assentar na combinação entre a presença na sala de aulas e o ensino virtual, Danilo Barbato defendeu um “consórcio para a inclusão digital”, através da mobilização de escolas, empresas e entidades públicas.
“Temos de nos preparar para um cenário em que o professor vai deixar de ser o núcleo central do processo educativo, porque a capitalização dos meios digitais vai conferir um maior espírito autodidata aos estudantes”, referiu.
Por seu turno, o reitor da Universidade de Moçambique (UDM) e filósofo Severino Ngoenha considerou incontornável “uma nova pedagogia” imposta por um maior recurso aos meios digitais no ensino.
“Os meios digitais que os alunos viam como lazer passam a ser meios didáticos e as plataformas digitais serão a nova pedagogia”, frisou Ngoenha.
O reitor defendeu uma adaptação da utilidade do ensino moçambicano às necessidades do país como forma de tornar os conteúdos letivos relevantes no plano nacional.
“Temos de encontrar um caminho que leve o ensino e a educação a darem resposta aos problemas do país, porque, de outra forma, estaremos a empreender um esforço irrelevante”, afirmou Ngoenha.
Lourenço do Rosário, fundador da Universidade Politécnica, a primeira privada em Moçambique, considerou necessário que as instituições de ensino superior no país voltem a ganhar autonomia para imporem o seu destino, criticando a burocratização pelo Estado na definição dos programas letivos das universidades.
“O diálogo entre pares das universidades sobre a definição programática da formação universitária foi entregue a um debate de burocratas que retirou autonomia às universidades”, criticou Lourenço do Rosário.
Nesse sentido, prosseguiu, é urgente que as instituições de ensino recuperem o direito de traçar o seu próprio caminho.
Moçambique regista um total acumulado de 5.482 casos de covid-19 com 35 mortes, 122 internados (26 em centros de isolamento) e 3.094 recuperados (55% de todos os positivos).
O total acumulado de infeções representa 4,74% dos testes realizados (115.588) e a taxa de letalidade (35 mortes) representa 0,6% dos casos registados no país desde o início da pandemia, em 11 de março.