A organização não-governamental (ONG) Survival International atriubiu na quinta-feira a morte de um especialista indígena, que foi atingido por uma flecha disparada por índios isolados da Amazónia, a pressões de madeireiros e fazendeiros sobre as florestas brasileiras.
Em causa está a morte de Rieli Franciscato, de 56 anos, um funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão de proteção dos povos originários do Brasil, que se dedicava há mais de três décadas à proteção de índios isolados do Brasil.
Franciscato era coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Uru Eu Wau Wau e morreu pouco depois de ser atingido por uma flecha no peito na cidade de Seringueiras, no estado de Rondônia, que foi disparada por índios isolados que habitam a Amazónia brasileira.
“Os índios isolados podem muito bem ter confundido Rieli, um de seus aliados mais próximos, com um de seus muitos inimigos que ameaçam a sua sobrevivência. Eles foram levados ao limite e só há uma solução: proteger o seu território de todas as invasões para que possam sobreviver e prosperar”, indicou a ONG em comunicado.
“A última coisa que Rieli desejaria é que o Governo brasileiro e os invasores usassem a sua morte como desculpa para atingir o território Uru Eu Wau Wau de forma ainda mais agressiva, ou para fazer contacto forçado com os índios isolados. Isso seria fatal e quaisquer tentativas enfrentariam oposição imediata dos povos indígenas e seus aliados em todo o mundo”, acrescentou a Survival International.
Segundo a organização, a maior parte da floresta ao redor da reserva onde Franciscato foi atingido foi destruída e ocupada por fazendeiros e madeireiros, que também estão a tentar chegar à própria reserva. No ano passado, vários incêndios foram iniciados dentro e fora da reserva e, este ano, os agricultores ameaçaram queimar uma área ainda maior.
A investigadora da ONG Sarah Shenker afirmou que “a morte de Rieli é uma perda trágica e incomensurável para tribos isoladas, para a floresta e para a luta para impedir o genocídio do Brasil”.
A Polícia de Rondônia explicou à imprensa local que Franciscato estava a participar numa missão na região com o apoio de agentes militares, justamente para verificar a existência e possível contacto recente de um grupo de indígenas que vivem isolados naquela área com moradores do local.
Em junho passado, um grupo de índios isolados foi avistado pelo proprietário de uma fazenda na cidade, que quis trocar com os índios uma galinha e um machado por um pedaço de carne de caça.
A Survival International frisou que a morte de Rieli Franciscato e o aparecimento de grupos de índios junto a fazendas “são quase certamente uma resposta à imensa pressão que eles e a sua floresta sofrem”.
Atualmente, a Funai reconhece 114 comunidades ou etnias que nunca foram contactadas ou que optaram por se isolar de não índios para fugir de massacres, epidemias e agressões.
Entre essas 114 comunidades ou etnias, a existência de 28 já foi confirmada através de expedições oficiais, enquanto que de outras 26 já existem informações documentadas, mas ainda não confirmadas por expedições.
Os outros 60 são registos para os quais há informações, mas não há mais estudos