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Conferência em Malaca alerta para ameaça de extinção das comunidades lusodescendentes na Ásia

A “primeira conferência das comunidades portuguesas asiáticas” arranca em Malaca para tentar sensibilizar os países lusófonos, em particular Portugal, para a ameaça de extinção que enfrentam comunidades que mantêm traços e identidades herdeiros da cultura portuguesa.

“É o início de um novo capítulo para os portugueses asiáticos”, disse Lusa Joseph Sta Maria, que preside à conferência, enquanto preparava os últimos detalhes para o encontro.

Joseph Sta Maria espera que algumas centenas de pessoas ouçam os conferencistas convidados na “Casa D’Albuquerque”, o nome da sala do hotel do bairro português de Malaca que vai acolher a conferência e que evoca o nome de Afonso de Albuquerque, que em 1511 conquistou a cidade.

Os nomes e as referências portuguesas são visíveis no bairro onde, na “portuguese square”, à beira-mar, os restaurantes como nomes como “lisbon” ou “Mello” oferecem “comida portuguesa” e por todo o lado se vê a bandeira verde e vermelha nacional.

No “portuguese stellement” (bairro português) vive uma comunidade católica, os “portugueses de Malaca”, que festeja o Natal e os santos populares e fala um crioulo que mistura português antigo com o malaio.

Não é a única comunidade deste tipo na Ásia e são estas culturas que os organizadores da conferência dizem ser urgente salvar. O objetivo é unir esforços com vista à sua preservação e fazer chegar a mensagem aos países que falam português, em especial, Portugal.

“Portugal tem responsabilidade moral em relação aos seus ‘filhos’ em toda a Ásia”, herdeiros da expansão marítima portuguesa dos séculos XVI e XVII, apesar de não serem cidadãos portugueses, considera Joseph Sta Maria, representante das minorias junto da administração de Malaca.

“Portugal tem de desempenhar agora o papel que lhe compete e convencer a CPLP e os países lusófonos ricos a salvarem a comunidade luso-asiática do desaparecimento. (….) Esperamos conseguir abrir os corações dos líderes portugueses e que eles vejam que a ameaça à identidade portuguesa na Ásia é real”, acrescentou.

Estão em Malaca, a convite da organização da conferência, entre outros, o líder histórico da resistência timorense, ex-Presidente e ex-primeiro-ministro e atual ministro de Timor-Leste Xanana Gusmão, os embaixadores de Portugal na Tailândia e na Indonésia e o presidente da Assistência Médica Internacional (AMI), Fernando Nobre. Já a delegação da Assembleia da República que era esperada acabou por não viajar até à Malásia.

Joseph Sta Maria lamenta que os políticos portugueses não estejam representados, mas garante estar “muito contente” com as presenças confirmadas.

“Os que não vêm vão falhar algo histórico e vão arrepender-se de não ter vindo. Eu entendo que haja constrangimentos de tempo, mas falhar algo fantástico”, diz.

Ainda assim, está convicto de que a mensagem vai chegar a Portugal.

Representantes de comunidades de uma dezena de países estarão em Malaca nos dois dias da conferência: Malásia, Singapura, Indonésia, Sri Lanka, Austrália, Tailândia, Birmânia, Timor-Leste, China e Índia.

Em alguns casos, as comitivas incluem grupos musicais de inspiração portuguesa e que são exemplos concretos das manifestações culturais das comunidades luso-asiáticas.

Entre os conferencistas estão diversos académicos de universidades dos Estados Unidos, Indonésia, Áustria, Sri Lanka, Filipinas, Malásia e Austrália, com investigações relacionadas com a herança cultural portuguesa em diversos pontos do mundo.

Oportunidade de negócio para a CPLP

O presidente da primeira conferência das comunidades luso-asiáticas desafiou a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) a pensar no legado cultural português noutros países como uma oportunidade de investimento.

“Acredito que a CPLP pode desempenhar um papel crucial na preservação e promoção da herança cultural portuguesa na Ásia”, disse Joseph Sta Maria, na abertura da conferência, em Malaca, na Malásia.

Joseph Sta Maria propôs à CPLP que desenvolva projetos de recuperação do património português e ligados ao turismo em países que preservam traços culturais ligados à herança portuguesa, deixada por toda a Ásia durante a expansão marítima dos séculos XV e XVI.

Neste contexto, deu como exemplo a reconstrução da fortaleza de Malaca construída por Afonso de Albuquerque, ou de outras fortificações que marcaram a presença portuguesa na Ásia, aliando depois outros investimentos, em hotéis ou restaurantes, para aproveitar “o potencial turístico” da região.

Joseph Sta Maria sublinhou que Malaca, por exemplo, recebe 15 milhões de turistas anualmente e que “o dinheiro está agora no turismo” e “há chineses ricos a viajar por todo o mundo”.

“A CPLP e os seus empresários podem encontrar forte potencial de negócio e investimento (…) A CPLP pode iniciar projetos para reavivar a cultura portuguesa e fazer dinheiro. Porque não?”, afirmou, acrescentando que, do outro lado, seria uma forma de apoiar as comunidades de luso-asiáticas dando-lhes, também, oportunidades de trabalho ao mesmo tempo que ajudaria preservar a identidade lusófona.

Joseph Sta Maria sublinhou que os membros destas comunidades na Ásia que guardam traços culturais herdados dos portugueses sentem orgulho em dizerem que são lusodescendentes, mesmo sendo cidadãos de outros países, e apelou à sensibilização da CPLP, em especial de Portugal, para a necessidade de preservar este património, que considera estar ameaçado.

Também o ministro-chefe do Governo do estado de Malaca, Haji Idris, numa mensagem lida por um representante, fez votos para que esta conferência leve a maior intercâmbio entre a cidade e os países de língua portuguesa, através da ligação com a comunidade local de lusodescendentes, atraindo visitantes e investimento da lusofonia para Malaca.

A primeira conferência das comunidades luso-asiáticas arrancou hoje coma presença de representantes de comunidades de uma dezena de países.

A organização é da comunidade de lusodescendentes de Malaca. 

Portugal tem de reconhecer importância dos lusodescendentes

“Portugal precisa de vos reconhecer como comunidades importantes que são para o vosso futuro e para o futuro de Portugal”, afirmou o ex-candidato à Presidência da República Fernando Nobre, dirigindo-se à primeira conferência das comunidades luso-asiáticas, em Malaca, na Malásia.

Fernando Nobre lembrou que Portugal espera ver aprovada uma proposta de alargamento da sua plataforma continental, tornando-o num dos países com mais território marítimo, pelo que o seu futuro, “como no passado, está no mar”.

“Mas o nosso futuro depende das nossas comunidades”, considerou, vincando que há comunidades de lusodescendentes “em todo o mundo”, conhecendo muitas delas devido à atividade da Assistência Médica Internacional (AMI).

“Elos de ligação” entre luso-asiáticos

O líder histórico da resistência timorense Xanana Gusmão defendeu a união e o desenvolvimento de “elos de ligação” entre as comunidades asiáticas herdeiras de traços culturais de origem portuguesa.

“Somos os guardiães de um património que é nosso. E este esforço, já por si gigantesco, terá de continuar a ser algo nosso. (…) Enquanto o resto do mundo destrói, nós vamos construir, enquanto outros querem romper com todos os laços do passado e do presente, nós iremos construir elos de ligação entre nós e que se perpetuarão para as futuras gerações”, afirmou o ex-Presidente, ex-primeiro-ministro e atual ministro de Timor-Leste.

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