A morte de Eduardo Campos relançou a possibilidade da conhecida ambientalista e ativista de esquerda forçar uma segunda volta nas presidenciais brasileiras .
A ecologista Marina Silva vai ser a candidata do Partido Socialista Brasileiro (PSB) às eleições presidenciais de outubro no Brasil, em substituição de Eduardo Campos, que morreu na última semana vítima de um acidente aéreo.
Marina, que era candidata a vice-presidente na lista de Campos, será substituída pelo deputado socialista Beto Albuquerque.
Eduardo Campos foi governador de Pernambuco (nordeste), ministro e deputado, e apresentou-se às presidenciais como alternativa ao Partido dos Trabalhadores (PT, no poder) e ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB, oposição), que governam o país há mais de 20 anos.
No dia 13 de agosto, Campos, de 49 anos, morreu na queda de um “Cessna 560XL”, numa zona residencial de Santos, no litoral do estado de São Paulo (sudeste). Todas as sete pessoas a bordo, incluindo os dois pilotos, morreram no acidente.
No domingo, mais de 130 mil pessoas assistiram ao funeral do socialista no Recife, capital do estado de Pernambuco, cujo corpo foi sepultado ao gritos de “Eduardo, guerreiro do povo brasileiro” e perante explosões de fogo de artifício.
A entrada de Marina como candidata a Presidente vem baralhar as contas do PT, que teme uma segunda volta contra uma conhecida política de esquerda e que tem denunciado os excessos do poder. Em causa estará o tom que o PT tem usado na campanha – “Nós contra eles” – muito mais fácil de ser utilizado num cenário de disputa contra um candidato de direita, como Aécio Neves, do PSDB, do que no caso da ambientalista.Na primeira volta da presidenciais de 2010, Marina Silva obteve 20 milhões de votos, um feito assinalável para uma candidata pelo pequeno Partido Verde. Agora o PT, em que ela já militou e pelo qual foi ministra do Ambiente, teme o regresso desta canditada que há quatro anos pretendia ser “a primeira mulher, a primeira negra e a primeira pobre a governar o Brasil”.
Segundo diversos analistas, se as projeções indicarem Marina à frente de Aécio e previrem uma vitória da ambientalista sobre Dilma numa eventual segunda volta, ficará incontrolável o movimento “Volta, Lula!”, cada vez mais forte no PT e que exige que o antigo Presidente seja de novo o candidato do partido.
Também o PSDB teme a entrada em cena da candidata e a sua maior capacidade para congregar o descontentamento popuar, expresso nas grandes manifestações que ocorreram por todo o país, antes e durante o Campeonato Mundial de Futebol. Segundo o influente jornal Folha de S. Paulo, os principais assessores de Aécio aconselharam o candidato do PSDB a reforçar o discurso de que é o único capaz de reajustar a economia e a protagonizar um “choque” na gestão do país.
JOVENS MENOS PRESENTES NA PRESIDENCIAIS
A participação de jovens, entre 16 e 17 anos, nas eleições brasileiras caiu significativamente nos últimos anos quatro anos, passando de 2,3 milhões para 1,6 milhões, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do país. No Brasil, o voto é obrigatório para as pessoas que possuem entre 18 e 70 anos, e facultativo entre os 16 e os 17 anos.
As eleições de outubro deste ano serão as primeiras após a onda de protestos que tomou as ruas de diversas capitais do Brasil em junho de 2013, motivadas pelo aumento do preço dos transportes públicos, mas que juntaram também outras reivindicações. Os jovens foram os protagonistas dessas manifestações, mostrando alguma falta de confiança na política partidária do país.
De acordo com o TSE a queda de jovens eleitores entre 16 e 17 anos tem duas causas: o envelhecimento da população e uma mudança na metodologia das estatísticas, que agora considera com 18 anos o eleitor que completa essa idade até o dia da eleição, em outubro (antes, a idade fixada era a de 30 de junho).
A politóloga Maria do Socorro Souza Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos, no interior de São Paulo, afirma que a queda da participação dos jovens entre 16 e 17 anos pode estar relacionada com o impacto das manifestações de 2013, mas é necessário esperar o resultado das urnas para ter um panorama mais concreto.
“Temos de esperar a contagem dos votos brancos e nulos, para ver se de que forma irá se comportar o jovem que possui título de eleitor. O ambiente geral, as críticas, podem afetar o espírito dos eleitores”, afirmou.
Souza Braga realçou que a democracia no Brasil ainda é algo recente (o regime militar foi encerrado em 1985), e que as práticas políticas que foram criticadas nas manifestações podem ter gerado uma diminuição de interesse.
Já Jacqueline Quaresemin, diretora do instituto de pesquisa Opinare, afirmou que a redução do voto facultativo está a ocorrer desde 2006, uma consequência do envelhecimento da população.
Entre 2010 e 2014, o número de eleitores com mais de 60 anos aumentou de 20,7 milhões para 24,2 milhões.
“É claro que há um aspeto de descrença na política e um discurso mais conservador que tenta desqualificá-la. Os jovens são influenciados, mas isso não é determinante, e a sociedade deve continuar caminhando para construir a política como espaço de reflexão privilegiada”, afirmou a politóloga, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Quaresemin realçou a importância dos jovens para o presente e para o futuro da política brasileira, e afirmou que a sua participação é um importante ponto para a obtenção de mudanças sociais.
“As mobilizações são importantes e devem ocorrer sempre. A sociedade tem de se manifestar quando discorda das políticas vigentes, buscando ser mais democrática”, acrescentou.