No dia 19 de março de 2019, o diretor de uma escola municipal da zona norte do Rio de Janeiro relatou para a Secretaria de Educação: “Presença de blindados nas proximidades da unidade, tiroteio intenso e ouvimos, também, muitas bombas. Sem condições para funcionamento”.
O caso está longe de ser uma exceção. Naquele ano, a plataforma Fogo Cruzado, que registra a ocorrência de tiroteios na cidade, identificou nada menos que 1.154 escolas da rede de ensino municipal do Rio de Janeiro afetadas por ao menos uma troca de tiros com a presença de policiais.
O número corresponde a 74% das escolas da rede pública cariocas, com impacto estimado em mais de 450 mil estudantes.
É como se, a cada dia do ano letivo, 6 escolas da cidade tivessem suas aulas prejudicadas por tiroteios com a presença de agentes do Estado em seu entorno.
Entre elas, 57% tiveram até 10 episódios desses tiroteios em 2019, 11% sofreram mais de 30 casos, e quatro escolas concentraram 95 trocas de tiros com a presença de forças de segurança, boa parte deles ligados a operações policiais de repressão ao tráfico de drogas e de armas. Estudos já apontaram que grande parte dessas operações é de baixa eficácia, ou seja, traz pouco ou nenhum resultado.
Naquele ano, 61% das operações policiais na cidade do Rio ocorreram durante o dia. Metade delas se deu pela manhã.
“A presença violenta da polícia nas proximidades das escolas sempre me chamou a atenção e desafiou minha curiosidade: será que a gente pode medir o impacto disso?”, afirma a socióloga Julita Lemgruber, ex-ouvidora da polícia fluminense.
“Tiros no Futuro”, lançada nesta segunda (7), mostra que conflitos ocorridos durante o ano letivo estão associados a uma diminuição do desempenho acadêmico dos estudantes e uma maior evasão escolar, com impacto na renda futura dessas crianças e adolescentes. Isso quando não trazem a repercussão mais dramática: a morte de crianças em comunidades alvo de operações, atingidas em uniformes escolares ou até mesmo dentro da escola.
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