O número de novos casos de covid-19 no continente africano pode aumentar “exponencialmente” em janeiro e fevereiro, em resultado das festas de Natal e fim de ano, e registar novos “picos”, alertou hoje o diretor do Africa CDC.
“Temos que começar os preparativos para as festas do final do ano. Sendo adquirido que as pessoas vão encontrar-se para os eventos do final do ano [Natal e fim de ano], devemos esperar um aumento de novos casos nos meses de janeiro e fevereiro”, alertou John Nkengasong, diretor do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (Africa CDC).
“Os próximos dois meses são críticos porque o continente como um todo entrará na época das férias”, o que significa mais viagens das zonas urbanas para as rurais, disse Nkengasong.
“O meu receio é que atinjamos picos, provavelmente os mesmos que em julho ou agosto, nos próximos meses”, acrescentou o principal responsável da saúde pública no continente africano, que falou hoje na conferência de imprensa semanal do Africa CDC, em formato virtual, a partir de Kinshasa.
Nkengasong sublinhou ainda que a instituição que lidera “constata uma lassidão crescente em termos de prevenção em muitos Estados africanos, com o nível de portadores de máscaras a baixar de forma significativa”, pelo que se impõe um “compromisso político para que seja aberto um debate com o público sobre a razão de ser de um comportamento adequado durante este período de festas”.
“O vírus pode expandir-se de forma exponencial durante este período”, afirmou.
O continente africano tem agora perto de 2,2 milhões de casos confirmados de vírus, ou cerca de 3,5% do total global, e apresenta “sinais claros” de um segundo surto em alguns países, segundo o organismo de saúde pública.
O director do Africa CDC alertou ainda para a necessidade do ritmo da campanha de vacinação no continente acompanhar o do resto do mundo. Se o objetivo de imunizar 60% da população africana de 1,2 mil milhões de pessoas africanos demorar “quatro a cinco anos”, “o vírus será endémico nas comunidades” deste continente, advertiu.
As autoridades de saúde africanas acolhem com esperança o progresso na produção das vacinas, mas não têm também escondido as preocupações de que o continente venha a ser relegado para o fim da fila na obtenção das 1,5 mil milhões de doses de vacinas que necessita para alcançar o objetivo de imunização de 60% da população, considerando que cada indivíduo precisa de duas doses.
Nkengasong voltou a sublinhar hoje que não tem a certeza de que as vacinas estejam disponíveis para o início das campanhas públicas de vacinação em África antes do segundo trimestre do próximo ano, o que torna ainda mais difícil alcançar o objetivo de vacinar cerca de 20% da população até ao final de 2021.
“O continente, como um todo, nunca vacinou 200 milhões de pessoas num ano”, sublinhou.
O responsável prometeu também que “nenhuma vacina que não cumpra as normas será ministrada em África”, mas o continente não pode “dar-se ao luxo” de proceder às aprovações regulamentares país por país, processo que levaria cinco ou mais anos, segundo estimou.
O Africa CDC está a organizar uma plataforma onde os organismos reguladores nacionais podem chegar a acordo sobre um mecanismo para aprovar quaisquer vacinas que venham para o continente, sublinhou.
O continente africano regista quase 2,2 milhões de casos de infeção, que representam cerca de 3,5% dos casos em todo o mundo. Destes, 85% (quase 1,9 milhões) recuperaram. A taxa de mortalidade é de 2,4%, que se traduz em 52,5 mil mortes em todo o continente.
Na semana entre 23 e 29 de novembro foram registamos 92 mil novos casos de infeção e 2.000 mortes em todo o continente. Os cinco países com maior número de novos casos foram Marrocos (com 28 mil novos casos), África do Sul, (20 mil), Tunísia (7,5 mil), Argélia (7,3 mil) e o Quénia (cerca de 6 mil novos casos).
Em termos da média diária de novos casos por 1 milhão de habitantes, Marrocos lidera o grupo de países com maior número de contágios, seguido da Líbia, Tunísia e África do Sul.
A análise de quatro semanas no período entre 2 e 29 de novembro permite ver que há um aumento global de 4,5% de novos casos.
Em relação aos países de língua oficial portuguesa, Angola contabiliza 351 óbitos e 15.319 casos, seguindo-se Moçambique (132 mortos e 15.866 casos), Cabo Verde (106 mortos e 10.867 casos), Guiné Equatorial (85 mortos e 5.156 casos), Guiné-Bissau (44 mortos e 2.441 casos) e São Tomé e Príncipe (17 mortos e 997 casos).
O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egito, em 14 de fevereiro, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.482.240 mortos resultantes de mais de 63,8 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.