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Duas décadas de multiculturalidade em língua portuguesa

Há cada vez mais movimento e mais pessoas a aderirem ao Festival da Lusofonia e este ano, durante a 20.ª edição do evento, os quatro dias de festa (entre 19 e 22 de Outubro) ficaram marcados por uma afluência ainda mais forte do público. O Festival entrou pela primeira vez no calendário de festas da cidade em 1998, quando foi celebrado a 10 de Junho, integrado no programa das atividades comemorativas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Há duas décadas o objectivo tem sido o mesmo – homenagear as comunidades lusófonas residentes em Macau pelo seu contributo no desenvolvimento do território –, mas os resultados estão cada vez melhores. 

Todos os 10 expositores representantes dos países e regiões onde se fala o português dão nota positiva a um maior fluxo de pessoas, especialmente turistas. Um dos motivos também se deveu à realização, nas mesmas datas, da Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla inglesa), que este ano contou, pela primeira vez, com um espaço dedicado exclusivamente aos países de língua portuguesa, a PLPEX, que atraiu mais de 200 empresas e entidades do universo lusófono.

Em cada dia do Festival, entre dois a três grupos de música e dança provenientes dos nove países/regiões de língua portuguesa estiveram no palco, instalado no Anfiteatro das Casas da Taipa, com a apresentação de diferentes géneros de música e dança. Foi também aí que grupos artísticos locais de cariz lusófona também tiveram oportunidade de mostrar o que de melhor fazem. No palco pequeno, instalado no Largo do Carmo, tiveram lugar, diariamente, espetáculos de música ligeira, também protagonizados por grupos locais lusófonos, permitindo ao público apreciar uma música mais suave num ambiente descontraído enquanto saboreavam os sabores de terras lusófonas. 

O objetivo de dar a conhecer ao público a cultura lusófona tem sido o grande motor do evento. Quem teve oportunidade de ver a sua evolução, sabe que muito se tem feito – sobretudo no que toca ao cartaz cultural desde essa altura –, mas outros aspetos mantêm-se iguais, tal como a animação, a música e, claro está, as famosas caipirinhas da tenda do Brasil. 

Notável também tem sido a evolução da decoração dos espaços, o que mostra a diversidade cultural do universo lusófono. O Brasil, por exemplo, este ano dedicou-se a explorar a poesia brasileira, com excertos de obras famosas de 50 poetas traduzidos para chinês, entre os quais Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade ou Vinícius de Moraes. São poemas que constam na “Antologia da Poesia Brasileira”, obra editada em 1994 pela Embaixada do Brasil em Pequim.

De Moçambique chegaram os leões do Parque Natural da Gorongosa; da Guiné-Bissau os tecidos de cores garridas constatavam com uma maquete a mostrar o modelo de vida tradicional do país, enquanto que em Goa, Damão e Diu um dos pontos fortes eram as demonstrações de tatuagens de henna. No stand de Portugal, com o tradicional galo a chamar a atenção, os chineses faziam grandes filas para petiscar o queijo e o chouriço e beber um copo de sangria. Macau armou uma loja de quinquilharia com grandes lanternas chinesas que chamavam a atenção dos visitantes ao longe.

Organizado pelo Instituto Cultural e pelo Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, em coorganização com a Direção dos Serviços de Turismo e com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, o Festival da Lusofonia volta às Casas-Museu da Taipa no próximo ano. 

Arte única com toques lusófonos

No rescaldo da Semana Cultural dos Países de Língua Portuguesa e do Festival da Lusofonia, ainda há arte do universo que fala português a explorar. Três exposições de artistas lusófonos e a exibição de uma animação brasileira vão continuar até ao dia 12 de Novembro em vários pontos da cidade. 

Um filme para miúdos e graúdos

Não sobram motivos para assistir “O Menino e o Mundo”, filme de animação do brasileiro Alê Abreu, distinguido em mais de 50 concursos internacionais e indicado para os Óscares no ano passado. Todos os dias, exceto às segundas-feiras, às 10h00 e às 20h00, o filme enche de vida o Antigo Tribunal de Macau, na Avenida da Praia Grande. Mas durante todo o dia as paredes do edifício ganham também nova vida, com a exposição dos desenhos e diaporamas que deram origem à película premiada. 

O filme conta a história de um menino que descobre um mundo fantástico, feito de máquinas que parecem bichos e seres estranhos, num cenário de desigualdade social em que famílias muito pobres convivem com outras rodeadas de muito luxo. Tudo isso o menino vê com os seus próprios olhos quando sai de casa, numa pequena aldeia, para buscar o pai que tanta falta lhe faz.  “Dizem que é um filme infantil, mas as pessoas de todas as idades identificam-se de alguma maneira. Gosto de pensar que é um filme para as crianças que habitam os adultos”, diz o diretor.

Esse mundo e esse menino passeiam diante dos olhos do espectador em imagens ultracoloridas inspiradas em pintores como Paul Klee e Joan Miró, que também traziam nas suas obras a perspetiva infantil, e combinadas nas mais variadas técnicas de animação. O resultado é uma explosão de colagens e texturas, que Alê Abreu explica que são ancoradas na ideia de elementos analógicos. Uma curiosidade é que todos os diálogos das vozes foram feitos em português invertido. O objetivo é criar uma nova língua para o filme, tornando-o mais universal.

Para ver de terça a domingo, entre as 10h00 e às 20h00 no Antigo Tribunal, na Avenida da Praia Grande, até 12 de Novembro.

Inovações em madeira

O escultor Pekiwa nasceu em Maputo e é de lá que nos traz o seu trabalho que encontra na madeira a melhor forma de se expressar. Atualmente trabalha também com materiais encontrados nos bairros, como portas antigas e utensílios domésticos tradicionais, que são transformados então em obras de arte. As suas criações encontram-se em instituições públicas em Moçambique, bem como em coleções privadas em vários países. Começou a sua carreira a vender as suas esculturas em feiras de artesanato e hoje vende principalmente a indivíduos, empresas e organizações que compram as suas obras em exposições ou depois de visitarem o seu ateliê. 

Pekiwa é um artista que goza de algum prestígio e reconhecimento nacional e internacional, o que decorre, por um lado, da sua carreira recheada de presenças meritórias em exposições (individuais e coletivas) e workshops; e, por outro, pela obtenção de galardões importantes, dos quais se destacam o Prémio de Escultura atribuído pelo Instituto de Camões; o Prémio de Escultura do Musart e o Prémio de Ideias para Elaboração de Esculturas, este último partilhado com o escultor Govane, seu pai.

Para a sua estreia em Macau, o artista moçambicano traz um conjunto de 30 peças numa espécie de retrospetiva da sua carreira.  

Para ver de terça a domingo, das 10h00 às 19h00, na Galeria de Exposições da Avenida da Praia, na Taipa. 

Acrílicos inéditos

De São Tomé e Príncipe chegam o artista Guilherme Vaz de Carvalho e um conjunto de pinturas inéditas em acrílico sobre tela, cujos motivos estão ligados a cenas e momentos da vida quotidiana do arquipélago africano. Guilherme faz parte de um grupo restrito de artistas profissionais santomenses e tem inovado nas suas criações. No ano passado, por exemplo, criou uma coleção com trabalhos feitos de areia, a manter toda a naturalidade do material, a evitar a utilização de tingimentos. Além das artes plásticas, Guilherme Carvalho é também um dos principais músicos de São Tomé. Nascido em 1970, foi animador de programas lúdicos da Rádio Nacional de São Tomé e Príncipe e membro fundador do grupo musical Tempo, composto por si e pelos músicos Nezô, Osvaldo Santos e Par Larsson, conciliando com a sua carreira a solo, iniciada em 2009. No ano seguinte, lançou o seu primeiro álbum, “Temperamento”. É ainda presidente da Associação dos Músicos Santomenses.

Para ver de terça a domingo, das 10h00 às 19h00, na Casa da Nostalgia na Avenida da Praia, na Taipa. 

 

Prata da Casa

O jovem macaense Felipe Dores já tinha surpreendido tudo e todos com a sua primeira exposição a solo este ano, no Albergue SCM. Na sua nova mostra individual “Pintura, Transparência e Ilusão”, patente na Galeria da Residência Consular de Portugal em Macau, o artista local reúne 13 serigrafias de trabalhos antigos e um trabalho original: uma aguarela da residência consular, antigo Hotel Bela Vista. Depois de receber o convite para integrar a 9.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, Felipe Dores rumou ao espaço onde a mostra está agora patente para refletir e ganhar inspiração para a serigrafia exclusiva que criou.  “Tem um significado muito forte. Sinto-me muito honrado e com sorte por cada exposição individual. É um sítio belo e muito histórico em Macau. Convido os meus amigos para visitar a exposição por ser também num lugar belo, quase paradisíaco”, aponta o macaense. O traço certo de Felipe retrata Macau como a cidade raramente pode ser vista, deserta. As cores ocre e cinza são talvez as mais utilizadas por um artista que insiste em pintar os edifícios mais antigos da cidade.  

Para ver diariamente, das 11h00 às 17h00, na Galeria da Residência Consular de Portugal em Macau. 

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Raquel Dias

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