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Banca vai de mal a pior, mas aguenta

O consenso é o de que endividamento e incumprimento com os bancos vão continuar a crescer – com riscos distantes, mas na linha do horizonte. A crença de que regulador e Governo socorrem as instituições em última instância segura as previsões mais pessimistas.

O ritmo de crescimento do crédito malparado nos bancos da China parece ter abrandado. E, no entanto, move-se. Os dados oficiais, mesmo se considerados demasiado benevolentes por uma larga parte de analistas do sistema financeiro chinês, indicam pelo menos duas coisas: os valores totais emprestados e dados por perdidos cresceram em cerca de 80 por cento em dois anos, até ao final de 2016; os lucros gerados pelas instituições de crédito aumentaram apenas 6,5 por cento no mesmo período. Uns e outros alcançam hoje valores absolutos quase equivalentes.

No final de 2016, o crédito malparado reconhecido pela banca chinesa atingia, segundo as estatísticas do supervisor, 1,51 biliões de yuans, num movimento de expansão constante, ainda que mais lenta ao longo de 2016. O rácio dos valores perdidos no conjunto de todo o crédito concedido era de 1,74 por cento, 0,07 pontos percentuais acima da proporção existente no ano passado.

Por outro lado, os lucros da banca no mesmo ano chegavam aos 1,65 biliões de yuans, tendo crescido 3,5 por cento em termos anuais – uma taxa distante da tendência de dois dígitos de aumento de lucros verificada até 2014. A contribuir para a diminuição do crescimento está a liberalização das taxas de juros no país, concluída em Outubro de 2015, com subidas mais assinaláveis no preço do dinheiro que os bancos emprestam entre si. No cálculo final, os bancos também têm sido menos capazes de obter retorno sobre os ativos e sobre o capital que detêm – respetivamente, com taxas de retorno de 0,98 por cento e 13,38 por cento no último ano.

“As perspetivas para os bancos chineses vão de mal a pior”, afirma Julian Evans-Pritchard, economista da Capital Economics, no último boletim de acompanhamento sectorial da atividade económica no país. A consultora nota as margens dos bancos cada vez mais comprimidas – inclusivamente, para cobrir perdas crescentes -, e aos últimos cada vez mais vulneráveis a crises de liquidez ou a momentos negativos da economia.

O cenário é de deterioração generalizada nos principais indicadores dos bancos, ainda que os rácios de malparado surjam como inofensivos numa primeira análise. Pritchard admite que algo do que dizem os dados oficiais sobre uma subida mais lenta do crédito malparado “é genuíno”. “Afinal, houve uma melhoria do crescimento dos lucros das empresas nos trimestres recentes”, justifica. “Mas, a maioria dos observadores, incluindo nós, acredita que o nível efetivo do crédito malparado é muito maior do que aquele que os bancos reconhecem”, contrapõe.

As regras de supervisão chinesa permitem aos bancos classificar como crédito com desempenho aquele em que empresas, indivíduos ou outros tomadores de empréstimos “conseguem amortizar valor principal e juros, embora existam alguns factores que potencialmente podem afectar o pagamento”. São os chamados “empréstimos de menção especial”, que para muitos analistas são na prática crédito malparado não reconhecido e que no final de 2016 correspondiam a valores de 3,4 biliões de yuans (eram 2,9 biliões no ano anterior).

As provisões exigidas aos bancos para cobertura de crédito malparado não vão hoje além dos 3 por cento dos empréstimos concedidos. Reconhecer e limpar estes créditos implicaria diminuir margens já em contração, e despender parte das almofadas financeiras das instituições. Para a Capital Economics, há riscos económicos na atual situação, entre os quais o de manter à tona empresas virtualmente falidas e o de não fazer chegar o crédito onde ele é efetivamente preciso. Há ainda outros riscos na complacência dos supervisores.

“Se os bancos continuarem na atual trajetória, alguns não terão eventualmente outra escolha que reconhecer que se encontram insolventes”, afirma Pritchard, lembrando que em última instância o Governo será chamado à recapitalização.

Estender e converter 

a dívida

Mas, apesar dos riscos assinalados, as mensagens dos supervisores mantêm-se ambíguas. Em abril último, a Comissão Reguladora dos Bancos Chineses enviou às instituições do país uma nota pedindo que reforçassem os critérios de concessão de crédito, introduzindo diferentes níveis de avaliação para aprovação de novos empréstimos, e exigindo a entrega até 12 de junho de relatórios sobre mecanismos de controlo de risco adoptados. No final do mês passado, porém, o responsável provincial do mesmo supervisor em Heilongjiang, Bao Zumin, pedia aos bancos o socorro de empresas de carvão e aço em apuros, dando conta de esforços coordenados com as instituições credoras para estender prazos de amortização dos valores. Estes créditos, tal como outros, não contam para os números oficiais de dívida malparada no país.

As principais vulnerabilidades encontram-se hoje nos meios de financiamento do bancos, crescentemente dependentes de empréstimos entre si para garantir liquidez, ao invés da atividade tradicional junto dos clientes. Os bancos regionais e de pequena dimensão são identificados como os mais expostos a um episódio de indisponibilidade do mercado interbancário.

Entre os exemplos de vulnerabilidade citados está o do Banco Industrial da China, com sede em Fujian e que tem como segundo principal acionista o Hang Seng Bank, de Hong Kong, atrás do departamento público de Finanças da província do sudeste do país. A proporção dos depósitos sobre o total de responsabilidades do banco está em 46 por cento, contra uma média nacional de 62 por cento no início deste ano.

O caso do Zheshang Bank, com sede em Hangzou, Zhejiang, e mais de cem balcões no país, é outro dos que servem para ilustrar a deterioração das contas das mais pequenas instituições financeiras do país. Numa nota emitida na última terça-feira, a consultora de Hong Kong Orient Capital Research usava o banco como exemplo de um cada vez maior recurso à compra de instrumentos de dívida classificados como produtos de investimento, e não sujeitos à supervisão do regulador.

“Os bancos estão a investir nos empréstimos uns dos outros”, afirmam os analistas Xiao Zhilin e Juilice Zhou, descrevendo a forma como através do recurso a outros intermediários financeiros a dívida a uns bancos está a ser convertida nos investimentos de outros no país, por via de fundos de gestão de património, trusts e da estruturação de créditos colateralizados, aumentando os riscos sistémicos na banca chinesa.

De acordo com um relatório divulgado terça-feira pela agência Moody’s – que recentemente desceu o rating soberano chinês citando preocupações com o endividamento – até ao final de Março último o Banco Popular da China tinha aprovado um volume total de novas titularizações de 779 mil milhões de yuans, dos quais 209 mil milhões já emitidas. A agência dava conta de um aumento significativo nas securitizações de crédito hipotecário e de leasing – produtos financeiros estruturados aos quais a Moody’s continua no entanto a atribuir uma notação superior à do Estado chinês, alegando capacidade de pagamento dos créditos pelas famílias do país. Os bancos são os maiores compradores de títulos de dívida no país.

Maria Caetano

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