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Museu de Hong Kong inaugura homenagem a “enorme contributo” de lusodescendentes

O Museu de História de Hong Kong vai inaugurar na terça-feira uma exposição sobre o "enorme contributo" dos lusodescendentes e que demonstra que a comunidade continua viva, disse à Lusa o presidente do Club Lusitano.

Patrick Rozario sublinhou que os lusodescendentes são a primeira comunidade minoritária do território a merecer uma mostra permanente rotativa, no âmbito da renovação do museu, lançada em 2017, mas que sofreu atrasos devido à pandemia.

“Em parte porque éramos a maior comunidade estrangeira em Hong Kong depois dos britânicos, mas penso que também demos um enorme contributo para o desenvolvimento” do território, disse o presidente da maior instituição da comunidade.

Os macaenses e membros da então numerosa comunidade portuguesa em Xangai, no leste da China, começaram a chegar a Hong Kong logo depois da fundação da então colónia britânica, em 1841, sublinha o museu.

A comunidade eurasiática “aproveitou o talento para as línguas e o estatuto único de ‘nem chinês nem ocidental’ para servir de ponte entre os mercadores e funcionários do governo britânico e os chineses”.

Os lusodescendentes “construíram a sociedade cívica, igrejas e escolas” e destacaram-se em áreas como a impressão, a farmacêutica, o direito e o desporto, disse Patrick Rozario.

Entre os objetos da exposição, o coordenador do projeto, Francisco da Roza, destacou o casaco vermelho que o presidente do Comité Olímpico de Hong Kong, Arnaldo de Oliveira Sales, usava nas Olimpíadas de 1972, em Munique, quando conseguiu negociar com terroristas palestinianos a libertação da delegação do território, que tinha ficado encurralada durante o rapto de 11 atletas israelitas.

O Departamento de Serviços Culturais e de Lazer do território disse à Lusa que a mostra ‘Estórias Lusas’ vai “apresentar as tradições e cultura distintivas” da comunidade através de programas multimédia audiovisuais e interativos e de “mais de 250 peças de famílias e organizações portuguesas”.

O trabalho de recolha permitiu aos lusodescendentes trabalhar com o museu e serem eles a contar a própria história, sublinhou Patrick Rozario.

Francisco da Roza deu como exemplo uma homenagem aos soldados lusodescendentes que morreram na Batalha de Hong Kong, em dezembro de 1941, quando o Japão ocupou a então colónia britânica.

O declínio da comunidade começou em 1967, quando o território sentia, inclusive através de atentados bombistas, o impacto da Revolução Cultural na China, e a imigração continuou depois da crise mundial do petróleo, em 1973.

O investigador nonagenário disse à Lusa que foi aos Estados Unidos e ao Canadá recolher artefactos, documentos e fotografias entre a diáspora da comunidade eurasiática.

Patrick Rozario disse que a exposição pode mostrar que a comunidade, apesar de profundamente integrada, não desapareceu.

“Estamos a mostrar que ainda estamos aqui hoje, ainda fazemos parte da sociedade de Hong Kong e continuaremos a contribuir”, referiu o presidente do Club Lusitano.

A presença da comunidade permanece em áreas como a justiça, através de Roberto Alexandre Vieira Ribeiro, um dos três juízes permanentes do Tribunal Superior de Hong Kong, ou a educação, com a Escola Primária Po Leung Kuk Camões Tan Siu Lin.

Por outro lado, disse Rozario, a mostra pode “ajudar as gerações futuras com a sua identidade”.

“Muitos de nós anglicizámo-nos ao longo do tempo e perdemos a língua [portuguesa]. É importante que compreendamos quem somos e de onde viemos”, sublinhou o dirigente.

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