As sanções económicas e o boicote às fontes energéticas aplicadas pelo Ocidente à Rússia estão a fazer mossa. Na terça-feira foi noticiado que os lucros da empresa de gás natural Gazprom caíram 41%, depois de a exportação ter praticamente diminuído para metade e o governo russo ter criado um imposto para alimentar os cofres do Estado. O teto no preço do petróleo russo, de 60 dólares, acordado pela UE e pelo G7, está, nas palavras do vice-secretário do Tesouro dos EUA Wally Adeyemo, “a correr extremamente bem”. Segundo o relatório de maio da Agência Internacional de Energia, as receitas de petróleo russo do mês anterior em relação a igual período do ano passado caíram 27%, apesar do aumento das vendas, em especial para os mercados asiáticos. Neste contexto, a relação da Rússia com a China – uma “amizade sem limites”, como os seus líderes juraram no ano passado – ganha contornos de boia de salvação para Moscovo. A visita do primeiro-ministro Mikhail Mishustin a Pequim permitirá, segundo o presidente chinês Xi Jinping, dar um impulso às relações bilaterais para “um nível superior” na “cooperação económica, comercial e de investimentos”.
Mishustin elogiou as relações sino-russas ao descrevê-las de natureza a “responder conjuntamente às ameaças emergentes relacionadas com as crescentes turbulências na cena internacional e a pressão ilegítima das sanções exercidas pelo Ocidente”. Mas além do caráter simbólico de ter na China um país que não condena a invasão à Ucrânia, a visita foi sobretudo de caráter económico. No dia anterior, a delegação russa, que incluiu empresários, participou num encontro de negócios em Xangai. Ali, o vice-primeiro-ministro Alexander Novak estimou o aumento do fornecimento de energia à China em 2023 de 40%.
Já em Pequim, o primeiro-ministro Li Qiang destacou o facto de o comércio bilateral ter atingido os 70 mil milhões de dólares neste ano, um aumento superior a 40%. Até ao final do ano a barreira dos 200 mil milhões de dólares – prevista para 2024 – deverá ser ultrapassada. “Os projetos estratégicos de grande escala estão a avançar de forma constante”, disse Li. Após as conversações, os ministros dos dois países assinaram acordos sobre cooperação comercial em matéria de serviços e de desporto, bem como sobre patentes e exportações de milho russo para a China.
Mas a Rússia quer também acesso à tecnologia e isso mesmo foi referido pelo vice-PM Novak, ao dizer que ambos os países discutem planos de cooperação para o “abastecimento de equipamento tecnológico em falta”. As sanções económicas visam produtos tecnológicos, mas também bens de dupla utilização (civil ou militar) e a cimeira do G7, que decorreu no fim de semana no Japão, prometeu impor novas sanções e um apertar da malha para que as existentes não sejam contornadas.
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