Chegou-se a pensar a certa altura que esta aposta da Apple fosse posta a hibernar devido às sombras tóxicas que o nome do protagonista convoca após o mau comportamento na última cerimónia dos Óscares. Talvez fosse melhor, desde que começou a promoção deste Emancipation fala-se mais do caso Will Smith do que do próprio filme. Ninguém merece isso, muito menos o público, convidado a assistir a um épico que explora a vida dolorosa de um escravo a emancipar-se na América de 1860. Como que fica a mancha de que o sofrimento da personagem funciona como penitência para a estrela caída em vergonha e desgraça. Pois bem, para já o filme tem ficado fora das cogitações da temporada dos prémios e não tem recebido simpatia mediática ou mesmo dos críticos americanos.
Inspirado num retrato real de um escravo emigrante do Haiti, o filme imagina uma odisseia de sofrimento a partir do momento em que é afastado da família e requisitado para o exército da Confederação. Peter, de seu nome, é amarrado, ferido, chicoteado, acorrentado e humilhado, embora nunca perca a fé em Deus. A sua força interior é tão intensa que consegue escapar pelos pântanos juntamente com outros escravos. A promessa do fim da escravatura por parte de Lincoln dá-lhe uma força extra, mesmo para enfrentar um caçador de escravos particularmente cruel.
Em boa verdade, o melhor que o filme de Fuqua consegue é poder ser uma hipótese de um olhar sobre uma crueldade americana e racista. Funciona por expor os horrores da escravatura e todo aquele holocausto mas falha por não ter propriamente uma visão de cinema – a estilização do preto & branco pontuado por cores suaves e o enxame de slow-motions são um equívoco na maneira de replicar o tal “look” de fotografia antiga que se pretendia (afinal, é tudo baseado numa fotografia simbólica…).
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