Início China Progresso militar da China de Xi Jinping impulsiona corrida armamentista na região

Progresso militar da China de Xi Jinping impulsiona corrida armamentista na região

Andrew Beatty

Durante uma década de poder de Xi Jinping, a China construiu a maior frota militar existente. O país modernizou o maior exército do mundo e acumulou um arsenal bélico e nuclear capaz de amedrontar qualquer inimigo.

É provável que os próximos anos de mandato do presidente chinês proporcione uma corrida armamentista acelerada na Ásia-Pacífico, à medida que seus vizinhos procuram seguir o ritmo de Pequim.

Do norte ao sul, as compras de armas dispararam na região. A Coreia do Sul desenvolveu uma frota em alto-mar, e a Austrália adquiriu submarinos movidos a energia nuclear. Segundo dados do International Institute for Strategic Studies (IISS), em Londres, o gasto em defesa na Ásia-Pacífico ultrapassou US$ 1 bilhão somente no último ano.

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Países como China, Filipinas e Vietnã dobraram o gasto militar na última década. Coreia do Sul, Índia e Paquistão não ficaram atrás. Mesmo o Japão, que adota uma constituição pacifista, propõe orçamentos recordes de defesa e está inclinado a pôr fim à sua antiga política. Eles citam um ambiente de segurança “cada vez mais severo”.

“Todos os principais atores da reunião Indo-Pacífico respondem à modernização militar da China o mais rápido possível”, diz Malcom Davis, ex-ministro da Defesa e atualmente no Instituto de Política Estratégica da Austrália (ASPI, na sigla em inglês).

Esforço de modernização

Durante anos, o Exército de Libertação Popular (ELP) foi visto como mal equipado e ineficiente. O ELP dispunha de munições soviéticas obsoletas, atormentado pela corrupção e dominado por uma força de Infantaria com um pobre histórico de campanhas no exterior.

A participação do Exército na guerra da Coreia custou a vida de 200.000 chineses. Em 1979, uma invasão no Vietnã também deixou milhares de vítimas e foi apagada quase por completo da história oficial.

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Quando Xi assumiu o comando do ELP em 2013, as reformas já estavam em andamento. Elas começaram na década de 1990, quando o antecessor Jiang Zemin se surpreendeu com as proezas militares americanas na Guerra do Golfo e na terceira crise do Estreito de Taiwan.

No entanto, “foi apenas com a chegada de Xi Jinping que esse esforço foi, de fato, traduzido em capacidade”, disse o consultor estratégico Alexander Neill à AFP. A China havia acabado de apresentar seu primeiro porta-aviões, o “Liaoning”, um navio ucraniano reaproveitado e os aviões de caça J-15, baseados nos Sukhoi soviéticos.

Segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), o orçamento militar da China cresce há 27 anos.

“Único concorrente”

Hoje, a China conta com dois porta-aviões ativos, centenas de mísseis balísticos de médio e de longo alcance, milhares de caças e uma frota naval maior do que a americana.

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Quando Pequim bloqueou Taiwan, breve e parcialmente, no mês de agosto, um alto comandante militar americano reconheceu, tacitamente, que não seria tão fácil impedir um bloqueio real, nem mesmo para Washington.

“Eles têm uma Marinha muito grande e, se quiserem importunar e colocar navios em Taiwan, podem fazer isso”, diz Karl Thomas, comandante da Sétima Frota. Em paralelo, o arsenal nuclear cresce de forma exponencial e, segundo o Pentágono, provavelmente pode ser disparado da terra, mar, ou ar.

De acordo com o Boletim de Cientistas Atômicos, a China dispõe de 350 ogivas nucleares, quase o dobro do que possuía durante a Guerra Fria. A inteligência dos Estados Unidos prevê que o estoque dobrará para 700 até 2027, ainda distante, contudo, dos cerca de 5.500 em posse de Washington.

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O Pentágono está atento ao poder e à ambição militar da China.

“É o único concorrente capaz de combinar seu poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para apresentar um desafio prolongado ao sistema internacional estável e aberto”, afirmou o Departamento americano da Defesa, em um boletim divulgado no ano passado.

“Pequim busca remodelar a ordem internacional para melhor alinhar com seu sistema autoritário e seus interesses nacionais”, acrescentou o relatório.

Domínio americano chega ao fim

A suposta ambição da China alimentou muitos dos grandes projetos de defesa da região, como manobras de dissuasão contra ataques convencionais, ou contra táticas de milícias da frota chinesa.

A Coreia do Sul planeja desenvolver sua capacidade naval para operar longe da costa. Segundo os especialistas, essa postura está mais relacionada com a China do que com a ameaça nuclear da Coreia do Norte.

Sob a aliança AUKUS com Estados Unidos e Reino Unido, a Austrália planeja adquirir oito submarinos de propulsão nuclear, capazes de permanecerem submersos por um longo tempo e de lançarem ataques contraofensivos.

O debate sobre obter armas hipersônicas e mísseis balísticos de longo alcance também existe no país. O bombardeiro “invisível” americano B-21, capaz de atacar qualquer parte do mundo sem ser detectado, também está em pauta.

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Para o australiano Malcom Davis, esses projetos partem da consciência do crescente poder da China para moldar a região sob sua vontade.

“Os dias de domínio da Marinha dos Estados Unidos nos mares do Pacífico Ocidental chega, rapidamente, a seu fim”, e seus aliados da região estão fortalecendo suas próprias defesas em consonância com esse cenário, afirmou o especialista.

“Não teríamos AUKUS se não fosse por Xi Jinping. Ele nos fez um grande favor nesse sentido”, acrescentou Davis.

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