Início Futuro Lua perdida há muito tempo pode ser a origem dos anéis de Saturno

Lua perdida há muito tempo pode ser a origem dos anéis de Saturno

Lucie Aubourg

Entre todos os planetas do nosso sistema solar, Saturno é certamente o que mais desperta a imaginação, devido a seus anéis imensos

Mas não há consenso entre os especialistas sobre sua origem ou formação, nem mesmo sobre sua idade.

No entanto, um estudo publicado esta quinta-feira (15) na prestigiada revista Science tenta responder a essa pergunta.

Segundo esta pesquisa, há 100 milhões de anos, rompeu-se uma Lua que se aproximou demais de Saturno e seus vestígios ficaram na órbita do planeta.

“Os anéis de Saturno foram descobertos por Galileu há uns 400 anos, e são dos objetos mais interessantes de se observar no sistema solar através de um pequeno telescópio”, detalha Jack Wisdom, autor do estudo.

“É satisfatório ter encontrado uma explicação plausível” sobre sua formação, confidenciou à AFP este professor de ciências planetárias do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Saturno, o sexto planeta em torno do Sol, se formou há 4,5 bilhões de anos, nas origens do sistema solar.

Mas há algumas décadas, cientistas asseguraram que os anéis de Saturno apareceram muito depois, há uns 100 milhões de anos.

Esta hipótese foi reforçada por observações da sonda Cassini, lançada em 1997 e aposentada em 2017.

“Mas, como ninguém pôde determinar de que forma estes anéis só apareceram há 100 milhões de anos, alguns questionaram o arrazoado”, explica Wisdom. 

Wisdom e seus colegas construíram, então, um modelo complexo que permite não só explicar seu aparecimento recente, como entender também a inclinação do planeta.

O eixo de rotação de Saturno está inclinado 26,7° em relação à sua vertical. E sendo este planeta um gigante gasoso, seria de se esperar que o processo de acúmulo de matéria que levou à sua formação tivesse evitado esta inclinação.

Forças gravitacionais

Os cientistas chegaram a uma descoberta recente através de complexos modelos matemáticos: Titã, o maior satélite de Saturno (dos mais de 80 que tem) se distancia à razão de 11 centímetros por ano.

Esse movimento alterou pouco a pouco a frequência com que o eixo de rotação de Saturno dá uma volta completa ao redor da vertical, um pouco como acontece com um peão inclinado.

Um detalhe importante, já que há um bilhão de anos, esta frequência entrou em sincronia com a frequência da órbita de Netuno; um mecanismo poderoso que provocou a inclinação de Saturno até 36°.

No entanto, os cientistas observaram que esta sincronia entre Saturno e Netuno (chamada ressonância) não era mais exata e só um evento poderoso poderia interrompê-la.

Eles anteciparam a hipótese de que uma Lua de órbita caótica se aproximou demais de Saturno, até que forças gravitacionais contraditórias causaram sua ruptura.

“Rompeu-se em vários pedaços e estes pedaços, também deslocados, formaram pouco a pouco os anéis”, explica Wisdom.

A influência de Titã, que continuou se afastando, reduziu finalmente a inclinação de Saturno ao nível que pode ser observado hoje.

Crisálida

Wisdom batizou a lua Chrysalis (Crisálida), comparando o aparecimento dos anéis de Saturno a uma borboleta que emerge de um casulo.

Os cientistas pensaram que Chrysalis fosse um pouco menor do que a nossa Lua, e mais ou menos do tamanho de outro satélite de Saturno, Jápeto, quase totalmente formado por gelo.

“É, então, plausível levantar a hipótese de que Chrysalis também é feita de água gelada, o que é necessário para criar os anéis”, ressalta o professor.

Acredita ter resolvido o mistério dos anéis de Saturno? 

“Demos uma boa contribuição”, responda, antes de acrescentar que o sistema ainda contém “muitos mistérios”.

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