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Sombras no Estreito

Paulo RegoPaulo Rego*

Há uma pergunta no ar para a qual não se vislumbra que se venha a conhecer resposta cabal. Em plena invasão russa na Ucrânia; com a crise económica em franca aceleração, com o nacionalismo exacerbado a proliferar em todo o mundo, com a tensão internacional em torno da China…

Porque raio Nancy Pelosi se lembrou, nesta precisa altura, de pôr os pés em Taipé?

Certamente não foi para aproximar Pequim das relações ocidentais. O que é público é que a resposta de Pequim, obviamente já esperada, foi exagerada e desproporcionada. O que sugere outras leituras sobre a estabilidade interna do Partido Comunista.

A importância política, económica, histórica e geográfica de Taiwan é incontornável. A compilação de dados publicados nas páginas 10/11 desta edição explicam muita coisa.

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Mas não medem o fator psicológico nem a importância da demonstração de força para o ego nacional e para a liderança de Xi Jinping. A reação musculada é a única que faz sentido na cultura política chinesa. Sabemos isso em Macau, toda a gente sabe em Taipé, e Nancy Pelosi sabe disso – e muito mais.

A terceira figura do Estado nos EUA foi a Taipé assumir apoio na defesa da democracia, expondo-se à acusação clássica de interferência em assuntos internos e ao risco de um dia ter de avançar com uma demonstração de força.

Por seu turno, Xi Jinping reagiu como um animal ferido, quando o quintal do lado é invadido…e expondo-se a outra tese clássica, segundo a qual as reações desproporcionadas revelam insegurança e fragilidades internas.

Há neste momento tenso também uma clarificação pacífica. Nancy Pelosi, na tentativa de ataque que faz a Xi Jinping, na mesma frase em que o acusa de reagir como “tirano assustado”, explica que não vê onde está o problema porque nada mudou em relação à política “Uma só China”.

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E isso era o que a China queria ouvir. Pelosi não o disse em Taipé. Disse-o para pôr gelo na reação chinesa. E se não tivesse lá ido, nem teria de o dizer. De facto não se percebe o que lá foi fazer.

Mas ela e Joe Biden sabem-no bem.

Veremos que sinais futuros nos desvendam porque raio andam as duas potências a picarem-se num dos focos de tensão mais sensíveis do mundo moderno, na pior altura possível.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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