O responsável das Nações Unidas para os assuntos humanitários disse hoje que o terrorismo islâmico no nordeste da Nigéria é uma crise “muito, muito perigosa (e) ameaçadora”, que exige mais de mil milhões de dólares (880,2 milhões de euros).
Numa entrevista à agência de notícias Associated Press, o chefe do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), Martin Griffiths, apelou ao mundo para que não se esqueça da contínua devastação causada pelo grupo terrorista islâmico Boko Haram e os seus descendentes, como o Estado Islâmico da África Ocidental, acusados em conjunto de terem matado dezenas de milhares de residentes e originado milhões de deslocados.
“Este é um tipo de operação muito diferente e muito difícil também de dissuadir… um perigo grave e claro e presente, obviamente, para o povo, e uma prioridade para o Hoverno”, afirmou Griffiths, em Abuja, a capital da Nigéria. “O mundo precisa de se lembrar que esta é uma tragédia que tem de ser resolvida”.
O grupo rebelde armado Boko Haram, constituído por extremistas islâmicos da Nigéria, lançou uma insurreição no nordeste do país, em 2009, para lutar contra a educação ocidental e estabelecer a lei islâmica Sharia no mais populoso país de África.
As suas ações, ou ataques, estenderam-se ao longo dos anos aos países vizinhos da África Ocidental, como Camarões, Níger e Chade.
O Boko Haram foi condenado internacionalmente, em 2014, quando raptou 276 alunas na aldeia de Chibok, o que motivou a campanha #BringBackOurGirls. Mais de 100 dessas estudantes raptadas ainda estão desaparecidas.
O conflito já causou aproximadamente 35.000 mortes, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Por cada baixa, “mais nove pessoas, principalmente crianças, perderam a vida devido à falta de alimentos e recursos”, estimou a agência das Nações Unidas num relatório divulgado em junho do ano passado.
Os militares da Nigéria continuam a tentar pôr termo à violência, especialmente no estado de Borno, no nordeste, e na região do Lago Chade, mas o conflito tem continuado ano após ano.
A fação aliada ao grupo Estado islâmico divulgou esta semana um vídeo que mostrava dezenas de crianças combatentes a treinar em campos abertos e a serem ensinadas em salas de aula. O vídeo é uma mensagem “clara” de que os extremistas “estão aqui para ficar” e “uma nova geração está a chegar”, segundo Vincent Foucher, do Grupo Internacional de Crise.
O chefe humanitário da ONU disse que não é claro quando é que as populações deslocadas poderão regressar às suas casas, embora este seja um objetivo crucial, para que as pessoas tenham esperança “de que talvez não se trate de um exílio indefinido das suas aldeias”.
Para 2022, a ONU estima que o nordeste da Nigéria necessitará de mais de mil milhões de dólares de ajuda ao desenvolvimento, além das despesas governamentais, acrescentou.
Estes fundos são necessários para fornecer alimentos e cuidados de saúde aos milhões de pessoas deslocadas e àqueles que permanecem nas suas casas, mas que estão vulneráveis a ataques. Os responsáveis nigerianos “compreendem que isto não é uma solução rápida”, referiu Griffiths, após reuniões com as autoridades governamentais.
Além da região nordeste, o noroeste e o centro da Nigéria também estão a sofrer ataques violentos levados a cabo por grupos armados, que, tradicionalmente, tinham trabalhado como pastores de gado nómadas, e que estão envolvidos num conflito de décadas com as comunidades agrícolas Hausa sobre o acesso à água e à terra de pastagem.
A luta da Nigéria contra os extremistas islâmicos “não pode ser ganha no campo de batalha”, sublinhou aquele responsável das Nações Unidas, que apelou a mais esforços de desenvolvimento comunitário.
“Vence-se guerras civis na mente das pessoas que lá vivem”, afirmou Griffiths. “Se não tiveres as comunidades do teu lado, não importa o quanto mais tens do teu lado. Não farás a paz”, concluiu.