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Ser patriota não chega

Paulo RegoPaulo Rego*
Paulo Rego

Ho Iat Seng cumpriu a missão patriótica que Pequim lhe confiou: sem ponta de hesitação, deixa bem claro que a vida correrá mal a quem questiona o “amor à Pátria”. Fora da agenda, surpreendeu pela positiva: mostrou autoridade, disciplina e comando no combate à pandemia. Contudo, o que hoje é seguro amanhã não será suficiente. Em política, o timing é tudo – e esse muda rapidamente. 

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Os bastidores da economia local desesperam com a paralisia… que se arrasta desde os tempos de Chui Sai On

Na tomada de posse deste Governo, escrevi que a política económica ditaria o sucesso ou insucesso deste mandato. E se é verdade que a pandemia desculpa muita coisa; também não chega para esconder tudo o resto. Não há um único sinal firme de reforma da Administração Pública – parte do caderno de encargos assinado pelo poder central; falta tudo para fomentar a diversificação económica; é preciso visão estratégica e competência para que a integração regional sirva a sustentabilidade e crescimento; as relações com os Países de Língua Portuguesa não foram desmanteladas, mas também nunca foram assumidas na plenitude…  

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Como em tudo na vida, há um tempo em que os méritos se desgastam e a crítica sobe de tom. A sociedade chinesa de Macau não se expõe publicamente – muito menos no atual contexto político. Mas quem sabe ouvir percebe que os bastidores da economia local desesperam com a paralisia… que se arrasta desde os tempos de Chui Sai On. A avaliação que Pequim faz valoriza certamente o patriotismo, mas tem de ir muito para além disso. Não vá um dia culpar-se o patriotismo por tudo o resto que não existe. 

Ho Iat Seng tem muito a ganhar arrancando o novo ano com essa consciência – e práticas consequentes. Sinceramente, desejo-lhe o melhor ano possível. O seu sucesso político significa que Macau ganharia uma dinâmica social e económica que nesta altura não tem. Mas também desejo que, se der sinais de incapacidade, seja forçado pela sociedade local – e pelo poder central – a cumprir o futuro que sirva a todos. 

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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