Em Macau, a cultura do teatro tem sofrido mudanças. A pandemia de Covid-19 tornou mais difícil o desenvolvimento desta arte, que é afetada por “leis e regulamentações”, poucos espaços para atuações e sobrecarga dos profissionais, que se vêm obrigados a desempenhar várias funções na mesma peça. Nesta edição, o PLATAFORMA entrevistou quatro membros da indústria do espetáculo em Macau, que explicam as dificuldades adjacentes ao mundo do teatro.
A difícil operação do setor privado

Kevin Chio, diretor executivo do Teatro Alternativo Rolling Puppet, afirma que o número de atuações de grupos teatrais em Macau é bastante elevado, o problema surge na escassez de espaços para atuar. “Restringidos por várias leis e regulamentações, é difícil para o setor privado desta indústria conseguir espaços que permitam a aquisição de melhores equipamentos”, lamenta. O mesmo refere que as salas de atuação se limitam ao Centro Cultural, Teatro de Lavradores e ao Auditório do Conservatório de Macau. Chio comenta também a disponibilidade do público de Macau para comprar bilhetes. “Se os espetáculos fossem apenas para fins comerciais, os preços dos bilhetes teriam de ser mais caros, o conteúdo do espetáculo é que poderá ser a chave para atrair vários tipos de público”, sublinha. Por isso, o diretor defende que é normal para os grupos locais dependerem de financiamento público.

Lam Teng Teng, diretor artístico do Rolling Puppet, também comenta a questão das salas. “Mesmo que não haja limitações legais, é sempre difícil para as organizações privadas encontrar salas para atuar. No estrangeiro utilizam espaços como armazéns e garagens, mas é difícil fazer o mesmo aqui.” Lam Teng Teng explica que a cultura em Macau é partilhada de boca em boca, e que é necessário uma plataforma que integre informação sobre atuações artísticas em Macau, facilitando a promoção destes grupos performativos.
Desenvolvimento do Teatro Profissional

CK Chan, uma produtora local, partilhou alguns dos dilemas que as companhias de teatro locais enfrentam, como a escolha entre arte profissional ou amadora. A mesma explica que estudantes de artes no estrangeiro que aspirem a uma carreira artística em Macau serão remunerados de forma diferente dos artistas amadores. No entanto, isso leva a uma escolha difícil por parte dos grupos teatrais. Os orçamentos limitados, que “dependem das bilheteiras e dos apoios do estado”, não permitem comportar a aquisição de vários profissionais. “Para conseguir algum desenvolvimento a nível profissional é preciso primeiro saber utilizar os recursos humanos disponíveis e respeitar os interesses e direitos básicos dos envolvidos.” Porém, a situação é difícil de gerir. No ano passado, através da sua própria pesquisa, CK Chan constatou que, no mundo artístico de Macau, uma pessoa precisa de desempenhar 13 tipos de posições diferentes, todas com requisitos profissionais bastante altos.
Recentemente, Mok Ian Ian, presidente do Instituto Cultural, afirmou que com o “Programa de Lançamento de Espaços Artísticos e Culturais” foram disponibilizados 20 espaços para os grupos e artistas individuais utilizarem, e que o resultado foi positivo. CK Chan afirma que, apesar do plano ser bem-intencionado, apenas foram adicionados ao sistema online de candidatura um número reduzido de novos espaços. A grande maioria eram espaços que os grupos utilizavam mesmo antes da pandemia.
O calendário da indústria

Outra produtora local, Suzuki Cheng, trabalha na área de teatro, tanto em Macau como na Malásia. Relativamente à falta de espaços artísticos, expressa a “importância de refletir no número de salas que serão suficientes”. Suzuki Cheng também quer que o governo tome iniciativa na organização e coordenação dos grupos artísticos durante a pandemia, quando os funcionários destes locais estão menos ocupados. “Em Macau, todos os anos, as atuações estão concentradas no mesmo período de tempo. Segundo a minha experiência na Malásia, cada sala de espetáculo organiza as atuações do ano seguinte e coordena as suas datas”, explica. Cheng afirma ainda que grupos artísticos de língua chinesa na Malásia não recebem apoio do estado, e neste sentido os grupos de Macau são mais afortunados.
No entanto, a produtora conta que no ano passado conseguiu organizar um espetáculo totalmente comercial, sem qualquer apoio do governo, provando que isso é possível. “Por exemplo, se conseguir encontrar uma marca de produtos femininos para patrocinar o espetáculo, posso vender um bilhete a 180 patacas e incluir o respetivo produto. Esta estratégia poderá atrair o interesse de fãs da marca e alargar o público-alvo.” Cheng acredita que os comerciantes devem ter consciência da imagem que a sua marca representa e auxiliar a um desenvolvimento saudável do mercado do teatro.
O PLATAFORMA contactou o Instituto Cultural de forma a que este pudesse responder pela alegada falta de espaços para a atividade teatral mas, até ao fim desta edição, não obteve resposta.
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