De 1 a 27 de junho está a decorrer a nona edição do Azores Fringe Festival, que tem a ilha do Pico por epicentro. Ao todo, são mais de 200 eventos artísticos, culturais e gastronómicos, que envolvem mais de dois mil participantes. No centro de tudo, o filho de emigrantes açorianos no Canadá que voltou à terra e se apaixonou
Anda pela ilha com a agilidade de quem lhe conhece os segredos. Os da montanha e os do mar, mas também os dos seus habitantes, desde as irmãs Neves que encantaram Amália Rodrigues com peças de artesanato feitas com escamas de peixe pintadas, ao jardineiro do mais belo jardim do Pico.
Terry Portugal Costa, nascido em Oakville, Canadá, dois meses depois da Revolução de Abril (“porque os pais, ainda marcados pela guerra colonial, temiam mandar filhos para a tropa”), corre as estradas da ilha no seu carro, sempre cheio de papéis, livros e dos materiais coloridos que, nas mãos de alguém, se hão de transformar num objeto com histórias para contar.
Para em casa dos ceramistas holandeses que há uns anos escolheram os Açores para viver e, logo a seguir, visita Helena Amaral, a professora aposentada que criou, por toda a ilha, um trilho de sorrisos esculpidos na pedra. Também sabe qual é o melhor vinho do Pico e em que restaurantes se come o melhor atum braseado, que, para ele, tem de ser mal passado, “quase sushi”, diz.
Junho é, desde há nove anos, um mês de turbulência para Terry, já que é quando decorre o Azores Fringe Festival, com atividades nas nove ilhas dos Açores mas com epicentro no Pico. Fringe porque, tal como o evento-mãe que se realiza em Edimburgo, tanto mostra o trabalho de artistas de renome como o de quem inicia o seu caminho.
Tudo começou em 2011, quando Terry se fixou nos Açores para apoiar os pais, que, depois de vários anos no Canadá, tinham voltado à terra natal. Naturalmente irrequieto, andou então pelas nove ilhas do arquipélago e contactou milhares de pessoas: “Em seis meses, visitei os 19 concelhos dos Açores, falei com mais de quatro mil pessoas que, de algum modo, se dedicavam a uma arte, fosse música, pintura, escultura, dança, performance ou literatura.
Todas me diziam a mesma coisa: “Não temos como mostrar o nosso trabalho. Sem apoios do Governo Regional ou das câmaras, não é possível”. Mas era. Terry tratou de constituir a Associação MiratecArts, com uma galeria ao ar livre, sobre o mar, na propriedade da sua família na aldeia da Candelária, para criar essas oportunidades que faltavam.
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