O documentário “Constelações do Equador”, que tem produção portuguesa e direção do realizador são-tomense Silas Tiny, foi distinguido com o Prémio Especial do Júri da Competição Internacional do Festival de Sheffield – DocFest 2021, segundo o palmarés do certame
“Constelações do Equador” revisita o ano de 1967, quando a guerra de secessão do Biafra e a fome que esta gerou, condenaram à morte centenas de milhares de pessoas, em particular crianças, no continente africano.
Passado meio século, o filme procura vestígios dos acontecimentos, através da memória de sobreviventes do conflito, e da ponte área feita entre a Nigéria e as ilhas de São Tomé e Príncipe, então realizada.
A vaga de refugiados, a situação limite dos sobreviventes, sobretudo de mulheres e crianças, chegados das zonas de conflito, o acesso restrito aos locais que os acolhiam, a falta de informação da administração colonial, a repressão da ditadura portuguesa e a vida num território ainda marcado por séculos de escravatura e de trabalho forçado, são verificados pelo filme de Silas Tiny, conhecido por outras produções documentais como “O Canto de Ossobó (2018) e “Bafatá Filme Clube” (2013).
O filme combina a observação local, depoimentos, imagens de arquivo e factos históricos esquecidos, relacionados com a guerra civil desencadeada em 30 de maio de 1967 e a declaração unilateral da independência do Biafra, que constituiu um dos primeiros conflitos pós-coloniais de África.
“Constelações do Equador” tem produção da Divina Comédia e apoio do Instituto de Cinema e do Audiovisual (ICA).
O vencedor da competição internacional, a principal do festival, foi o documentário brasileiro “Nũhũ yãg mũ yõg hãm: Essa terra é nossa!“, de matriz indígena, que expõe a forma como os “homens brancos” têm roubado a terra ao povo indígena Tikmu’un, no Brasil, através da violência e da morte.
O filme foi dirigido por Isael e Sueli Maxakali, dois etnólogos e cineastas de origem indígena, com Carolina Canguçu e Roberto Romero.
O Sheffield DocFest teve início no passado dia 04 e terminou no domingo.
Dois projetos cinematográficos de coprodução portuguesa foram também selecionados para o mercado de coproduções do festival, que decorreu ‘online’, nos dias 09 a 11 de junho: “Fedora”, coprodução entre Portugal, México e Estados Unidos, assinada por Leland Palmer, e “Sunday in Japan”, coprodução luso-britânica de Leo Nelki e Sunday Bamweyana, que dá nome ao filme.
O documentário “Chelas nha kau” (“Chelas meu lugar”), do coletivo português Bataclan 1950 e da Bagabaga Studios, sobre a vida no bairro lisboeta, também fez parte da programação do Festival Internacional de Cinema Documental de Sheffield, exibido na secção “Rebellions”.
Na direção do festival está, desde final de 2019, a programadora portuguesa Cíntia Gil, depois de ter passado pela direção do DocLisboa.