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Desabafo

João MeloJoão Melo*

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia” – William Shakespeare.

Faz hoje precisamente um ano que iniciei esta colaboração semanal e julgo ser a altura ideal para um desabafo. Sou artista, dado a criar, a especular, embora aprecie ciências exactas; desde a adolescência que consumo divulgação científica e além do gosto por saber prefiro as explicações fornecidas pelo método experimental às dos sentidos. Admiro a matemática, a linguagem universal, enquanto a música é uma arte baseada nessa linguagem. Ainda bem que existe a música porque sendo um tipo limitado tenho a alternativa de me ligar ao universo através dela. Quando tomei contacto com a astrologia percebi que era outra arte, os seus arquétipos, uma linguagem da psiquê, são um canal para aceder à dimensão cósmica. O mal é muitos dos praticantes e consumidores se deixarem enredar na armadilha da cristalização, tendendo uns a segui-la qual guia esotérico, outros a presumi-la infalível. É só uma arte, um dos vários canais imperfeitos, tê-la mais em conta do que aquilo que é seria igual a pautar a nossa vida pela obra de uma banda que se admira.

Conhecendo esta valência, no início de 2019 um amigo editor propôs-me que escrevesse um livro divertido de astrologia, uma perspectiva diferente dos escritos geralmente estereotipados. Abracei o desafio entusiasticamente iniciando uma investigação de fundo aos movimentos planetários para depois me focar nas particularidades individuais dos signos. Poupando-vos a pormenores técnicos digo apenas que encontrei dados curiosos a respeito do presente que me levaram a alargar a pesquisa do século passado até ao futuro, descobrindo padrões demasiado intrigantes para ignorar. Aplicando esses padrões à cronologia histórica, a minha vontade de escrever um livro descontraído desvaneceu. Pedi desculpa ao meu amigo mas não seria capaz de prosseguir o projecto, continuei a investigar até concluir uma espécie de ensaio que nunca publiquei. Pensei em tentar fazê-lo chegar a instâncias de decisão, depois percebi que só cobriria de ridículo a minha já nula reputação: “astrologia? Isso é o quê, bruxedos? Esse tipo que manda umas larachas também é astrólogo?” O tom do ensaio é tão preocupante que se recuarmos ao clima social de Abril de 2019 soaria ainda mais disparatado, ninguém quer saber de “desgraças”, especialmente num contexto de alguma prosperidade. Em 2019 seria inútil, em 2021 inútil é porque toda a gente passou a sentir a crise na pele. O que conto agora é à laia de desabafo suportado em um ano de escritos num portal sério que de certo modo atestarão não estar completamente maluquinho.

Não há fundamento científico na astrologia, todavia se pretendesse explicar o século XX através dela seria estranhamente fácil a posteriori, está lá tudo, é uma questão de saber interpretar. Sim, vejo o que quiser ver, outra pessoa teria um entendimento diferente e não há forma de repetir a experiência obtendo os mesmos resultados, ainda assim procuro manter abertura de espírito suficiente para ir onde as coisas me levarem. Em astrologia os movimentos dos planetas exteriores, de Júpiter a Plutão (considera-se um planeta) são grandes rodas dentadas de um relógio, mais lentos definem os anos, enquanto os planetas interiores de Marte a Mercúrio se movem rapidamente, marcando os dias, as horas, e é nesta janela temporal que a nossa atenção quotidiana se foca. Diria que os planetas interiores caracterizam o pessoal, o imediato, enquanto os exteriores o colectivo, o longo prazo; foi nestes últimos que centrei a minha atenção, em particular no que opera a maior revolução à volta do Sol, Plutão, completando uma órbita a cada 240 anos terrestres. No contexto da grande dança planetária é como se os planetas exteriores gerassem condições, montassem um cenário onde se desenrolará a peça de teatro. A história depende da dinâmica individual dos protagonistas porém eles e os espectadores são parte de algo maior que os transcende. Há quem defenda que os planetas se encontram no sítio em que estão porque o tecido espacial já possui sulcos onde qualquer objecto com as características certas se aprisiona, e para terem uma ideia acercada do conceito imaginem o sistema solar como um disco de vinil. Nesta perspectiva é indiferente o actor A ou B protagonizar a peça, alguém o fará porque o lugar está vago para quem fareje a oportunidade, possua um percurso adequado e reuna as condições para o ocupar. Analisando o passado deste jeito o que mais me surpreendeu foi a incapacidade colectiva de a humanidade construir histórias diferentes das expectáveis, se o universo dá limões toda a gente faz limonadas, só limonadas. Desconforta-me a invasão de um sentimento determinista contudo dificilmente escapo à constatação de que o “livre arbítrio” é grandemente subordinado às condições, e talvez por isso tenda a admirar quem mais trabalha para escapar a um destino pré-determinado. Retirando os protagonistas a leitura da história torna-se assustadora uma vez que aparentamos ser meros robots emocionais programados para executar o que se espera que executemos, a agulha segue imperturbável sobre o sulco no vinil. 

Sucintamente as configurações planetárias que deram início às I e II guerras mundiais repetir-se-ão no final de 2024, início de 2025. Cada guerra estava mergulhada num caldo de circunstâncias diferentes, assim como a próxima, a haver, será distinta. Exceptuando um evento natural súbito, e mesmo este tem uma história, não se chega a uma situação do nada, ela evolui muitas vezes pela sombra, para darmos conta apenas quando se expõe à vista. Eventualmente uma pequena elite ligada à ciência estaria a par, eu, como qualquer ser humano vulgar andava longe de configurar o cenário de pandemia vivido a partir de 2020. No entanto sabia que algum acontecimento ou conjunto de acontecimentos mudaria o tom do mundo nesse ano. Um detonador que não perdi tempo a equacionar, seguramente associado a um colapso financeiro conduziria a uma pobreza generalizada com consequências confirmadas pelos movimentos planetários ao longo do próximo quinquénio, até rebentar em conflito por volta de 2024/2025. Descurei a especulação relativamente a figuras ou países porque é um exercício infrutífero, depende de interacções cuja análise é ciclópica. Quem no dia 23 de Outubro de 1929, véspera do crash da bolsa de Wall Street suspeitaria que um desconhecido cabo austríaco líder de um partido insignificante se tornaria num dos maiores assassinos da História? Tenho conhecimento de que as condições estão a ser cozinhadas, ignoro de onde virão os protagonistas, não obstante eles andam aí. Aliás um conflito próximo poderá partir de personagens sem evidente ligação a Estados, em grupos desconhecidos ou movimentos sociais de fundo; sim, alguém os liderará ao género da independência dos Estados Unidos ou da revolução francesa, eventos ligados à última passagem de Plutão de Capricórnio para Aquário, como poderão possuir propriedades nunca equacionadas, e que por estar em causa o signo Aquário talvez se relacionem com tecnologia e inteligência artificial, acrescentando ainda a ameaça nuclear. Sendo um signo de ar, fixo, as comunicações, a atmosfera real ou digital ficará irrespirável e esse será o menor dos problemas, o ar transportará o veneno para todos os meios, para todo o lado, as consequências serão globais. No caso de um conflito nuclear é óbvio que se seguirá um inverno nuclear que arrasará a Terra durante muitos anos, mas estou profundamente convencido de que não é o fim e não mais voltaremos à Idade das Trevas, isto é, a tecnologia veio para ficar. Será a geração nascida aproximadamente a partir de 1984 (que ano marcante hein?) até 1995 que provocará o conflito; não a diabolizem, qualquer geração está contra as anteriores. Neste caso ela afronta as dos consensos a todo o custo que apodreceram o mundo, e carrega o ingrato propósito de destruir a ordem estabelecida; inflamará multidões pela sua visceral genuinidade e quando alcançar o poder logo as populações estarão fartas do politicamente correcto e hipocrisia reinantes, aderindo entusiasticamente a ideias que agora ainda soam radicais. No fundo o conflito não será uma surpresa. 

Será a geração nascida aproximadamente entre 1995 e 2007 que liderará o renascimento das cinzas, possuem essa matriz. Não sei quanto tempo durará o conflito, acredito que seja o último grande pelo menos por um século, não fui mais longe. Pode durar muito, pode durar pouco, de qualquer maneira as suas implicações directas estender-se-ão por pelo menos uma década. É natural que tenha terminado antes de 2044 altura em que se viverá uma era de consciência universal, culminando num salto quântico civilizacional por volta de 2067. A época em que vivemos é uma espécie de final do secundário na escola da civilização; antes de entrarmos na universidade o último conflito será uma festa de final de curso onde a malta se embebeda e parte tudo. Mais ou menos em 1822 (que ano marcante, hein?) iniciou-se o actual ciclo, e a partir dos sessenta e alguns anos do século XXI, iniciar-se-á um novo. Aí as possibilidades para a humanidade são infinitas, quiçá se ultrapasse a barreira da morte tal como a entendemos… Também só nessa altura saberemos que não estamos sós no universo e que ele se compõe de múltiplas dimensões onde experimentaremos a relatividade do tempo. 

Podemos fazer algo para evitar o que me leva a crer ser inevitável? Não sei. Sei que posso e devo educar os meus filhos incutindo-lhes valores que os capacitem a integrar um mundo novo, quer suceda o que disse ou não passe de um disparate. Deveria ser esse o nosso foco em qualquer época e especialmente nesta. Não sei o que as pessoas querem, porque se agarram a objectivos fúteis, efémeros; mesmo estando dentro do limite possível não ambiciono cá estar nessa nova era, e não se trata de humildade ou resignação, acho que é consciência: ter feito parte do processo de crescimento deixa-me sincera e profundamente feliz, foi esse o meu papel. 

“Educação é tudo o que fica depois de termos esquecido tudo o que aprendemos na escola” – Albert Einstein

*Músico e embaixador do Plataforma

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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