Sem aviões de combate ou alertas de foguetes, a calma retornou nesta sexta-feira (21) à Faixa de Gaza e a Israel com a entrada em vigor de um cessar-fogo, ainda frágil, em meio às promessas múltiplas de ajuda à reconstrução do enclave palestino devastado por 11 dias de conflito
Novos confrontos explodiram entre fiéis palestinos e agentes israelenses na Esplanada das Mesquitas, terceiro local mais sagrado do islã, em Jerusalém Oriental, o setor palestino da Cidade Sagrada ocupado por Israel.
Um fotógrafo da AFP foi agredido pela polícia.
Confrontos similares registrados há cerca de duas semanas foram o estopim da escalada de violência entre o Exército israelense e o movimento islamita Hamas, que provocou as mortes de 243 palestinos, incluindo 66 menores de idade, segundo as autoridades Gaza. Em Israel, a polícia informou que 12 pessoas morreram, incluindo uma criança, uma adolescente e um soldado.
Outros incidentes ocorreram em bairros de Jerusalém Oriental e na passagem de fronteira de Qalandiya entre Jerusalém e a Cisjordânia ocupada, explicou a polícia.
Sucesso de uns e de outros
“Cumprimos os objetivos, é um sucesso excepcional”, afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ao comentar a ofensiva militar contra o território de Gaza, governado pelo Hamas desde 2007 e onde vivem quase dois milhões de pessoas.
“Mais de 200 terroristas, incluindo 25 com patente”, foram mortos durante a ofensiva, disse Netanyahu.
O chefe do gabinete político do Hamas, Ismail Haniyeh, saudou uma “vitória estratégica” de seu movimento: “Desferimos um golpe duro e doloroso que deixará marcas profundas na entidade israelense”.
Haniyeh agradeceu ao Egito, que atua como mediador, ao Catar “por seu papel político e diplomático”, à ONU e ao Irã, “que forneceu financiamento e armas ao movimento”.
O Irã nesta sexta-feira celebrou a “vitória histórica” dos palestinos e reiterou seu apoio após a entrada em vigor do cessar-fogo.
“Sua resistência forçou o atacante a recuar”, tuitou Said Khatibzadeh, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano.
Trégua
A trégua, que entrou em vigor nesta sexta-feira às 2h locais (20h de quinta-feira em Brasília), foi alcançada principalmente pela mediação de Estados Unidos e Egito.
“Desde as 2h não se detectou nenhum lançamento de foguete, e os aviões (das Forças Armadas) voltaram para suas bases”, anunciou o Exército israelense.
Após o anúncio da trégua, milhares de palestinos saíram às ruas de Gaza para festejar o fim dos bombardeios israelenses. Manifestações de júbilo também foram observadas em cidades da Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, ocupados.
Aproveitando o fim dos bombardeios, os moradores de Gaza começaram a inspecionar os danos em suas casas, muitas delas destruídas pelos ataques aéreos de Israel.
“Foi uma verdadeira guerra, assustadora, durante 11 dias. Nem nós, nem as crianças conseguimos dormir por causa dos bombardeios. Estamos muito felizes após o cessar-fogo”, declarou Mohamed Abu Odeh, um palestino da Faixa de Gaza.
Ao menos cinco cadáveres e dez sobreviventes foram encontrados em um dos túneis do território, alvos dos bombardeios de Israel, relatam as equipes de resgate, que prosseguem com os trabalhos.
Solução política
O presidente americano, Joe Biden, agradeceu ao Egito pelo papel desempenhado no cessar-fogo, que chamou de “oportunidade genuína para avançar” rumo à paz entre israelenses e palestinos.
Biden se comprometeu a ajudar a organizar os esforços para “reconstruir Gaza” e disse que a criação de um Estado palestino junto a Israel é a “única solução” possível para o conflito.
Seu secretário de Estado, Antony Blinken, visitará o Oriente Médio “nos próximos dias”.
Duas delegações egípcias chegaram a Israel e aos Territórios Palestinos “para vigiar” o respeito ao cessar-fogo, informaram veículos de comunicação oficiais egípcios.
No exterior, o governo da Alemanha também elogiou o cessar-fogo, mas considerou que é necessário “abordar as causas profundas” do conflito no Oriente Médio.
O papa Francisco comemorou a trégua e convidou toda Igreja Católica a rezar pela paz.
Suspensas desde 2014, as negociações de paz esbarram em vários pontos, como o “status” de Jerusalém Oriental e a colonização israelense dos Territórios Palestinos. Além disso, a possível solução de dois Estados, um palestino e um israelense, perdeu força nos últimos anos.
O Hamas iniciou as hostilidades em 10 de maio com o lançamento de foguetes contra Israel em “solidariedade” às centenas de palestinos feridos em confrontos com a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém.
Os confrontos começaram após os protestos contra a possível expulsão de várias famílias palestinas, em benefício de colonos israelenses, de um bairro da Cidade Santa.
Depois dos lançamentos de foguetes, Israel iniciou uma operação para “reduzir” as capacidades militares do Hamas.
De acordo com os militares do Estado hebreu, Hamas e Jihad Islâmica lançaram mais de 4.300 foguetes contra Israel. Mais de 90% deles foram interceptados pelo sistema antimísseis israelense.