O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a gestão da pandemia no Brasil classificou na quinta-feira o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello como “campeão das mentiras”, numa avaliação do depoimento do general.
Após o depoimento de Pazuello, que se estendeu por dois dias, o relator, senador Renan Calheiros, informou que deverá apresentar um relatório preliminar sobre os primeiros 30 dias de investigação e que compilará as “mentiras” proferidas ao longo do inquérito por parte das testemunhas.
“O Pazuello fez o negacionismo do negacionismo. Foi o campeão de mentiras. Se a CPI for fazer acareações pelas mentiras dele, nós iremos levar a CPI inteira. O relatório parcial trará essas informações, não só as mentiras ditas pelo ex-ministro, mas por outros depoentes, para ser encaminhado ao Ministério Público”, afirmou Renan Calheiros.
A apresentação do relatório preliminar foi um pedido do presidente da CPI, Omar Aziz. Segundo o senador, o objetivo é assegurar que o conteúdo de depoimentos, como o do ex-ministro Eduardo Pazuello, “fique vivo” e que prove que a investigação “não está a descambar”.
Na avaliação de Renan Calheiros, Pazuello “mentiu em flagrante” 14 vezes durante o depoimento, o que o levou a sugerir a contratação de uma empresa de verificação de factos para atuar na CPI.
Entre o que os senadores consideram mentiras está o facto de o ex-ministro ter dito que não recomendou prescrição de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença e que não se influenciou pela opinião do Presidente, Jair Bolsonaro, mesmo já tendo afirmado o contrário, quando ainda era o responsável pela tutela da Saúde.
O depoimento daquele que foi terceiro ministro da Saúde de Bolsonaro ficou ainda marcado por declarações que confirmaram que o Governo Federal decidiu não intervir na grave crise sanitária no Amazonas, onde dezenas de pessoas morreram asfixiadas por falta de oxigénio. De acordo com o ex-governante, a avaliação foi de que o executivo estadual tinha condições de dar resposta ao problema.
Na opinião do vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, Pazuello corre o risco de ser indiciado por homicídio culposo e por crime contra a ordem sanitária.
Por outro lado, o senador Marcos Rogério avaliou que Pazuello foi “seguro, firme e sincero” e destacou o facto de o general não ter ficado em silêncio no depoimento, mesmo com um ‘habeas corpus’ do Supremo Tribunal Federal (STF) que o permitia não responder a questões que o incriminassem.
Na sua habitual transmissão em direto nas redes sociais, Jair Bolsonaro mostrou-se satisfeito com o depoimento de Pazuello na CPI.
“Pelas informações que recebi, o Pazuello esteve muito bem. Mas a CPI continua a ser um vexame [vergonha] nacional. Não querem investigar, então, o desvio de recursos. Querem investigar aquele negócio que o pessoal usa para combater malária”, disse Bolsonaro, referindo-se à produção, no Brasil, de cloroquina, fármaco sem eficácia contra a covid-19, mas amplamente defendido pelo chefe de Estado.
A investigação parlamentar no Senado brasileiro tem como objetivo determinar as responsabilidades pelos problemas na gestão da pandemia, que já provocou 444.094 óbitos e 15.894.094 infeções no país.
A CPI da Pandemia terá um prazo inicial de 90 dias para realizar a investigação, cuja hipótese de ser prorrogado depende do andamento dos trabalhos, que serão concluídos com um relatório que pode ser encaminhado aos tribunais para o início de um processo judicial.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.419.488 mortos no mundo, resultantes de mais de 164,8 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.