Enquanto o número de mortes por coronavírus bate recordes diários no país, os responsáveis por lidar com os cadáveres têm que enfrentar condições de trabalho precárias e riscos de contágio maiores.
São 9h da manhã, e Arvind Gaekwad e Gautam Ingle, funcionários de um crematório, descansam antes de começar mais um turno agitado. “Um corpo está a caminho e outros devem chegar ainda hoje”, comentam à DW. Eles trabalham num crematório hindu em Turbhe, nas cercanias de Mumbai, no estado indiano de Maharashtra.
Gautam e Arvind foram informados pelos parentes que não se trata de uma morte provocada por coronavírus. O atestado de óbito, no entanto, dá como causa da morte choque séptico causado por síndrome do desconforto respiratório agudo, que frequentemente mata pacientes de covid-19.
Após a morte, os familiares não realizaram o teste de RT-PCR para detectar a presença do vírus. Em vez disso, simplesmente informaram os funcionários do crematório que um exame feito pelo paciente seis dias antes do óbito dera negativo.
Os trabalhadores do local começam então a preparar a pira para o corpo. Ele chega 30 minutos depois numa ambulância. Há uma clara violação do protocolo da covid-19, com pelo menos 30 presentes para o funeral, enquanto o governo de Maharashtra prescreve que apenas 20 podem comparecer a tais eventos.
Os funcionários do crematório dizem à família que deve seguir as orientações do governo, mas são pressionados. “Tentamos o máximo possível seguir todas as diretrizes do governo. Mas se a família nos bate ou nos ameaça, não há muito a fazer. Somos só cinco contra 20 a 30”, explica um funcionário que não quer ser identificado.
Arvind conta ter havido muitos casos em que cremaram um corpo e, vários dias depois, foram informados de que a causa mortis fora covid-19. “É como se estivéssemos literalmente brincando com nossas vidas e não houvesse ninguém para nos proteger. Se apresentarmos sintomas de covid e tentarmos ser internados num hospital, vamos ser rejeitados como ‘sujos’.”
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