
Macau tem o péssimo vício de pensar que todos os males lhe passam ao lado. Como se um escudo divino que protegesse a cidade – até de si própria. As circunstâncias históricas e políticas, a geografia e o Jogo criam mantos de ilusão que mais uma vez se revelam na recusa generalizada da vacina.
A pandemia está controlada. Em grande parte pela eficácia do Executivo, disciplina da população e controlo das fronteiras. Mas não há bela sem senão… Selar a cidade criou uma bolha de segurança sem a psicose do isolamento individual, mas também a falsa zona de conforto à espera de que o vírus morra no resto do mundo. No Brasil, o negacionismo multiplica valas comuns; na Europa, luta-se corpo a corpo por vacinas a conta-gotas; em África, a pobreza fica entregue a si própria… e em Macau, onde há vacinas para todos, poucos a querem, porque o vírus é dos outros…
A crise não é só pandémica. É também económica, social, psicológica – até de identidade.
A crise não é só pandémica. É também económica, social, psicológica – até de identidade. Porque Macau, cidade aberta, não é feliz fechada sobre si própria. É preciso reabrir fronteiras – de forma gradual controlada – religar a economia, reconquistar a mobilidade. O que implica imunidade de grupo. E essa consciência não pode ser só do Executivo – tem de ser também das pessoas.
Um pouco por todo o mundo a Covid-19 revela a infantilização coletiva. Uns paralisam com medo do vírus – outros com medo da cura. Não há vida sem riscos. É preciso saber medi-los, agir, decidir… No fundo, reaprender a viver, em todas as suas dimensões.
A ciência está a dar resposta – mais lenta do que o desejável, mais rápida do que se temia. A política nem por isso – tateia entre a gestão do risco e a psicose da segurança. As empresas e as pessoas esperam por um mundo que não volta mais… Uma coisa sabemos: a vacina faz parte da solução – não do problema.
*Diretor-Geral do Plataforma