Kagome é a primeira grande empresa japonesa a cortar laços com a região por causa da questão uigur.
A principal produtora de ketchup japonesa, Kagome, parou de importar tomates de Xinjiang, na China, juntando-se às crescentes marcas ocidentais que pararam de fornecer materiais da região por conta de alegados abusos contra os muçulmanos uigures.
A Kagome suspendeu a importação de pasta de tomate cultivada em Xinjiang, usada em alguns dos seus molhos, no ano passado. Os tomates que já foram importados vão se esgotar até o final deste ano.
Aliados aos custos e qualidade, “os problemas de direitos humanos tornaram-se um fator na tomada de decisões”, disse um representante da Kagome.
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Acredita-se que a Kagome seja a primeira grande corporação japonesa a parar de fazer negócios com a região por causa da questão uigur. Uma série de marcas ocidentais populares, incluindo H&M e Nike, pararam de comprar materiais feitos na região, o que por sua vez gerou uma reação negativa dos consumidores chineses.
O impacto nas operações da Kagome parece mínimo. A aquisição de tomates Xinjiang, que são enviados em pasta, tem diminuído nos últimos anos. Os tomates Xinjiang representam atualmente menos de 1% dos tomates utilizados pelo grupo. A produção será substituída por tomates de outras nações, e não haverá impacto na produção.
A Kagome sempre divulgou no seu site que produz matérias-primas em Xinjiang. A empresa realiza visitas regulares às fábricas e campos e “confirmou que os tomates usados no passado não eram produzidos num ambiente que violava os direitos humanos”, disse um representante da companhia.

A China foi o maior produtor mundial de tomates em 2019, fornecendo 62,76 milhões de toneladas, ou cerca de 35% da produção global, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
A região de Xinjiang, em particular, é ideal para o cultivo de tomates, devido à grande quantidade de luz solar no verão e à diferença de temperatura entre o dia e a noite.
Investidores e grupos de direitos humanos têm pressionado as empresas por causa dos abusos contra os uigures. O Interfaith Center on Corporate Responsibility, um grupo de defesa dos acionistas dos EUA, pediu no mês passado que 47 empresas suspeitas de usar fornecedores envolvidos em trabalho forçado em Xinjiang revelassem detalhes sobre as suas operações.
A lista de empresas inclui Alphabet, Apple, Volkswagen e Fast Retailing, que alberga a japonesa Uniqlo. Kagome não foi nomeada.
Para as empresas que dependem da China para uma grande parte da receita, tomar uma posição contra os abusos relatados traz o risco de um retrocesso na segunda maior economia do mundo. Ao mesmo tempo, a continuidade das operações na China inalteradas pode levar críticos do Ocidente a declarar que uma empresa é insensível às questões de direitos humanos.
A fabricante sueca de roupas H&M anunciou em setembro que encerraria a colaboração com uma produtora de fios chinesa. A decisão teve um custo: desde o mês passado, os produtos da H&M não podiam ser pesquisados no mercado online do Alibaba Group Holding.
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A Kagome exporta sumo de vegetais feito no Japão, entre outros produtos. O continente chinês, porém, responde por apenas 0,4% das vendas do grupo. Além do fato de que os tomates Xinjiang podem ser facilmente substituídos. Kagome está numa posição mais confortável para cortar relações com a região.