Israel realiza nesta terça-feira (23) as quartas eleições em menos de dois anos, com o país dividido a respeito da pergunta que deixou o país em uma profunda crise política: o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, julgado por acusações de corrupção, mas idealizador da campanha de vacinação anticovid, deve permanecer no governo ou sair?
Os locais de votação abriram às 7H00 (2H00 de Brasília) e o processo prosseguirá até 22H00 (17H00 de Brasília). Alguns minutos depois serão divulgadas as primeiras pesquisas de boca de urna.
“Espero que sejam as últimas eleições”, disse Netanyahu depois de votar em Jerusalém, confiante que o país sairá do bloqueio político.
A favor ou contra “Bibi”? (como é chamado Netanyahu em Israel). Esta continua sendo a grande pergunta da novela política que parece eterna. Mas para esse quarto episódio os atores são diferentes.
O general Benny Gantz, rival de Netanyahu nas três eleições anteriores, muito disputadas, perdeu popularidade depois de anunciar um acordo no ano passado com seu antigo adversário para formar um governo de “urgência” diante da crise de saúde.
– Laboratório do mundo –
O governo de união nacional implodiu em dezembro e pouco depois Netanyahu iniciou uma intensa campanha de vacinação graças a um acordo com a gigante farmacêutica Pfizer: milhões de doses foram fornecidas ao país em troca de dados biomédicos sobre os efeitos da vacina anticovid-19.
De fato, Netanyahu, de 71 anos e que passou os últimos 12 no poder, concentrou a campanha eleitoral no sucesso da vacinação em Israel, onde quase 50% da população recebeu as duas doses, o que representa quase dois terços dos eleitores.
Desta vez, os principais rivais de Netanyahu nas urnas são o centrista Yair Lapid, Gideon Saar, ex-integrante do partido de Netanyahu, e o líder da direita radical Naftali Bennett, seguidos por uma dezena de partidos que, segundo o sistema proporcional israelense, precisam obter pelo menos 3,25% dos votos para entrar no Parlamento.
“Este é o momento da verdade”, disse Lapid, depois de votar em Tel Aviv.
“Aqui há apenas duas opções: ou o Yesh Atid (seu partido) ganha força ou teremos um governo tenebroso, racista e homofóbico”, acrescentou.
As pesquisas mais recentes apontam a liderança do Likud (direita) de Netanyahu com aproximadamente 30 cadeiras das 120 do Parlamento, seguido pelo Yeh Atid (20). Os partidos de Saar e Bennett obteriam 10 cada.
Para alcançar a maioria necessária de 61 deputados e conseguir formar o governo, Netanyahu espera estabelecer uma aliança com a direita religiosa, mas também, pela primeira vez, com a extrema direita.
Yair Lapid conta com um acordo com partidos de esquerda e do centro, mas também com parte da direita decepcionada com o primeiro-ministro.
Cercado de seguranças e com a máscara de proteção, Netanyahu visitou de modo surpreendente na segunda-feira o mercado central de Mahane Yehuda em Jerusalém, onde foi aplaudido por simpatizantes.
“Só nos faltam duas cadeiras para formar o governo”, disse. “Votem no Likud”.
– “Bye Bye Bibi”? –
Apesar da vacinação e da reabertura do comércio, os partidos não conseguiram organizar grandes comícios e a campanha aconteceu sobretudo nas redes sociais. Cada formação se esforçou para convencer sua base de superar o “cansaço eleitoral”, após três votações.
Diante do trunfo da vacinação usado por Netanyahu, a oposição usou o argumento do julgamento contra o primeiro-ministro por “corrupção”, “fraude” e “abuso de poder”, que começou há alguns meses e que alimenta um movimento de protestos, que acontecem a cada sábado no país há 39 semanas.
No sábado à noite, milhares de pessoas se reuniram em Jerusalém aos gritos de “Yalla (vamos) saia Bibi” ou “Bye Bye Bibi”.
Nas últimas três eleições, o líder do partido nacionalista laico Israel Beitenu, Avigdor Lieberman, se negou a declarar se aceitaria uma coalizão pró ou anti-Netanyahu, mas desta vez é Naftali Bennett quem parece ter o poder de fazer a balança inclinar para algum lado.
Seu apoio poderia permitir que um grupo alcance a maioria de 61 deputados.
Bennett não revelou suas intenções: ele critica a gestão de Netanyahu e, ao mesmo tempo, se mostra próximo a sua ideologia.
No domingo, Bennett assinou uma declaração que garante que não integrará um governo de Lapid, mas sem assegurar apoio a um governo com Netanyahu.