Timor-Leste deverá receber as primeiras vacinas contra a covid-19 no início do segundo trimestre do ano, tendo que avançar com os preparativos logísticos da vacinação, disse hoje o responsável da ONU no país
O coordenador residente da ONU em Timor-Leste, Roy Trivedy, disse à Lusa que o primeiro lote corresponde a cerca de 3% do programa total de vacinação, sendo dirigido essencialmente a funcionários da primeira linha e pessoas mais vulneráveis.
Este lote e um segundo, até 20% do total das necessidades do país e que só chegará mais tarde, serão garantidos através do Covax, fundo multilateral que visa financiar até 20% da vacinação dos países elegíveis.
“Depois, o país terá que comprar ou conseguir apoio de doadores para os restantes 80% que, no caso de Timor-Leste, deverá ocorrer como o apoio do Governo australiano”, disse.
O Governo timorense anunciou que prevê iniciar em maio a vacinação, recorrendo à vacina AstraZeneca, e visando, inicialmente, funcionários do setor da saúde e cidadãos mais vulneráveis.
A escolha recaiu sobre a AstraZeneca por ser considerada “a vacina mais apropriada para Timor-Leste”, dado que pode ser preservada em frigoríficos, entre dois e oito graus centígrados.
Independentemente da data de chegada das vacinas, Trivedy alertou para a necessidade de o Governo trabalhar de forma intensa para “garantir financiamento para todos os componentes logísticos” da vacinação.
“Estamos a falar de duas doses a distribuir em todo o país. E isso pode demorar um ano. É preciso garantir preparação e destacamento de pessoas no terreno, armazenamento, logística, transporte, consumíveis e demais”, frisou.
Neste sentido, o Governo timorense criou já uma equipa, liderada pela vice-primeira-ministra e ministra da Solidariedade Social, Armanda Berta, para gerir todos os preparativos e a implementação do programa da vacinação.
Caberá agora ao Governo, explicou Armanda Berta, decidir quem será vacinado primeiro, tendo o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, afirmado que está preparado para ser o primeiro como “voto de confiança” na vacina como método de prevenção da covid-19.
Apesar do compromisso internacional de financiar o programa Covax, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado nas últimas semanas para o que considerou ser “uma catástrofe moral” a nível mundial se os países mais pobres continuarem sem acesso a vacinas.
Até à terceira semana de janeiro, de acordo com a OMS, os países mais ricos tinham já vacinado mais de 39 milhões de pessoas, enquanto nos países mais pobres apenas tinham sido administradas 25 doses, em concreto, na Guiné, no caso da Sputnik (russa).
Gestores do Covax anunciaram que esperam entregar as primeiras doses, mas o processo está a ser condicionado pela pressão dos países mais ricos no mercado, com acordos mais lucrativos com os produtores, o que dificulta o acesso dos mais pobres e aumenta os preços.
Também um estudo da International Chambre of Commerce, citado hoje pelo jornal New York Times, indicou que o risco de monopolizar as vacinas para as nações mais ricas pode levar a uma “catástrofe humanitária” com o impacto económico a sentir-se em todo o mundo.
Timor-Leste tem atualmente 17 casos ativos no país, com um total de 67 casos desde o início da pandemia, dos quais 50 recuperaram.
O país está atualmente no nono período de 30 dias de estado de emergência, com restrições à entrada e quarentena obrigatória, entre outras medidas.
O Governo pediu já ao Presidente timorense a renovação do estado de exceção por mais 30 dias até ao início de março.
O Ministério da Saúde adiou indefinidamente um programa de testes, que devia começar hoje.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.121.070 mortos resultantes de mais de 98,6 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.