Início Lusofonia Sidney Quintela: “Sou um arquiteto da CPLP”

Sidney Quintela: “Sou um arquiteto da CPLP”

Arsénio Reis

Nasceu em Feira de Santana, no interior do estado brasileiro da Bahia, hoje vive em Cascais, mas o seu gabinete de arquitetura está presente no Brasil, em Moçambique e em Portugal.

Sidney Quintela, formou-se em 1998, abriu o seu gabinete de arquitetura no ano seguinte, em Salvador da Bahia e aos 23 anos já projetava edifícios, como a casa do músico Caetano Veloso.

Hoje, 23 anos depois, o escritório de Sidney Quintela está entre os 10 maiores do Brasil e já marca presença em Maputo e em Lisboa. Aos 46 anos o arquiteto mudou-se para Portugal e é a partir deste canto da Europa que dirige uma equipa com mais de 50 profissionais da área. O próximo passo poderá ser em direção ao Oriente, com entrada por Macau.

Portugal, a nova casa

A janela do escritório abre para o rio Tejo e tem como fundo a Ponte 25 de Abril e o Cristo-Rei. E é no Cais do Sodré, no coração de Lisboa, que Sidney Quintela assume a sua paixão por Portugal e pela capital portuguesa. “A minha relação com Portugal e com os portugueses me fez bem, como pessoa. O diálogo com uma cultura e uma forma de estar diferente da minha só me engrandeceu como pessoa”, diz confessando o seu estado de enamoramento.

O arquiteto sublinha que há traços comuns entre Salvador da Bahia, a cidade onde começou a sua aventura profissional, e Lisboa. Sidney diz “amar Salvador e agora também Lisboa”.

Provavelmente a ascendência portuguesa, dele e da mulher, os dois com dupla nacionalidade, ajudou a tomar a decisão de mudar a casa de família para Portugal. Mas não foi isso que o motivou – anos antes – a virar as atenções para Lisboa. “O objetivo inicial era estar próximo de quem estava a investir no Brasil, que em 2005, eram portugueses e espanhóis, sem ter uma pretensão de ter escritório, ou carreira internacional. Queria apenas consolidar os clientes portugueses que queriam investir no Brasil de forma mais eficaz”, explica.

A opção revelou-se acertada. Veio a crise do ‘subprime’, a partir de 2008, com várias empresas internacionais a fecharam portas na capital portuguesa. A opção de Sidney Quintela foi diferente, escolhendo fechar o escritório de São Paulo, para não fechar em Lisboa. “A minha opção foi, eu prefiro ficar em Lisboa do que estar em São Paulo. Foi uma opção de vida”, reconhece.

Só mais tarde, em 2013, começou a planear a mudança da família para Portugal. Não mudou apenas pelo negócio. A carteira de clientes no Brasil continua a ser mais relevante do que a que vem conquistando em Portugal. Apesar de estar a crescer nesta nova aposta.

Então porquê mudar?

“Eu vim para Portugal para buscar qualidade de vida, segurança, não no sentido de estabilidade, mas sim de liberdade, cidadania. Proporcionar às minhas filhas que são pequenas a sensação da liberdade, diz, explicando que quando se “nasce num país com um problema grave de insegurança perde-se a liberdade” e que “não ter liberdade à conta da insegurança é difícil”.

Até esta mudança passava uma semana por mês em Portugal, hoje inverteu esse ciclo e passa uma semana por mês no Brasil. Feitas as contas até pode parecer mais barato viver no Brasil, “mas no fim do dia é mais barato viver em Lisboa”.

“Para viver em Salvador com o conforto, condições e segurança que há aqui em Lisboa, tem de se gastar muito dinheiro. Seguro de saúde é muito caro, segurança pessoal e patrimonial é muito caro, andar de carro blindado… é bastante mais caro lá”, detalha.

A mudança foi concretizada há pouco mais de um ano, mas a decisão final tinha sido tomada em 2014. Nesse ano, quando veio batizar Fátima, a filha mais nova, ao Santuário da Cova da Iria, trouxe vários convidados do Brasil. No dia do batizado, já em Lisboa, estava na Avenida da Liberdade com a sua outra filha, a mais velha, que lhe pediu para darem um passeio. “Peguei na mão dela e fomos descendo a avenida. A determinada altura ela perguntou a que horas é que íamos chegar ao shopping”, conta. Respondeu que não iam ao centro comercial, ao que a filha retorquiu, estranhando a situação, “mas a gente não vai passear”. Foi aí que percebeu que a filha com 4 anos “nunca tinha passeado numa rua” Nesse dia ficou decidido que vinham morar para Portugal.

Por tudo isto Sidney Quintela, diz meio na brincadeira que é “um arquiteto da CPLP”. Ao Brasil e Portugal juntou Angola, onde começou a fazer alguns projetos e onde mantem frentes de negócio. Mais tarde rumou a Moçambique, onde nesta altura tem escritório aberto. A sua tese de mestrado, defendida em Portugal, assenta num projeto real que desenvolve em território moçambicano. Projeto que está a arrancar agora. “Arquitetura como ferramenta para o desenvolvimento humano”, o projeto/tese de Sidney tem por base uma linha de respeito pela cultura local. “A arquitetura não se nota nas zonas onde está a ser implementada”, diz, explicando que usam materiais e lógicas locais. “Não se pode fazer uma escola com impacto em determinada zona, sem enquadramento, porque depois os mais novos podem não a querer frequentar”, justifica.

Arquiteto Psicólogo

Sidney Quintela defende uma “arquitetura destinada às pessoas” e com “características que respeitam a cultura local”, pois é “destinada aquelas pessoas em concreto”. Lembra que não se pode fazer um projeto de arquitetura para um suíço igual ao que se faz para um angolano. “Para um deles será a arquitetura errada”. Assume que a arquitetura “pode ser boa, mas não o será para aquela pessoa, aquela família, ou aquela sociedade” é que é fundamental ter tudo isso em cima do estirador, ou no monitor do computador, quando se avança para uma nova proposta. Por isso defende que é preciso conhecer bem o cliente. “Se eu for fazer uma casa para você, eu vou falar com você, até ao ponto em que quase sei mais sobre você do que você mesmo. É quase um trabalho de psicologia. Só puxando o que está dentro de você é que a casa terá uma ligação sensorial consigo”, argumenta.

Faz 200 projetos por ano no Brasil, aqui em Portugal tem uns 15, com uma dimensão considerável. O edifício “Nouveau”, na Avenida de Berna, no centro de Lisboa, mas também o “Vivere”, no Jamor, em Oeiras, são dois exemplos. Também assinou a renovação do restaurante do Hotel Tivoli. Tem um outro empreendimento em construção em Oeiras, mais um em Cascais, ainda outro no Estoril. Está a requalificar um hotel no Algarve e presente nos Açores, num outro hotel.

E o futuro?

Pode ser a Oriente diz Sidney Quintela. “Tenho uma loucura para fazer alguma coisa na Ásia. Gosto muito da Ásia”, explica. Considera que os asiáticos vivem de outra forma e que o que eu faz “é tentar entender e conhecer essas diferenças e colocar o trabalho que faço ao serviço dessas diferenças”.

Questionado sobre qual poderia ser a porta para o continente asiático, o “arquiteto a CPLP” diz que há uma entrada óbvia – Macau. “Fala a minha língua, está na CPLP, tem uma identidade razoavelmente mais próxima”, enumera. Ainda assim arrisca outros destinos, revelando que já fez “incursões nos Emirados Árabes – há dois anos – e gosto muito de Banguecoque, na Tailândia”. “Gosto de conhecer realidades diferentes e enfrentar desafios novos”, o que implica fazer coisas diferentes. “Até agora só não fiz cemitério, mas quero fazer, porque acho que cemitério não precisa de ser uma coisa tão triste como é. Essa passagem é feita de uma forma muito deprimente e podia não ser assim”.

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