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O Estado Eleitoral

Hugo CarvalhoHugo Carvalho*

A ideia de que o Estado não deve ser um corpo estranho à economia sempre colheu o apoio da maioria dos portugueses. Foi essa forma de garantir o desenvolvimento, a liberdade e o equilíbrio social que tirou país do analfabetismo, que generalizou o acesso a cuidados de saúde, que aumentou a proteção social, a esperança média de vida, as acessibilidades e a abertura ao mundo. Que garantiu que todas as pessoas que tivessem mais, pudessem contribuir para que as que tivessem menos pudessem ter as mesmas oportunidades. Não foi um Estado que estivesse em todo o lado, mas sim onde era preciso dar resposta pública, recorrendo também à sociedade civil, ao setor social e ao setor privado.

O Partido Socialista cuidou de acabar lentamente com esse Estado: foi abandonando essa ideia de equilíbrio e foi colocando mais negócios na esfera pública e mais pessoas dependentes de si, foi canalizando fundos europeus para mega projetos públicos não rentáveis, criando mais organizações, mais entidades, mais ministérios, mais serviços, mais, mais, e mais Estado. Na hora de financiar esse Estado, virou-se para fora e contraiu dívida que os meus netos ainda irão pagar, e tratou de pagar os seus juros asfixiando as pessoas e as empresas em mais impostos, taxas e contribuições extraordinárias.

Meia dúzia de orçamentos euro-comunistas, o último dos quais o PS acabou por votar sozinho, e que são na verdade a maior evidência de o PS que não quis (nem quer) saber de Estado Social. O PS quer, isso sim, saber de Estado Eleitoral


Nunca, em tantos anos, se viu o Estado Social de tal forma rendido ao Estado Eleitoral do Partido Socialista, agora capturado pela esquerda comunista que sempre colocou as pessoas depois da ideologia e a razão depois da revolução. Que sempre defendeu um Estado omnipresente em que o partido vem primeiro, para em segundo vir o país e em terceiro “o resto” da sociedade, e que agora – adepta de défice zero e de fundos europeus – consegue o orçamento com mais Estado de sempre.

A questão é que ter mais despesa estatal não significa ter mais Estado Social. Oferecer manuais escolares a todos os alunos (incluindo aos quem têm rendimentos elevados), reduzir as propinas como se têm reduzido para todos indiscriminadamente, ou acabar com as taxas moderadoras na saúde para quem as pode perfeitamente pagar, é apenas despesa estatal, e da pior que há: gasta recursos e não reduz as desigualdades, tendo na verdade o efeito contrário preverso de as agravar.

Infelizmente, não temos um plano orçamental para retirar o país da estagnação. Temos um plano orçamental para atirar dinheiro para os problemas dos sindicatos de voto da esquerda, à custa do desprezo habitual pelo privado. Mas desengane-se quem achar que é pelo privado do grande capital; porque é na verdade um desprezo por quem tem um pequeno negócio familiar, por quem trabalha por conta própria ou por quem trabalha numa PME.

Um desprezo marcado pela insistência em tratar uma pandemia com metade das forças, porque a outra metade é privada. Marcado por esmagar as empresas para dar mais subsídios sociais. Marcado por dificultar a vida no interior para a tentar facilitar nas grandes cidades. Marcado por mais dívida, mais impostos e menos futuro.

Meia dúzia de orçamentos euro-comunistas, o último dos quais o PS acabou por votar sozinho, e que são na verdade a maior evidência de o PS que não quis (nem quer) saber de Estado Social. O PS quer, isso sim, saber de Estado Eleitoral.

*Deputado do Partido Social Democrata (PSD) – Portugal

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