O que está no cimo das nossas cabeças pode dizer muito do que somos. Dá-nos autoestima, frustração, ódios e amores. Para a maioria das mulheres negras, o cabelo tornou-se a viagem de uma vida. Este é o mundo do cabelo crespo, das tranças e das extensões.
Já não é a primeira vez que Sara se olha ao espelho e não se sente bonita. “Até me custa dizer isto, mas eu só penso: ‘Que desfasada, o que é que te aconteceu? Vai alisar esse cabelo. Vai pôr umas extensões’.” A assistente de bordo alisou o cabelo pela primeira vez aos 16 anos, depois de muitas tentativas junto da mãe para ser igual às amigas, já com cabelo liso e brilhante há mais tempo. Quando desfrisou o cabelo sentiu que fazia parte do Mundo. “Até arranjei um namorado”, confidencia, entre risos. Desde cedo que as mulheres negras se habituaram a mudar a estrutura do próprio cabelo: as progenitoras ocupavam-se dos penteados quando eram crianças, mas a determinada altura só fazia sentido tê-lo de outra forma. Cabelo liso, suave, quase como seda: “Cresci nos anos 1990, as Barbies tinham todas o cabelo assim”.
Enquadrar num padrão de beleza, que muitos consideram ser o eurocêntrico, o da figura feminina com cabelo liso, fez sentido durante décadas para milhares de mulheres espalhadas pelos quatro cantos do Mundo. “É uma questão identitária, houve uma construção de um ideal, de que nós, mulheres negras, tínhamos de nos aproximar do modelo branco europeu. Daí o desfrisar o cabelo e o submeter desde muito cedo as raparigas a um processo doloroso”, explica Angella Graça, técnica superior de Recursos Humanos e presidente do Instituto da Mulher Negra em Portugal (INMUNE).
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