Início Portugal Vacina da Pfizer. “90% é um bom número, mas a prova dos nove ainda vai a meio”

Vacina da Pfizer. “90% é um bom número, mas a prova dos nove ainda vai a meio”

Susete Francisco

“Há bons indícios, mas ainda não há provas”. Miguel Castanho, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular (IMM) considera que o anúncio de que a vacina da Pfizer tem provado uma eficácia de 90% na prevenção das infeções de covid-19 é uma boa notícia – e que até pode ir mais além do combate ao Sars-CoV-2 -, mas é preciso esperar pelos resultados finais dos testes para tirar conclusões. “A prova dos nove ainda vai a meio”, adverte, sublinhando que estamos perante resultados preliminares, que ainda não foram publicados e escrutinados.

A farmacêutica norte-americana, que está a desenvolver uma vacina em conjunto com a alemã BioNTech, anunciou que entre os 43 538 participantes na terceira fase de testes foram identificados 94 casos de covid-19 positivos, uma percentagem de eficácia superior a 90%. “A proteção nos doentes foi alcançada sete dias após a segunda de duas doses e 28 dias após a primeira, segundo os dados preliminares”, avançou a empresa na manhã desta segunda-feira.

“Os dados até agora apontam para uma eficácia de 90%. É um bom número, de facto, sobretudo porque outras vacinas, alternativas, apontam para níveis de eficácia bastante mais baixos, da ordem dos 60%. Mas estamos a falar de um anúncio baseado em dados não finais”, sublinha o responsável pelo laboratório de Bioquímica de Desenvolvimento de Fármacos e Alvos Terapêuticos do IMM.

O investigador destaca que, se os resultados finais vierem confirmar o anúncio feito pela Pfizer, isso significa que há mais boas notícias a caminho – “sendo bem-sucedida é uma nova frente que se abre e é uma nova frente que tem implicações não só para esta vacina, mas também para outras vacinas futuras, como poderá até ter para medicamentos em outras áreas terapêuticas completamente diferentes”. “É o primeiro sucesso de uma nova frente de combate a várias doenças”, sublinha.

Tradicionalmente, as vacinas usam o vírus enfraquecido ou inativado para desencadear uma reação imunitária (uma opção que também está ser seguida, por exemplo, no caso da vacina chinesa). Já no caso da vacina da Pfizer e da BioNTech, o princípio de ação é diferente. “Aquilo que se utiliza é uma parte do genoma do vírus, uma parte do código genético do vírus, que está codificado em RNA (e não como está nas células, em DNA). Essa molécula de RNA vai levar a que algumas células do nosso organismo produzam uma proteína que é típica do vírus e que vai ser reconhecida pelo sistema imunitário como sendo uma proteína estranha”, explica Miguel Castanho. “Essa presença da proteína acaba por educar o sistema imunitário para reconhecê-la como algo de estranho, que deve ser eliminado. Se o sistema imunitário voltar a entrar em contacto com a proteína, desta vez porque ela está agarrada ao vírus, é desencadeada uma resposta imunitária”, conclui o professor da Universidade de Medicina de Lisboa.

A tentativa de desenvolver vacinas deste tipo “já vinha de trás” – “contra o vírus da gripe, por exemplo, ou contra o zika” – mas se se confirmarem os resultados preliminares agora avançados, esta será a “primeira vacina a ser bem sucedida com este princípio”. E há “outras a ser desenvolvidas que utilizam o mesmo modo de ação, portanto é legítimo esperar que, esta funciona e é eficaz, outras que usam o mesmo modo de ação também o serão”.

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