
Durante (quase) toda a vida, a expetativa eleitoral só começava realmente a ganhar contornos com o final do dia da votação, à medida que o círculo do tempo se fechava e obrigava ao encerramento das urnas. Era sinal que se estava a entrar naquilo que realmente importava. Os eleitores já tinham feitos as suas escolhas, através do exercício do voto, e aí estava a noite eleitoral. Sem esquecer aquela esperar de 60 minutos que separava o Continente e a Madeira da hora dos Açores. Nem uma linha, palavra ou imagem sobre resultados e tendências. No meio do Atlântico ainda se votava.
Ao bater das 20h00 saltavam as primeiras projeções, os primeiros resultados dos pequenos e pouco populosos círculos eleitorais, o nome dos primeiros eleitos. Tudo isso fazia (e felizmente faz) parte de um ritual, primeiro cívico, a acompanhar o nascimento da democracia, mais tarde transformado em obrigação por opção profissional.
Não se pode negar que a expetativa do resultado continua presente no espírito de quem segue e valoriza estes acontecimentos políticos e sociais…
A procura das curiosidades… quem ganhou na freguesia com menor e maior número de eleitores, no mais pequeno e no maior concelho, o primeiro distrito a fechar, o candidato que venceu na terra de origem do adversário, etc. Em paralelo, lá iam aparecendo os quadros oficiais com os resultados já conhecidos e as primeiras declarações políticas da noite, a partir das sedes de candidaturas.
Vem isto a propósito das presidenciais norte-americanas de ontem, terça-feira. Como é diferente “olhar” para umas eleições à distância e já debaixo da luz de um outro dia. Estranho. Eleitores ainda em fila para votar mas, à distância, visto daqui, a partir da luz de um outro dia.
Não se pode negar que a expetativa do resultado continua presente no espírito de quem segue e valoriza estes acontecimentos políticos e sociais… mas falar em dia eleitoral não tem, de todo, qualquer relação com a experiência de vida. Sim, está-se perante uma eleição e de tudo o que isso representa em termos de valores e princípios, mas é uma coisa assim para o insosso.
Saudades das noites eleitorais!
*Editor-executivo do Plataforma
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