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Cabo-verdianos favoráveis ao uso obrigatório de máscara nos espaços públicos

Ricardino Pedro

A partir de quinta-feira o uso de máscaras faciais passa a ser obrigatório em todos os espaços públicos de Cabo Verde, incluindo na via pública, o que já é seguido por muita gente, que considera a medida acertada.

“Acho que qualquer pessoa consciente deve aceitar esta medida. É boa para si e para os outros. Com certeza é uma boa medida”, avaliou à agência Lusa José Vaz, professor de 64 anos, na principal praça do Plateau, centro da cidade da Praia.

Mais conhecido por Zé di Nhanha, este antigo futebolista cabo-verdiano dá o benefício da dúvida às autoridades de Cabo Verde sobre o momento de adotar esta medida. “Não tenho nada contra”.

E se há muita gente que na rua não usa máscara, outros não usam como deve ser, outros carregam-na na mão, Zé di Nhanha garantiu que desde que a pandemia começou no país não abdica desse equipamento de proteção individual na via pública.

Como figura conhecida, o antigo futebolista disse ainda que vai usar a sua influência para incentivar o uso de máscara nas suas duas zonas, a Várzea, onde nasceu e cresceu, e em Dinós, onde mora atualmente, nos arredores de Achada Santo António, o bairro mais populoso da Praia e também o que tem mais casos de covid-19 na capital de Cabo Verde.

Além do uso de máscara, este praiense tem na ponta da língua todas as outras principais medidas de combate e prevenção contra o coronavírus, nomeadamente lavar as mãos frequentemente, usar álcool gel, praticar o distanciamento físico e evitar aglomerações.

A mesma opinião tem Shakira Embalo, residente na ilha do Sal, de passagem pela cidade da Praia, mas que não usa máscara facial enquanto está sentada num banco da Praça Alexandre Albuquerque. Mas garantiu que assim que se aproximar de aglomerados, põe a máscara.

E considerou que o uso obrigatório é bom para a saúde de todos. “Em primeiro lugar está a saúde. Para mim isso é muito importante”, afirmou, dizendo que para a proteção da saúde pública qualquer medida é acertada.

“A partir de quinta-feira, a multa não chega perto de mim, porque tenho de usar sempre”, garantiu, entre risos, esta comerciante, antes de lamentar a “situação difícil” provocada pela doença, que deixou muitos no desemprego, com destaque para o Sal, a ilha mais turística do arquipélago.

“O Sal está triste porque não há trabalho. Muitas pessoas voltaram para as suas ilhas e só quem tem coragem é que ficou, bem como os filhos do Sal”, descreveu Shakira Embalo, pedindo ajuda divina para acabar com a doença, que já matou perto de uma centena de pessoas no país e infetou cerca de nove mil.

Mais à frente, Jair Semedo, 25 anos, acaba de “amarrar” a sua bicicleta a uma das árvores na rua pedonal antes de entrar no mercado, no Plateau, um dos locais mais movimentados da Praia.

Ainda não colocou a máscara, mas garantiu que o faz sempre que entra em lojas e espaços com muita gente, um comportamento que, disse, vai reforçar a partir de quinta-feira.

Até porque, justificou, os casos têm aumentado em todo o lado, com destaque para a Europa, e Cabo Verde também está a atravessar uma “fase difícil”, que deve consciencializar a todos sobre a questão da proteção, principalmente das crianças, jovens e idosos.

Para este praiense, o uso obrigatório de máscara na via pública devia ter sido adotado mais cedo, lembrando que nos 15 dias de campanha para as eleições autárquicas de 25 de outubro o país assistiu a aglomerações e desrespeito pelas regras por parte das candidaturas e dos partidos.

“Não se respeitou nada, nada, nada, relativamente ao uso de máscara e distanciamento social. Todos nós estamos no mesmo barco, mas não respeitámos. Vamos entrar numa nova fase, com uma nova lei e espero que todos respeitem”, apelou.

A fiscalização da medida é uma das preocupações de Jair, morador no bairro da Fazenda, entendendo que não vai ser a 100%, mas apelou à população para que tomar todos os cuidados necessários antes de ser repreendida pela polícia.

Num outro ponto da cidade da Praia, no Sucupira, o maior mercado informal e aberto de Cabo Verde e também de grande movimentação de pessoas, Bernardino Lopes Correia não está a usar máscara enquanto espera por passageiros para encher o seu carro e seguir viagem para o Tarrafal, o concelho mais a norte da ilha de Santiago, de onde é natural.

Disse que deixou a máscara no carro porque o sufoca, mas sabe que a partir de quinta-feira tem de estar a tapar a boca e o nariz, não só quando está na ‘hiace’, viatura de transporte público intermunicipal, mas também na via pública.

“Acho que é uma boa medida. Se todos usarem máscaras já podemos transportar três passageiros por cadeira”, entendeu o condutor, de 48 anos, recordando a reivindicação dos motoristas deste transporte público numa manifestação realizada em 19 de outubro.

Conforme a lei promulgada pelo Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, a partir de 05 de novembro passará a ser obrigatória a utilização de máscara para quem circula ou permanece em todos os espaços públicos do arquipélago.

O diploma foi aprovado em 16 de outubro, por unanimidade dos deputados da Assembleia Nacional como forma para conter a transmissão de covid-19, cuja violação prevê multas até 135 euros.

Ficam de fora desta obrigação os menores de 10 anos e pessoas com problemas de saúde, numa medida válida “enquanto estiver em vigor” o estado de contingência ou calamidade em Cabo Verde, decretados desde março devido à pandemia de covid-19.

Este regime vai substituir o que estava em vigor desde 02 de setembro, cujo decreto-lei estipulava o uso de máscara facial nos espaços públicos como um “dever cívico de todos os cidadãos”.

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