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Religiosos revelam esquema de lavagem de dinheiro da IURD em Angola

De acordo com uma notícia avançada pela Intercept Brasil, a igreja de Edir Macedo (IURD) transportava dinheiro de fiéis angolanos em sigilo para África do Sul e Brasil.

Instalada em mais de 90 países, a IURD tem cerca de 500 mil fiéis em Angola, segundo informações da própria igreja.

A primeira denúncia de uma rota de transporte de dinheiro foi feita há quatro anos pelo ex-bispo Alfredo Paulo Filho, responsável pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Portugal entre 2002 e 2009. No ano de 2013, rompeu com a Universal e passou a publicar vídeos no youtube onde denuciava vários aspetos da igreja.

No entanto, por falta de provas concretas na altura em que os vídeos começaram a ser divulgados, as autoridades não deram muita importância ao assunto. Agora a situação é diferente.

Em Angola, surge um movimento intitulado de Reforma – grupo de religiosos ligados à igreja, que entretanto também romperam com o líder da IURD, Edir Macedo. O grupo reforça as acusações e revela, pela primeira vez, detalhes da suposta rota de remessas provenientes do continente africano para o europeu.

Como funcionava o transporte?

Pelo menos duas vezes por ano, pastores brasileiros da IURD em Angola teriam de transportar dinheiro com origem em dízimas e ofertas para a África do Sul. O montante seria transportado de carro e, geralmente, deslocavam entre 4 a 6 milhões de dólares por viagem. As notas seriam escondidas em malas, pneus ou no forro de veículos.

A missão era reservada apenas ao pastores brasileiros, por serem mais próximos da cúpula da igreja. Religosos angolanos afirmaram que não tinham acesso às contas da Universal. A transferência de recursos não declarados é ilegal logo, segundo os religiosos, seria uma maneira de retirar os recursos do país e redirecioná-los para irrigação do império de Edir Macedo, em específico, para o seu braço europeu.

Colheita

O ex-bispo Alfredo Paulo afirmou que o transportes do dinheiro até à África do Sul ocorreriam após uma das maiores campanhas de recolha da Universal, a chamada Fogueira Santa de Israel. Os verdadeiros crentes chegam a doar todo o salário e bens pessoais para provar a sua fé.

Alfredo Paulo revelou que o dinheiro de Angola era levado para Portugal e, dali, o fluxo continuava para países como os EUA e Reino Unido, onde ajudava a manter as operações da TV Record na Europa. Segundo o ex-bispo, o próprio Edir Macedo recolheria as remessas no seu jato particular. O líder da IURD, que tem passaporte diplomático, desembarcaria em Portugal para depois seguir para a África do Sul, de onde voltava carregado. Alfredo Paulo seria o responsável por pegá-lo no aeroporto em Portugal. “Eu ia pegar o dinheiro. Pegava a mala, metia dentro do carro e levava. Ficava lá em casa”, constatou.

O dinheiro ficaria em casa de Alfredo até ser depositadp numa agência do banco BCP, como se fosse oriundo de dízimos de fiéis portugueses. Depois, “o dinheiro saía para os Estados Unidos, para o Reino Unido e para a Record”. O ex-bispo calcula que a Record da Europa receberia cerca de 500 mil euros ao mês da operação.

“A minha prova sou eu. Participei e vi com os meus olhos. Se eu tirasse fotos, não ia chegar aonde cheguei na igreja”, declarou à Folha de S.Paulo.

A Universal negou tudo e chamou o dissidente de “mentiroso”. Em comunicado ofical, a IURD declarou confiança na justiça brasileira para revelar a verdade.

Batalha, Valente Luís e Tavares Cassinda, religiosos angolanos entrtanto afastados da IURD revelham ainda mais detalhes. Segundo eles, houve o caso de um pastor brasileiro chamdo Abel que morreu num acidente de carro em 2016, na África do Sul. Na viagem de carro, transportava consigo dinheiro de origem angolana para o país vizinho. Segundo Tavares Cassinda, outro religioso estava ao volante quando se sucedeu o acidente, que fugiu sem prestar socorro. “Depois incriminaram o Abel. Disseram que ele estava roubando a igreja”, contou o ex-pastor, agora youtuber.

Felner Batalha relata outro método utilizado para tirar o dinheiro de Angola. Grupos de até 100 pastores, acompanhados das suas esposas, carregariam em dinheiro o valor permitido por lei para as peregrinações ao Templo de Salomão, em São Paulo, e a Israel, Moçambique e África do Sul. A dado momento, “o cidadão angolano podia sair com 15 mil dólares, e o estrangeiro com até 10 mil. Depois, esse valor foi reduzido para 10 mil dólares para cidadão nacional e 5 mil para cidadão estrangeiro”, explicou o bispo à Intercept. “Quando chegavam no país de origem, esse valor era recolhido e entregue a uma pessoa específica. Em Israel e no Templo de Salomão tiveram peregrinações com 100 pastores”.

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